segunda-feira, fevereiro 7

CORSÁRIOS E PIRATAS PORTUGUESES (video)



NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE NÃO HÁ PAÍSES IMPOLUTOS... ÀS VEZES COMPORTAM-SE COMO CRIANÇAS LADINAS, IRREQUIETAS E CRUÉIS.   

A diferença entre um pirata e um corsário consiste apenas no pormenor de que o pirata saqueava por conta própria e o corsário sob o mando e contrato de um Rei, conceito que perdura ainda na actualidade para os guerreiros mercenários.
Embora os piratas tivessem uma forma muito característica de distribuição dos bens saqueados, actuando por consenso comum, digamos, democraticamente, também o seu comandante se mantinha no seu posto de comando enquanto a tripulação lhe reconhecesse o devido valor pois quando o perdesse podia der morto ou abandonado numa ilha deserta à sua sorte. 
A pirataria nos mares é praticada desde a antiguidade, embora tenha sido a partir do século IX que adquiriu enormes proporções, tendo atingido a sua "época de ouro" entre os séculos XV e XVIII. Os piratas actuavam à margem da lei, muitas vezes atacavam navios do seu próprio país ou de outros piratas. No seu próprio navio a selecção mantinha-se pela luta em duelo, quando havia conflitos a resolver, que podia ir até à morte. Os piratas mantinham, rigidamente entre eles, um código de conduta que não podia ser ultrapassado. 
O Corso, isto é, a pirataria autorizada por um Estado atingiu o apogeu nos séculos XVI e XVII. Foi até ao século XIX uma forma dos estados possuírem uma "marinha de guerra" sem custos, concedendo o direito a particulares de se apossarem dos navios e saquearem as povoações dos seus inimigos.  O Corso desde o século XIV que estava regulamentado em muitos reinos europeus, como Portugal. Muitos corsários tinham a sua origem da pirataria, homens habituados à luta e dureza do mar, obtendo assim o perdão Real.  
Os vikingues eram um povo, uma organização de bandidos que se dedicavam a saquear e a matar (aniquilar) as povoações das orlas marítimas. As suas principais bases estavam localizadas na Suécia (Birka, Gotland), Noruega e na Dinamarca, onde acumularam enormes tesouros.  
Entre os séculos IX e X lançaram o terror não apenas no Norte da Europa, mas também na Península Ibérica e em todo o Mediterrâneo. Nos séculos XI e XII foram destruídos pelos novos reinos cristianizados e, no seu seio pela sua própria cristianização.
A expansão e domínio pelos povos islamizados da costa Oriental e Sul do Mediterrâneo irá permitir a criação da mais poderosa organização de piratas e corsários que o mundo jamais conheceu. 
Desfrutando de uma extensa costa debruçada sobre o Atlântico, pontuado por muitos portos estratégicos para o comércio marítimo, era natural que Portugal fosse ao longo dos séculos uma das principais vítimas dos piratas e dos corsários.  
A história que está feita incide sobretudo na descrição de ataques de piratas, escravatura e resgates de portugueses. Conhece-se relativamente bem as inúmeras acções punitivas contra os mesmos, nomeadamente no Oriente, mas muito pouco se sabe sobre a longa e surpreendente história dos piratas e corsários portugueses.
Ao contrário dos ingleses e franceses, estes corsários e piratas portugueses, nunca foram assumidos como heróis, sendo sempre encarados como  personagens incómodas na suposta “Missão de Portugal no Mundo”, e nesse sentido são omitidos na História de Portugal.
No Século XII, desde o reinado de D. Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal, que temos conhecimento dos primeiros piratas e corsários portugueses. O mais célebre de todos foi Fernão Gonçalves Churrichão, o Farroupim, mais conhecido por D. Fuas Roupinho. Comandava uma frota que atacava os navios de muçulmanos, nomeadamente os sediados em Ceuta, tendo morrido num combate ao largo da costa algarvia.
A partir da década de 70 do século XII, José Mattoso, afirma que passou a existir em Portugal "uma frota marítima capaz neutralizar a pirataria muçulmana e de assolar as povoações costeiras do litoral algarvio e andaluz"
No Século XIV, no início do século organiza-se em Portugal de modo sistemático as actividades de corso. Em 1317, o rei D. Dinis, contrata o genovês Manuel Pessanha para actuar nas costas de Portugal, em particular no Alentejo e Algarve. Pessanha ensina os portugueses a atacarem navios inimigos utilizando galés,  os navios a remos que eram utilizados no Mediterrêneo. No século seguinte, os portugueses passam a usar barcos à vela com canhões, uma enorme inovação tecnológica.
No Século XV, os portugueses eram já considerados os maiores piratas e corsários da cristandade. A actividade era extremamente lucrativa, à qual se dedicava a nobreza e a família real. Era uma actividade considerada nobre e honrada, sobretudo quando dirigida contra infiéis. O Infante D. Henrique, por exemplo,  tinha navios no saque. A conquista de Ceuta, em 1415, a que se seguiu outras cidades como Alcácer Seguer (1458), Arzila ou Safim, permitiu aos portugueses não apenas controlar o Estreito de Gibraltar, mas também criar no Norte de África um poderoso centro para a pirataria e o corso. Ceuta só foi abandonada em 1640 pelos portugueses, quando perante a guerra com a Espanha se tornou inviável manter esta praça armada.  
Entre os muitos corsários do século XV, destaca-se Pedro de Ataíde,  fidalgo da Casa Real, era um verdadeiro  terror dos mares. Era conhecido por "O Corsário" ou  "O Inferno". Está ainda por fazer a sua história. Sabe-se que por volta de 1470, andava a atacar navios bretões e de S. Malô, mas também nas costas da Andaluzia. Em 1471/72 comandou uma armada à Guiné. Em Julho de 1476 era capitão de armada ao serviço do rei. Morreu um mês depois quando estava envolvido numa batalha contra navios genoveses e flamengos ao largo da Costa do Cabo de S. Vicente (Sagres).
O século XV é uma verdadeira época de ouro dos corsários e piratas portugueses, que não apenas percorrem todo o Atlântico, mas nada lhes escapa também no Mediterrâneo.  
No século XVI,  os portugueses praticam em larga escala a pirataria no Oriente, numa guerra sem quartel, nomeadamente contra os muçulmanos. Entre os mais conhecidos piratas portugueses do Oriente, conta-se o fidalgo Simão de Andrade que entre muitas outras façanhas contam-se os saques que praticou na China (1519). A literatura portuguesa da época, como a Peregrinação (1583) de Fernão Mendes Pinto, contém inúmeros relatos destas acções de pirataria.  
O aumento do comércio marítimo através do Atlântico fez disparar o número de barcos corsários, sobretudo os franceses e os muçulmanos (Norte de África). Para se ter uma ideia basta dizer que entre 1508 e 1538 registam-se 423 aprisionamentos de navios portugueses por parte do corso francês (cf. O Grande Livro da Pirataria e do Corso, de Ramalhosa Guerreiro).
No final do reinado de D. Manuel, foi criada uma Esquadra do Estreito cuja função era a de proteger a navegação que cruzava a entrada do Mediterrâneo, os portos do Algarve e as praças africanas, dos diversos tipos de corso que assolavam esta zona.  D. João III endurece também a repressão, provocando sobretudo da parte dos franceses constantes protestos. Foram diversas medidas de protecção, nomeadamente obrigando os navios comerciais andarem em comboios, protegidos por navios de guerra. 
Na segunda metade do século XVI tornam-se cada vez mais frequentes os relatos de portugueses que estão ao serviço de outros piratas e corsários. A sua longa experiência dos mares permite-lhes levá-los ao coração do Império Espanhol. Um dos casos mais célebres, mas não único, foi o caso do piloto Nuno da Silva, capturado em Cabo Verde por Francis  Drake. Foi um dos dois pilotos portugueses que o conduziu na travessia do Estreito de Magalhães e depois às costas do Perú para saquear os espanhóis, permitindo-lhe depois circundar o mundo (1578). No regresso terá parado em Lisboa, onde aliás voltaria anos depois ao serviço do Prior do Crato. O embaixador espanhol em Londres escreveu a Filipe II: "el Draques afirma que si no fuera por dos pilotos portugueses que tomó en un navío que robó y hechó a fondo en la costa del Brasil a la yda no pudiera” “haver echo el viage. Ha dado a la Reyna un diario de todo lo que le ha sucedido en los tres años y una gran carta” (Carta de Bernardino de Mendoza a Filipe II, 16/10/1580). A Espanha era um poderoso Império Ultramarino, onde o Sol nunca se punha. 
O Ducado da Jamaica, atribuído aos descendentes de Cristovão Colombo, os portugueses eram em tal número que as ilhas passaram a ser conhecidas por "Portugals". Os corsários portugueses estabeleceram nelas uma base para atacarem os barcos espanhóis que vinham das Índias, e depois de 1580, entregaram-nas ao ingleses.
No final do século (1580-1640)  quando Portugal é ocupado pela Espanha muitos portugueses aliaram-se a corsários e piratas de outras nações para combaterem os espanhóis. Os relatos da sua acção são impressionantes, nomeadamente da forma como os conduziram (piratas e corsários contra o centro do Império Espanhol). A sua experiência e conhecimento dos mares foi decisiva para o êxito das expedições inglesas, holandesas e francesas. A vida no mar é dura e só os mais aptos a conhecedores sobreviviam.
Em 1591 um português integrava uma pequena frota de corsários ingleses nas Caraíbas, tendo procurado depois iludir uma galé espanhola ao largo de Cuba sobre a nacionalidade do navio em que seguia. No final do ano, outro piloto português embarcado no porto de Santos conduziu a expedição de Thomas Cavendish, na tentativa de atravessar o Estreito de Magalhães.
Em 1593, os espanhóis afirmam que um português serviu de guia ao corsário John Burgh nas Caraíbas que terminou no saque da ilha Margarita. Neste ano, o piloto português Diogo Peres conduz o James Langton em mais um saque aos espanhóis nas Caraíbas. No ano anterior deu falsas informações ao Governador espanhol de Santo Domingo sobre as movimentações de Francis Drake e do conde de Cumberland de modo a facilitar-lhes a pilhagem.
Na Holanda onde existia uma enorme colónia de portugueses, muitos deles dedicaram-se à pirataria e corso contra os espanhóis. Entre eles, destacam-se Simão de Cordes e o seu irmão Baltazar de Cordes, dois portugueses ou seus descendentes que foram os primeiros corsários holandeses (1598-1600). Ficaram célebres pelas pilhagens e massacres que fizeram numa colónia espanhola do Chile. 
Durante a ocupação de Portugal estes piratas e corsários atacam indistintamente possessões espanholas e portuguesas, de forma a enfraquecerem a Espanha. Entre as terras ou possessões portuguesas, algumas foram completamente pilhadas: Bahia (Brasil)-1587; Santos (Brasil) -1591; Recife (Brasil)-1595; Açores-1589; Faro-1596; Sagres-1597; Ormuz-1622; etc. 
Nos mares de Bengala. Sebastião Gonçalves Tibau, nascido em Santo António do Tojal, que havia desertado do serviço da coroa, em 1605, comanda uma formidável esquadra de piratas. Fundou na ilha de Sandwip uma república de piratas, da qual ainda hoje existem descendentes.
No Oceano Pacífico, o capitão Valdemar, alentejano, chefiava um temível bando de piratas, identificados por uma bandeira "vermelha e negra", símbolo mais tarde dos anarquistas. Foi morto nas Molucas.
No século XVII,  depois da restauração da Independência, em 1640, Portugal envolve-se numa longa guerra com a Espanha que só termina em 1668. Durante este período, aumenta o número dos portugueses piratas e corsários, mas são apoiados por outras nações que andam no saque às colónias espanholas. Era uma forma barata de fazer a guerra no mar. 
Em 1645, o embaixador espanhol em Londres informou Filipe IV, que uma expedição pirata fora muito bem sucedida nas Caraíbas devido à participação de marinheiros portugueses.
Nos mares da Jamaica, Cuba e no golfo do México, dois piratas portugueses ficaram tristemente célebres:
Bartolomeu, o português, era profundamente católico, andava sempre de cruxifico ao peito. Em 1662 apoderou-se na costa cubana de Manzanillo de uma pequena embarcação que armou com quatro canhões. Com a patente de corso do governador de Jamaica, em 1663, tomou navio mercante espanhol em Cabo Corrientes (Cuba) que levava 75.000 escudos e 100.000 libras de cacau. Foi capturado em Campeche (golfo do México), julgado e sentenciado à morte, mas conseguiu fugir, unindo-se depois a outros piratas e corsários. Voltou a Campeche, apoderando-se de outra embarcação. Sabemos que naufragou nos Jardins da Reina (Cuba), mas conseguiu chegar à Jamaica muito ferido. Meteu-se depois em outras expedições cujos resultados ignoramos. Parte das suas façanhas foram publicadas na Holanda, em 1678, na obra "Os Bucaneiros da América"de John Esquemeling.
Rocha, o brasileiro (Roche ou Rock Brasiliano). (c.1630-c.1675). Alguns historiadores afirmam tratar-se de um holandês ligado por razões desconhecidas ao Brasil. Em 1670 atacou Campeche. Era um verdadeiro psicopata, tinha um ódio de morte aos espanhóis, submetendo-os às piores barbaridades.
Os ataques de piratas e corsários às costas de Portugal e das suas colónias só diminuíram quando foi reconstruída a marinha portuguesa e levantado um eficiente sistema de fortificações. 
A paz com a Holanda (Tratado de Haia, 1661) e o relançamento da Aliança com a Inglaterra levaram à diminuição dos piratas destes países.
A principal ameaça continuou a ser a dos piratas muçulmanos, mas também a dos franceses que se haviam especializado nas pilhagens. 
No século XVIII o corso continua solidamente implantado em Portugal, devido aos constantes conflitos com a Espanha e a França. O corso continuava a ser uma forma barata de manter uma guerra. Os ataques dos piratas muçulmanos do Norte de África eram outras das preocupações,  cujas pilhagens se prolongaram até meados do século XIX. 
A longa experiência dos corsários portugueses estendeu-se, por exemplo, ao Quebec (Canadá).
João Baptista Rodrigues da Fonte ou Fontes (Jean-Baptiste Rodrigue, ou John Fund) (c.1670- 1733), em Março de 1709, ocupou o cargo de piloto real, em Port-Royal (Annapolis Royal, NS). Em 1710 instalou-se em Plaisance (Piacenza), onde trabalhou no comércio, dedicando-se depois à pirataria. Mudou-se mais tarde para Louisbourg, colónia francesa de Ile Royale (Cape Breton) em 1714, onde andou na guerra e na pilhagem, o que não o impediu de se tornar num dos mais prósperos comerciantes da região.
Dados os constantes ataques de piratas e corsários à costa portuguesa, foi de novo organizada uma esquadra portuguesa para proteger o Estreito de Gibraltar, cuja actividade se prolongou até 1807. Ao longo do século foram muitas as acções punitivas contra os piratas no Mediterrâneo realizadas por iniciativa própria ou a pedido de outras nações.  
Nesta altura dois dos grão-mestres da Ordem de Malta, sediada na Ilha de Malta no Mediterrâneo, eram portugueses: António Manoel de Vilhena (1722 - 1736) e Manoel Pinto da Fonseca (1741 -1773). Esta Ordem tinha um papel destacado no combate contra a pirataria e o avanço dos muçulmanos na frente sul da Europa.
Os corsários ingleses tinham em Portugal uma base de apoio estratégica para assaltarem os navios espanhóis e franceses. Em Lisboa reabasteciam-se e vendiam o produto dos saques. Ainda em 1780, entraram pelo Tejo dois navios mercantes franceses tomados por corsários ingleses, os quais foram depois transformados em barcos de guerra destinados ao corso nas costas de Espanha, só não seguiram o seu destino devido aos protestos do embaixador deste país.
Há abundantes registos de portugueses ao serviço de corsários de outros países europeus em finais do século XVIII.
PORTUGAL NA ÂNSIA DA SUA CONTINENTALIDADE ESQUECEU O ATLÂNTICO QUE LHE DEU FORMA. 

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