domingo, maio 29

O BANCO DE GORRINGE (video)



Uma história que tem umas dezenas de anos mas que por motivos político-económicos está muito actual. Vão ver porquê:  
No tempo em que a minha vida era habitualmente distribuída pela actividade profissional e, intensivamente todos os fins-de-semana no mergulho, quando o mar deixava, normalmente a partir do porto de Sesimbra, uma vezes em barco próprio outras com grupos habituais em traineiras alugadas, ocorreu um contacto interessante. Estabeleci conhecimento e amizade com o proprietário e mestre de uma traineira de Sesimbra de pesca de alto mar, que tinha sido recentemente subsidiada pela União Europeia. Um luxo de barco, novo, com todo o equipamento de navegação e instalações para a tripulação, o mais moderno que havia naquela altura. De conversa informal passou a um projecto muito interessante para alguns daqueles que comigo visitavam o fundo do mar e que faziam parte do grupo semanal da actividade submarina. Uma saída com um grupo seleccionado para mergulharmos no Banco de Gorringe que se localiza a SW do Cabo de São Vicente (Algarve), na fronteira convergente entre a placa Africana e Euro-Asiática, entre o continente e a Ilha da Madeira. Uma oportunidade única porque a embarcação estava à espera das vistorias e licenças para de lançar na pesca.  


O mestre conhecia o Banco de Gorringe e com toda aquela aparelhagem, topo-de-gama, era fácil lá chegar e voltar em dois ou três dias de viagem, com a ajuda de Neptuno.
Estabelecemos o preço constituímos o grupo com fotógrafos submarinos, um médico mergulhador, barcos de apoio insufláveis, compressores, licenças que eram quase passaportes das autoridades marítimas e fixámos o dia da partida e da chegada que ficou prevista em sete dias para podermos conhecer alguns dos recantos mais bonitos daquele fundo submarino. Maravilha em perspectiva.


O Banco de Gorringe  é uma área do Oceano Atlântico situada a cerca de 120 milhas marítimas a oeste sudoeste do Cabo de São Vicente, caracterizada por um maciço montanhoso submerso orientado na direcção nordeste sudoeste e com cerca de 200 quilómetros de comprimento por 80 de largura. Destacam-se dois cumes: o Gettysburg e o Ormonde.


Estava tudo pronto e ansiosamente preparado para aquele que seria a melhor aventura de prospecção submarina para os amantes do mundo do silêncio. Aziago estava o projecto.
A cerca de uma semana da partida recebo um telefonema do mestre do barco a dar-me conta que já não podíamos ir porque a União Europeia lhe dava mais dinheiro agora, que aquele que lhe havia dado antes, a fundo perdido, pelo custo da embarcação, mas agora para a destruir, cujo prazo era de uma semana. Mas isso é verdade...? perguntei, será possível que esteja tudo louco?! Fui a Sezimbra e confirmei o facto: 
Todas as embarcações subsidiadas pela UE estavam a ser destruídas com a certificação das autoridades. Sob os auspícios de "governos" impróprios estavam a destruir todas as bases produtivas. Não foi só com as pescas, aconteceu com a agricultura, pagavam para não colher cearas, abater oliveiras; foi assim também com as industrias, as pequenas e médias empresas que perante tantas dificuldades impostas e impostos encerraram e despediram, como encerram ainda aos milhares, mas sempre a favor dos grandes espaços comerciais, hipermercados de consumo, improdutivos. Portugal é um país florestal da Europa, diziam os espertos. Durante o verão as florestas ardiam... Para quem não tem memória curta foi assim.  

          

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