domingo, maio 2

A ORCA



Este artigo foi escrito e publicado no Jornal A GAZETA DO SUL em 30 de Abril de l988, na rubrica MAR ADENTRO, quando mergulhava e estudava a biologia marinha.
Comecei a visitar o fundo do mar aos 16 anos, quando uma das minhas Tias materna, em 1961 me trouxe dos USA uns óculos de mergulho. Em Portugal ainda era coisa rara de se ver. Comecei a apaixonar-me pelo fundo do mar e a partir daí foi sempre em frente: A caça submarina foi o próximo passo, até que em 1970 tirei um curso de mergulho. Em 1975 comprei um barco que baptizei com o nome de  Calypso, em homenagem a Cousteau.
Foi depois que comecei a verificar que o mar na sua plenitude era uma força independente da natureza terrena. Larguei as armas de caça, comprei uma máquina fotográfica e comecei a sério a estudar o Mar e a sua fauna.

ORCA – Uma baleia chamada assassina.

Nome cientifico: Orcinus Orca - nome vulgar: Orca ou Roaz de Bandeira. Dorso negro, com mancha branca sobre a cabaça, ventre branco. Barbatana dorsal alta, colocada verticalmente; peitoral arredondada. Os machos podem atingir nove metros de comprimento. É predador de outros mamíferos marinhos. Pertence à ordem dos cetáceos. Mamíferos perfeitamente adaptados à vida aquática. Tem corpo fusiforme e hidrodinâmico. Não podem deslocar-se em terra e necessitam de conservar permanentemente a pele húmida. Se dão à costa morrem em pouco tempo, por não possuírem externo e devido à pressão que o corpo exerce sobre os pulmões. Desprovidas de membros posteriores conservam uma pélvis vestigial. Tem os membros anteriores modificados em grandes barbatanas e a cauda munida de uma barbatana horizontal, característica esta que as distingue dos peixes. Uma camada de gordura sob a pele, ajuda-as a conservar o calor. Não tem ouvido externo.
A Orca, como a baleia cabeça de panela e o cachalote, integram-se na subordem dos (ondontocetos), cetáceos com dentes. Pertencem à família dos delphinidae como os golfinhos, toninhas, botos e afins.
Confundida às vezes com as bocas de panela ou baleia piloto “Globicefhala malaena” e com as falsas orcas “Pseudorca Crassindens” tem características diferentes, nomeadamente no seu comportamento em grupo.
São seres extraordinariamente sociáveis, muito velozes, fortes e inteligentes e praticamente sem inimigos naturais. Percorrem todos os Oceanos, ao Árctico ao Antárctico, em grupos de dois a quarenta indivíduos. O Macho que pode atingir os nove metros e o peso de 3T., faz-se acompanhar de cinco a dez fêmeas, uma das quais é a dominante. Como símbolo da sua força e domínio, exibem fora de água a barbatana dorsal que, no macho, pode atingir a altura de dois metros.
Durante muitos anos as Orcas foram consideradas os mais ferozes predadores dos mares. Dotadas de uma visão tão aguda como os gatos, quer dentro ou fora de água, são capazes de mergulhar até 350 metros de profundidade e permanecer imersas durante 25 minutos. Na boca possuem de dez a catorze pares de dentes muito fortes e aguçados.
É tão perigosa e voraz como o tubarão e, simultaneamente, mais inteligente e hábil que o golfinho, sendo por isso justamente temida pelos outros mamíferos marinhos.
Preferem esperar as suas presas ao largo, no mar, onde as profundidades lhes permitem, no espaço necessário, estabelecer as suas manobras de caça. Estes grandes golfinhos negros e brancos manobram sempre segundo um plano pré-estabelecido, composto por acções bem programadas e devidamente cumprido. Possuem um sistema próprio de orientação e comunicação, bastante desenvolvido. Através de assobios (sondagem sonora), conseguem a grande distancia localizar as presas. Sabe-se se contactam entre si através da diferenciação melodiosa dos sons emitidos, os quais como a linguagem humana, diferem entre grupos geograficamente afastados.
Quando um grupo de Orcas é atacado por tubarões ou pelo homem, seu maior inimigo, o macho adulto desvia-se e nada em direcção oposta a fim de chamar a atenção do atacante e afastá-lo. Durante o parto, momento em que a fêmea se encontra vulnerável, em especial aos tubarões, o grupo estabelece à sua volta um círculo defensivo; uma outra fêmea ajuda ao parto e após o nascimento, por incapacidade da mãe, encarrega-se de fazer a cria ir à superfície respirar pela primeira vês.
Procriam, como qualquer mamífero por cópula, sendo o acto sexual procedido por parada nupcial, plena de carícias e evoluções, que mais parece uma “dança subaquática”. Assim, o macho, durante horas alicia a fêmea. As Orcas, como qualquer cetáceo tem a pele macia como a seda e sofrem de hemofilia, motivo, talvez, porque não lutam entre si em disputa das fêmeas ou da chefia dos grupos.
Ao contrário do homem e de outros mamíferos, a sua respiração é voluntária e, por isso, se perdem os sentidos podem morrer afogadas. Já foram vistas Orcas à ajudarem outras a nadar à superfície, por se encontrarem doentes.
Na realidade, sabe-se hoje que a Orca é o mais belo, o mais forte e o mais inteligente dos golfinhos. Caça para se alimentar e não por crueldade sanguinária e manifesta uma amizade espontânea e quase incrédula pelo homem. Nenhum outro animal carnívoro, no seu ambiente, nos permite assim a presença! Ramon Bravo, cineasta subaquático, no Golfo do México, pela primeira vez experimentou filmar, sem qualquer protecção especial, Orcas que nunca antes tinham visto o homem. A sua surpresa é bem manifesta no filme que divulgou e ainda há pouco exibiu em Portugal.
As Orcas não só permitiram a sua presença como também com ele trocaram carícias e brincadeiras.
Quando em cativeiro, por longos períodos, as Orcas, começam por perder a sua natural vitalidade. A barbatana dorsal que no mar exibem como uma “bandeira” fora de água e que supõe, pelo tamanho, ser o símbolo de domínio entre elas, começa a curvar-se até tocar o dorso. Dificilmente suportam o cativeiro e chegam a suicidar-se, afogando-se no fundo das piscinas que lhes cerceavam a liberdade.
Não há memória de ataques de Orcas ao homem. Por mistério parece que tal acção lhes não pertence.
Desde 1964 que nos Estados Unidos da América e, em especial no Canadá se investiga muito a sério a Orca no seu ambiente natural.
Deve-se a Costeau e Ramon Bravo tudo o que se soube sobre o comportamento destes animais, excepcionais em presença do homem, no seu ambiente natural. Desmistificou-se assim o título injusto de “baleia assassina” que ainda há tão pouco tempo lhes era atribuído.
Como qualquer cetáceo são bastante vulneráveis à poluição dos mares que, recentemente em perigo de inquinação pelos detritos atómicos lançados no mar as transformará em vitimas da tecnologia poluente do homem.
O Rorqual Azul “sibbaldus músculos”, (misticeti) baleia com cerca de 30 metros e 135 Ton., o maior de todos os animais sobre a Terra, já se considera irremediavelmente extinto.
Foram necessários 70 milhões de anos para a Natureza seleccionar os grandes mamíferos, os quais surgiram no mar há 25 milhões de anos e têm assim sobrevivido até há actualidade.
Falta pouco para que, mais uma vez, se lamente o desaparecimento duma espécie animal sobre este Planeta… Consequência do ” inevitável”!
…E era uma baleia chamada assassina?!... 

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