quinta-feira, janeiro 27

O PERÍODO FEUDAL (video)



A queda de Roma e as invasões germânicas determina, a partir do século V, um crescente surgimento de vínculos pessoais entre os cidadãos, quebrada que está a sua relação política com o Estado, conceito enfraquecido no fim do mundo romano. A partir do século IX e até ao século XII, principalmente, desenvolve-se na Europa o feudalismo, sistema social, económico e político baseado em relações de dependência de homem para homem. O termo feudalismo aplica-se, geralmente, a todas as sociedades cujo poder central é meramente simbólico e se encontra fragmentado, para além de a sua economia ter uma base servil e agrária.
O processo de formação do feudalismo remonta às instituições romanas e mesmo germânicas. De facto, a partir do século III assiste-se ao declínio do Império Romano e da sua sociedade, que se desagrega e perde cada vez mais o sentido de ordem, afectada que estava por depressões económicas consecutivas e uma tendência para a desurbanização, com a população a fugir para os campos, visto as cidades serem o alvo mais fácil das pilhagens e dos ataques bárbaros. A insegurança invade o mundo romano, pois há muito desapareceu a Paz Romana. Por outro lado, a crise económica contínua agrava cada vez mais os impostos, o que aumenta o mal-estar social. Este é ocasionado ainda pela isenção do pagamento de impostos dada aos senhores e à Igreja, regalia que está na origem dos privilégios da nobreza e do clero. Paralelamente, criam-se leis de vínculo obrigatório e hereditário das pessoas à sua profissão, cada vez mais a agricultura, em virtude da ruralização da Europa.
O temor e a ameaça constante de incursões de tribos germânicas - depois das suas invasões, das guerras frequentes e, mais tarde, do perigo muçulmano e normando - conduzem inúmeros indivíduos a colocarem-se sob a protecção dos mais poderosos normalmente grandes latifundiários. O poder emanava da propriedade, em troca da qual lhes entregam as suas parcelas de terra, recebendo-a depois com a condição de a trabalhar a favor do protector. A influência germânica, visível depois do século V, deve-se à tradição de submissão à liderança de um chefe, que fica obrigado a armar e sustentar os seus súbditos. O princípio fundamental desta relação é a fidelidade, do Latim  fides - fé -, depois feudo, donde deriva feudalismo. A partir desta herança romano germânica e da conjuntura europeia da Alta Idade Média desenvolve-se o feudalismo.
Em que consiste, então, a relação feudal, base desse sistema? Um homem, o vassalo, perante a penúria e a insegurança, entrega-se pela homenagem, na qual se ajoelha perante o senhor e presta juramento de fidelidade, dele recebendo um objecto como prova da sua condição de vassalo, muitas vezes uma espada, a outro homem, mais poderoso, o suserano, seu amo depois de aceitar essa entrega voluntária. O vassalo é, por isso, obrigado a prestar fidelidade, conselho, ajuda militar e material, em caso de necessidade. O suserano tem que o proteger e sustentar, sendo-lhe igualmente fiel. O sustento processa-se na concessão de terra ao vassalo, o benefício ou feudo, indivisível, a princípio vitalício, mas que depois tende para a hereditariedade.
Nesta reciprocidade existe, portanto, uma relação que desfavorece o mais fraco face à conjuntura menos propícia e faculta ao mais forte a manutenção e melhoria até da sua estrutura produtiva e riqueza pessoal, para além de maior poder, substituindo o Estado em certas prerrogativas. Isto conduz à fragmentação do poder do Estado e ao surgir de uma sociedade feudal.
O rei, todavia, é também um senhor feudal, o "suserano dos suseranos", pois cada senhor, para o ser, tem também que pedir protecção e prestar vassalagem a outro mais forte, criando-se uma hierarquia em cujo topo estava o monarca. Esta situação tende, mercê das suas concessões a senhores por serviços e préstimos em guerra e do incumprimento generalizado de certas obrigações dos seus vassalos - também senhores ao mesmo tempo -, a enfraquecer o poder e a autoridade do rei. Mesmo os administradores das suas terras começam a assenhorear-se delas. Surgem, assim, os condes .
Os senhores feudais adquirem mesmo direitos políticos, de fazer a guerra ou a paz, de cunhar moeda, administrar a justiça e impor tributos, tarefas normalmente da competência exclusiva do rei.
A sociedade feudal é piramidal, com o rei no topo, seguido dos privilegiados (os senhores feudais e o alto clero), da baixa nobreza e do clero paroquial, sendo a base constituída pelos camponeses livres e servos. O alto clero e as hierarquias monásticas são autênticos senhores feudais, estabelecendo-se também relações de vassalagem entre eles e os outros senhores. Contudo, as relações deste tipo são enfraquecidas pela reforma gregoriana do século XI.
A partir do século XII, o feudalismo inicia o seu declínio. As causas principais prendem-se com as Cruzadas, que obrigam os senhores a criar exércitos a soldo, o que arruína muitos deles; o fortalecimento do poder real, que passa a ter à sua disposição um exército permanente, acabando com as guerras feudais entre senhores; o renascimento urbano e comercial, com o aparecimento de um novo grupo social poderoso, a burguesia; a centralização administrativa, à luz do reaparecido direito romano. Como sistema económico, o feudalismo termina na Idade Média, mas socialmente mantém-se até à Revolução Francesa. No plano político, o cardeal Richelieu e Luís XIV, no século XVII, em França, traçam-lhe o seu fim.
No caso ibérico, o feudalismo de além Pirenéus pouco entra na Península; apenas é visível no poder da nobreza nos seus domínios, embora sem os rituais e conteúdo jurídico dos senhores franceses, por exemplo. O poder real, como motor da Reconquista Cristã, é aqui mais forte, com o apoio do clero. Por outro lado, o municipalismo, nascido da colonização das terras reconquistadas aos muçulmanos, permanecia forte e enraizado, defendendo os foros e regalias do povo. Portugal inclui-se nesta tendência ibérica de fraca feudalização. Socialmente, porém, a presença de estruturas feudais nota-se bastante nos reinos ibéricos.
A questão acerca da existência ou não de um regime verdadeiramente feudal em Portugal tem animado diversos debates e suscitado algumas dúvidas. Assim, e tendo em conta a especificidade portuguesa, aplica-se o conceito de "Regime Senhorial", em alternativa ao conceito mais lato de "Feudalismo", que caracteriza normalmente a ordem social, económica e política da França ao longo da Idade Média.
Desta forma, vários autores e historiadores portugueses distinguem, em primeiro lugar, o feudo do senhorio. As diferenças recaem sobretudo no aspecto político. No feudo francês o senhor detém maior poder, nomeadamente em termos de jurisdição, administração, cobrança de impostos, criação de exército próprio, e mesmo cunhagem de moeda, enquanto no senhorio português tudo se passa de forma diferente: o rei mantém para si o direito exclusivo da cunhagem da moeda, o direito de cobrança de determinados impostos (jantar, fossadeira, etc.) assim como a jurisdição sobre todo o território.
Do ponto de vista económico, o feudo e o senhorio não apresentam diferenças significativas, ambos constituem unidades produtivas economicamente autónomas e independentes.
O facto de em Portugal os senhorios - quer sejam honras (da nobreza), coutos (do clero), ou concelhos (os chamados senhorios colectivos) - não terem arrebatado os poderes alcançados pelos feudos em França (por concessão régia ou de moto próprio), pode explicar-se pela relativa força que a realeza manteve nos reinos da Península. O processo da Reconquista Cristã e das guerras contra os árabes mantém uma certa unidade política e militar em torno do rei enquanto em França, e noutros países da Europa, se assiste a um progressivo enfraquecimento do poder real e ao consequente fortalecimento dos poderes dos pequenos senhores feudais.
Contudo, não é totalmente errado falarmos de feudalismo no contexto geográfico da Península Ibérica. Na verdade muitos autores consideram que a atribuição do Condado Portucalense ao Conde D. Henrique não é mais do que um pacto de carácter feudal, hereditário, baseado em laços de vassalagem para com o rei de Leão e Castela.
Uma das mais importantes características do feudalismo reside precisamente nos laços de vassalagem entre um rei e o seu vassalo, ou entre um senhor e os seus cavaleiros. Estes vínculos, traduzidos em juramentos solenes e cerimónias de investidura, criam relações de serviço e protecção, baseados na honra e nos valores da cavalaria, aspectos que se tornam típicos de toda a época medieval.

quinta-feira, janeiro 20

OS SÍMBOLOS



O termo símbolo, com origem no grego σύμβολον (sýmbolon), designa um elemento representativo do que está na realidade visível, em lugar de algo invisível que tanto pode ser um objecto como um conceito ou ideia, determinada quantidade ou qualidade.
O "símbolo" é um elemento essencial no processo de comunicação, encontrando-se difundido pelo quotidiano e pelas mais variadas vertentes do saber humano. Embora existam símbolos que são reconhecidos internacionalmente, outros só são compreendidos dentro de um determinado grupo ou contexto religioso,  cultural, social, étnico, etc. Ele intensifica a relação com o transcendente. Também pode ser uma palavra ou imagem que designa outro objecto ou qualidade por ter com estes uma relação de semelhança.

A águia é o nome comum dado a algumas aves de rapina da família accipitridae, geralmente de grande porte, carnívoras, de grande acuidade visual. O nome é atribuído a animais pertencentes a géneros diversos e não corresponde a nenhuma classe taxinómica. Por vezes, dentro deste mesmo género ocorrem espécies conhecidas popularmente por gavião ou Milhafre, também conhecido por milhano ou bilhano.

Nos Açores a designação corresponde às aves da espécie Buteo rothschildi, também chamadas de queimado ou águia de asa redonda.
O açor  (accipiter gentilis), do latim acceptore, significando que voa rapidamente, é uma ave de rapina da mesma família accipitridae, distribuída por todas as regiões temperadas do hemisfério norte.

É a ave que aparece na bandeira dos Açores. O arquipélago dos Açores deve o seu nome ao açor, porque quando os descobridores do arquipélago lá chegaram pensaram ver açores. Mais tarde, concluiriam que essas aves eram milhafres.

As águias são também símbolos utilizados em vários contextos e culturas.
A águia pode ser vista simbolicamente como símbolo da força, da grandeza e da majestade. Foi muito usada em brasões de exércitos, figurando nos estandartes de Ciro, rei dos Persas, e, mais tarde, durante o segundo consulado de Cayo Mário (157 a 86 aC.), encimando as lanças que eram insígnias das legiões romanas.

Na simbologia cristã aparece como possível símbolo da ressurreição e o triunfo de Cristo e do cristianismo.


Foi também o símbolo da alma humana, o símbolo das artes. Chama-se de águia à pessoa muito perspicaz, penetrante, que vê longe e superior em inteligência.


O condor dos andes (Vultur gryphus) é uma ave da família dos catartídeos “Cathartidae”, parente próximo do condor da Califórnia e dos urubus, que habita a Cordilheira Andina, na América do Sul.
Os condores, assim como os urubus, apesar de serem conhecidos também por abutres do novo mundo são parentes mais próximos das cegonhas do que dos abutres propriamente ditos.

Ele é o símbolo nacional da Colômbia,  Equador,  Bolívia e Chile e integra os brasões oficiais destes países,  além de cumprir um importante papel no folclore e na mitologia das regiões andinas da América do Sul. Considera-se o animal ameaçado de extinção,  por perda de habitat natural e envenenamento de restos de carcaças deixadas por caçadores. Vários países criaram programas de reprodução em cativeiro desta espécie.
O condor andino é a maior ave voadora do mundo e a que tem a terceira maior envergadura de asas, com 3,2 metros, perdendo somente para o Marabu, cuja envergadura de asas chega a 3,5 metros e para o  albatroz-errante ou albatroz gigante (Diomedea exulans) que é uma ave da família “Diomedeidae” que percorre a maior parte do oceano austral, das margens do gelo que circunda a Antárctica (68°S) até o Trópico de Capricórnio (23°S) e, ocasionalmente, até mais ao Norte, com alguns registos fora da Califórnia e no Atlântico Norte. Durante o inverno, a maior parte das aves concentra-se ao Norte da Convergência Antárctica.


sexta-feira, janeiro 14

A COR PÚRPURA


O termo púrpura ou roxo atribui-se a um leque de tons entre o vermelho e o azul, obtém-se misturando essas duas cores primárias. Não há consenso em relação aos tons que podem ser considerados púrpura, preferindo algumas pessoas referir-se a magenta - uma cor pigmento primária e cor luz secundária - resultado da mistura das luzes azul e vermelha cuja cor complementar é o verde. A cor é também chamada de fúchsia ou fúcsia, devido à planta com o mesmo nome.

Uma diferença de sensibilidade ao vermelho e ao azul a nível da retina, que varia de indivíduo para indivíduo e pode causar discórdia.
Púrpura é por vezes confundida com a cor espectral mais facilmente definível, o violeta.
Na teoria da cor, púrpura é definida como qualquer cor não espectral entre violeta e vermelho.
Na pintura, púrpura, é a cor entre magenta e violeta, com todos os matizes e tons.

A púrpura tíria, também púrpura de Tiro ou púrpura de Tiro; em grego: πορφύρα, porphyra; em latim: púrpura é uma tinta natural de coloração vermelho-púrpura, extraída de caramujos marinhos, e que provavelmente foi produzida pela primeira vez pelos antigos fenícios.
Por séculos, a cor púrpura, era obtida através de algumas espécies de molusco nativos do Mar Mediterrânico, o que causou extinção de algumas delas. Pela dificuldade da sua obtenção e alto preço. Púrpura, um dos mais importantes e mais caros pigmentos naturais da Antiguidade era preparado com tintas extraídas de vários moluscos, incluindo murex brandaris e púrpura do acavus haemostoma encontrados na costa do Mediterrâneo, do Atlântico e na orla costeira das Ilhas Britânicas.

Quantidades enormes destes moluscos eram usadas para tingir tecidos e ainda são encontradas pilhas das cascas de moluscos em alguns sítios históricos da costa grega.
A secreção do molusco está contida dentro de uma pequena veia ou cisto, um saco fechado contendo uma membrana biológica que, quando quebrada ou partida pela mão, segrega um fluido branco. Os tecidos eram banhados neste fluido branco e postos a secar ao sol, o que fazia aparecer a tintura púrpura brilhante.
Os diferentes tons dependem do tipo de molusco e o tipo de excreção do fluido branco. Segundo Plínio, o melhor pigmento era extraído em Tiro, no Mediterrâneo Oriental, e era a cor utilizada nas vestes reais romanas, cor que até aos dias de hoje simboliza realeza.
A púrpura foi sem dúvida o corante de maior renome e mais caro de todos os corantes antigos. Era um símbolo de riqueza e distinção. Na Roma antiga só o imperador tinha o direito de a usar.
O imperador Nero chegou a punir com a morte o seu uso. O corante era produzido a partir de espécies de um molusco do género Murex. Cada espécie do molusco dava a sua variedade de púrpura.
Já antes os fenícios obtinham o pigmento da cor púrpura de algumas espécies de moluscos gastrópodes também do género Murex, uma das espécies que se comem em Espanha com o nome «cañadilla» ou «cañaílla»; em Portugal com o nome de "burrié" ou "búzio" 
Em Tiro, a púrpura mais apreciada era extraída da espécie Murex Brandaris. Na cidade de Sídon a espécie Murex Trunculus era fonte de uma púrpura cor de ametista.

O pigmento está presente numa secreção mucosa produzida pela glândula hipocondrial situada junto do tracto respiratório. Esta secreção é incolor enquanto fresca mudando de cor quando exposta ao sol, passando pelo amarelo, em seguida pelo verde e só depois surgindo a cor púrpura característica.
O método geral de produção do corante consistia em esmagar os moluscos inteiros, ou abri-los e retirar a glândula, em seguida salgar essa massa durante três dias e finalmente ferver o conjunto em água durante dez dias com urina. O resultado dava uma solução clara, concentrada, do corante. Os restos da carne do molusco eram separados por decantação.
O tecido era mergulhado na solução do corante e em seguida posto ao sol para que a cor aparecesse, embora ficasse com um odor característico que hoje se consideraria repugnante.

quarta-feira, janeiro 5

EUTANÁSIA O FIM DE UM SOFRIMENTO INDIGNO


Eutanásia é a prática pela qual se abrevia a vida de um enfermo incurável de maneira controlada e assistida por um especialista. Representa actualmente uma complicada questão de bioética, pois enquanto o Estado tem como princípio a protecção da vida dos seus cidadãos, existem aqueles que, devido ao seu estado precário de saúde, desejam dar um fim ao seu sofrimento antecipando a morte.
Independentemente da forma de Eutanásia praticada, seja ela legalizada ou não, é considerada como um assunto controverso, existindo sempre prós e contras, teorias eventualmente mutáveis com o tempo e a evolução da sociedade, tendo sempre em conta o valor de uma vida humana. Sendo a eutanásia um conceito muito vasto, distinguem-se aqui os vários tipos e valores intrinsecamente associados:  eutanásia, distanásia, a própria morte e a dignidade humana.
Em primeiro lugar, é importante ressaltar que a eutanásia pode ser dividida em dois grupos: a "eutanásia activa" e a "eutanásia passiva". Embora existam duas "classificações" possíveis, a eutanásia em si consiste no acto de facultar a morte sem sofrimento a um indivíduo cujo estado de doença é crónico e, portanto, incurável, normalmente associado a um imenso sofrimento físico e psíquico.
A "eutanásia activa" conta com o traçado de acções que têm por objectivo pôr término à vida, na medida em que é planeada e negociada entre o doente e o profissional que vai levar a efeito o acto terminante.
A "eutanásia passiva" por sua vez, não provoca deliberadamente a morte, no entanto, com o passar do tempo, conjuntamente com a interrupção de todos e quaisquer cuidados médicos, farmacológicos ou outros, o doente acaba por falecer. São cessadas todas e quaisquer acções que tenham por fim prolongar a vida. Não há por isso um acto que provoque a morte, tal como na eutanásia activa, mas também não há nenhum que a impeça como na distanásia.
É relevante distinguir eutanásia de "suicídio assistido", na medida em que na primeira é uma terceira pessoa que executa, e no segundo é o próprio doente que provoca a sua morte, ainda que para isso disponha da ajuda de terceiros.
Etimologicamente, distanásia é o oposto de eutanásia. A distanásia defende que devem ser utilizadas todas as possibilidades para prolongar a vida de um ser humano, ainda que a cura não seja uma possibilidade e o sofrimento se torne demasiadamente penoso.
Para quem argumenta a favor da eutanásia, acredita-se que esta seja um caminho para evitar a dor e o sofrimento de pessoas em fase terminal ou sem qualidade de vida, um caminho consciente que reflecte uma escolha informada, o término de uma vida em que, quem morre não perde o poder de ser actor e agente digno até ao fim.
São raciocínios que participam na defesa da autonomia absoluta de cada ser individual, na alegação do direito à autodeterminação, direito à escolha pela sua vida e pelo momento da morte. Uma defesa que assume o interesse individual acima do da sociedade que, nas suas leis e códigos, visa proteger a vida. A eutanásia não defende a morte, mas a escolha pela mesma por parte de quem a concebe como melhor opção ou a única forma digna de acabar com a vida.
A escolha pela morte, não poderá ser irreflectida. As componentes biológicas, sociais, culturais, económicas e psíquicas têm que ser avaliadas, contextualizadas e pensadas, de forma a assegurar a verdadeira autonomia do indivíduo que, alheio a influências exteriores à sua vontade, certifique a impossibilidade de arrependimento.
Quando uma pessoa passa a ser prisioneira do seu corpo, dependente na satisfação das necessidades mais básicas; o medo de ficar só, de ser um "fardo", a revolta e a vontade de dizer "Não" ao novo estatuto, levam-no a pedir o direito a morrer com dignidade. Obviamente, o pedido deverá ser ponderado antes de operacionalizado, o que não significa a desvalorização que tantas vezes conduz esses homens e mulheres a lutarem pela sua dignidade anos e anos na procura do não prolongamento de um processo de deterioramento ou não evolução.
Ao contrário do aborto que é o término voluntário de uma vida iniciada, em gestação, sem possibilidade de se defender, (legalizado em Portugal) a eutanásia activa ou o suicídio assistido pode ser a forma consciente de terminar voluntariamente com uma vida que perdeu o sentido de existir e que para o próprio é uma tortura inconcebível continuar a viver, vegetante. 
"Não podemos escolher quando e onde nascer, mas poderemos escolher quando e como morrer...?"

JÁ CÁ ESTOU.