terça-feira, setembro 28

A MOCIDADE PORTUGUESA

A BANDEIRA DA MOCIDADE PORTUGUESA


2ª- REPÚBLICA - 1926-1974

O Sistema de Ensino durante o Estado Novo

À semelhança do que aconteceu na Alemanha e na Itália cria-se em Portugal uma organização de juventude denominada "Mocidade Portuguesa". Trata-se de uma organização pré-militar destinada a desenvolver a "capacidade física, a formação do carácter e a devoção no sentido da ordem, no gosto da disciplina e no culto do dever militar.", (do Regulamento da Organização Nacional da Mocidade Portuguesa - 4 de Dezembro de 1936). É obrigatório que todos os portugueses dos 7 aos 11 anos, estudantes ou não, e todos os que frequentam o liceu, desde o primeiro ano, pertençam a esta organização. Faz-se saudação a Salazar. O conhecimento e o elogio das virtudes da Mocidade Portuguesa passam a fazer parte dos programas escolares.


Nas escolas passa a ser obrigatório ter na parede os retratos de Salazar e do Chefe do Estado (Carmona), um de cada lado do crucifixo.
O ministro Carneiro Pacheco assume-se neste período como o grande obreiro de uma política educativa que procura conjugar um maior controlo ideológico com uma relativa expansão da rede. Será a adopção do livro único para cada classe da instrução primária (Decreto nº 1 941, de 11 de Abril de 1936) que, no entanto, só quatro anos depois será de facto aprovado, dada a dificuldade revelada pelos vários autores candidatos em preencherem os requisitos oficiais. O culto das virtudes da autoridade, da caridade, do trabalho, da obediência e sacrifício, o elogio da vida rural, simples e alegre constituirão os valores nucleares assim difundidos.

A reforma de Carneiro Pacheco de 1936 vai marcar o sistema escolar português durante largos anos. Ela representa a realização, entre outros, de um objectivo há muito enunciado. Reduzir a escola primária ao "ideal prático e cristão de ensinar bem a ler, escrever e contar, e a exercer as virtudes morais e um vivo amor a Portugal", libertando-a de um "estéril enciclopedismo racionalista, fatal para a saúde moral e física da criança, (preâmbulo da Portaria nº 9 015 de 11 de Junho de 1938).

A Mocidade Portuguesa Feminina:

Emblema da Mocidade Portuguesa Feminina (baseado nas armas de D. João I colocadas numa lisonja,
forma tradicional dos escudos femininos na heráldica portuguesa).

Através do Decreto-Lei n.º 28262, de 8 de Dezembro de 1937, foi criada a Mocidade Portuguesa Feminina  (MPF).
De acordo com o texto deste diploma, esta organização «cultivará nas filiadas a previdência, o trabalho colectivo, o gosto da vida doméstica e as várias formas do espírito social próprias do sexo, orientando para o cabal desempenho da missão da mulher na família, no meio a que pertence e na vida do Estado.»
Pelo Decreto-Lei n.º 47311, de 12 de Novembro de 1966, o Governo procedeu à reorganização da Mocidade Portuguesa, no que foi então denominada uma «actualização (....) no intuito de renovar a Organização, de a adaptar melhor às circunstâncias dos tempos presentes e lhe permitir, assim rejuvenescida, servir cada vez melhor o alto ideal da formação da juventude à luz dos imperecíveis princípios e valores da civilização cristã, que sempre têm presidido, e continuarão a presidir, aos destinos de Portugal.»

Os seus membros encontravam-se divididos por quatro escalões etários: os lusitos (dos 7 aos 10 anos); os infantes (dos 10 aos 14 anos); os vanguardistas (dos 14 aos 17 anos) e os cadetes (dos 17 aos 25 anos). 
Os Cadetes recebiam instrução militar e constituíam a Milícia da Mocidade Portuguesa.
A graduação era assim pela forma crescente; Lusitano; Chefe de Quina, Comandante de Castelo, Comandante de Grupo e Comandante de Falange.
A bandeira da Mocidade Portuguesa foi idealizada pela bandeira de D.João I, usada por D.Nuno Alvares Pereira no Grupo Militar que chamou “Ala dos Namorados”, na Batalha de Aljubarrota:

Entre as bandeiras, a diferença está no quadrado central, nos cinco escudos e no número de besantes: os escudos em cunha em vez de redondos, com cinco besantes cada representando as cinco chagas de Cristo, em vez de sete que na totalidade representam também as trinta moedas de prata que Judas recebeu pela traição a Jesus.

Salazar é acusado de não ter tido coragem de modificar este pormenor central na bandeira nacional. Veja-se: Na bandeira de D. João I os três escudos centrais apontam para baixo, representando a pirâmide do poder e os escudos da esquerda e da direita apontam o centro. Na bandeira da Mocidade Portuguesa este pormenor é idêntico. Na Bandeira Nacional os cinco escudos apontam para baixo.     
     
Em 1971, através do Decreto-Lei n.º 446/71 de 25 de Outubro, durante o governo de Marcelo Caetano foi criado o Secretariado para a Juventude do Ministério da Educação Nacional que assumiu a função de organismo de execução da política de juventude do Governo, sendo-lhe atribuídas a maioria das competências até aí a cargo da Mocidade Portuguesa e da Mocidade Portuguesa Feminina, prevendo-se inclusive que transitassem para aquele Secretariado os bens destas que fossem necessários para o seu funcionamento. Paralelamente e através do Decreto-Lei n.º 486/71, de 8 de Novembro, a Mocidade Portuguesa e a Mocidade Portuguesa Feminina foram transformadas em simples associações nacionais de juventude, passando a ter um carácter não obrigatório.
Esta remodelação conduziu a uma diminuição acentuada da importância destas organizações do Estado Novo.

Em 25 de Abril de 1974, a "Junta de Salvação Nacional" procedeu à sua extinção imediata através do Decreto-Lei n.º 171/74, dessa mesma data.

Após o 25 de Abril/74, durante “O PREC”, pretendeu-se modificar a bandeira nacional, colocando-lhe na parte vermelha uma flor, um cravo, símbolo da "Revolução dos Cravos" ou uma foice e um martelo, símbolo do comunismo Soviético (ainda então, União Soviética).
A HISTÓRIA NAS BANDEIRAS: 

A LEGIÃO PORTUGUESA

A LEGIÃO PORTUGUESA (LP) constituiu uma organização nacional, integrando uma milícia, que funcionou durante o período do Estado Novo em Portugal.
A LP era um organismo do Estado, normalmente dependente do Ministério do Interior. Em caso de guerra ou de emergência grave poderia passar para a dependência do ministro da Defesa Nacional.
Podiam pertencer à LP os Portugueses, de ambos os sexos, com mais de 18 anos de idade que tomassem, sob juramento, o compromisso de servir a Nação de harmonia com os intuitos do movimento gerador da organização. Os membros da LP formavam o movimento nacional legionário. Os legionários com instrução militar e fazendo parte das forças da LP constituíam a milícia legionária.
Criada em 1936 com o objectivo de "defender o património espiritual da Nação e combater a ameaça comunista e o anarquismo", a partir da década de 1940 a LP passou a ser essencialmente uma organização de defesa civil. A LP foi extinta no próprio dia do 25 de Abril de 1974.
No início do Estado Novo, os membros de antigos movimentos considerados mais radicais como o Integralismo Lusitano, o Movimento Nacional-Sindicalista, a Cruzada Nacional Nuno Álvares Pereira e a Liga 28 de Maio, propuseram a criação de uma milícia popular, talvez um pouco inspirada em organizações como a SA (camisas castanhas) alemã ou a MVSN (camisas negras) italiana. Salazar opôs-se à criação de uma organização desse tipo porque nunca sentiu que o Estado Novo tivesse necessidade de se apoiar numa milícia para se afirmar, ao contrário do que tinha acontecido com os Nazis na Alemanha e os Fascistas na Itália, cujas milícias tinham sido determinantes para a sua chegada ao poder.
Perante a necessidade de canalizar os ânimos daqueles elementos mais radicais e ainda perante as ameaça que constituía para o país o início da Guerra Civil Espanhola e a hostilidade de alguns movimentos políticos espanhóis que pretendiam incorporar Portugal numa futura União Soviética Ibérica, ou Franco com a ajuda Nazi, sob proposta do major Jorge Botelho Moniz o governo de Salazar decide a criação da Legião Portuguesa. A LP não seria uma milícia partidária como a SA ou a MVSN, mas sim um organismo do Estado, dependente dos ministérios do Interior e da Guerra. Assim, pelo Decreto-Lei n.º 27 058 de 30 de Setembro de 1936, depois da Mocidade Portuguesa, é criada a Legião Portuguesa com o objectivo formal de "defender o património espiritual da Nação e combater a ameaça comunista e o anarquismo".
A orgânica estabelecida para a LP determinava que a mesma fosse superiormente dirigida por uma junta central, cujos membros - nomeados pelo Governo - deveriam ser "pessoas de formação e espírito nacionalista". A Junta Central incluía o presidente, o comandante-geral da LP e mais quatro membros. O órgão superior de execução seria o Comando-Geral, do qual estariam dependentes os comandos distritais e as forças da LP. A primeira junta central foi presidida por Pinto Leite (Lumbrales) e o primeiro comandante-geral foi Namorado de Aguiar. Viriam a fazer parte, da Junta Central, do Comando-Geral e de outros órgãos superiores da LP, pessoas que se iriam mais tarde notabilizar politicamente como Craveiro Lopes,  Henrique Tenreiro,  Humberto Delgado ou António de Spínola, Otelo Saraiva de Carvalho, instrutor da Legião Portuguesa, que treinara dedicadamente aos fins-de-semana em Cascais.
As forças da LP, dependentes dos diversos comandos distritais, formariam batalhões, terços - equivalentes a companhia - lanças - equivalentes a pelotão - secções e quinas de cinco legionários - equivalentes a esquadra. As designações "terço" e "lança" deverão ter-se baseado nas de tipos de unidades da antiga organização militar portuguesa. O terço era a unidade correspondente ao regimento no Exército Português dos séculos XVI e XVII. Já a lança era uma unidade do exército medieval que incluía um cavaleiro e os seus auxiliares a cavalo (escudeiro,  pajem e dois besteiror ou arqueiros). Já "quina" é a designação tradicional de cada um dos cinco escudetes das Armas de Portugal. Além das forças distritais, estava prevista a existência de forças e serviços autónomos legionários que ficariam na directa dependência do Comando-Geral da LP. Os primeiros destes a serem criados foram o Serviço de Informações e a Brigada dos Correios e Telégrafos, ainda em 1936. Seguir-se-iam, em 1937, a Brigada Naval e a Brigada Automóvel - que incluía as forças motorizadas legionárias independentes. Seria também criado, na dependência da Junta Central, o Serviços de Acção Política e Social.
Durante a Guerra Civil Espanhola, a LP apoia a Legião Viriato, constituída por milhares de voluntários portugueses (os "viriatos") - muitos deles membros da LP - que combatem ao lado dos Nacionalistas, incluindo-se neles o próprio Jorge Botelho Moniz. Alguns viriatos manter-se-iam ao serviço da Legião Estrangeira Espanhola e ainda viriam a combater na Frente Russa, durante a Segunda Guerra Mundial, integrados na Divisão Azul. Em 1939, ano que acaba a Guerra Civil Espanhola e começa a Segunda Guerra Mundial, a LP atinge o seu auge registando cerca de 53 000 membros espalhados por todos os todos os distritos do Continente e ilhas.
Com o início da Segunda Guerra Mundial, a LP é a única organização portuguesa que apoia abertamente as Potências do Eixo, contrariando a posição do governo de Salazar que havia declarado a neutralidade e cujas posições iriam tender cada vez mais para o apoio aos Aliados. As posições de forte apoio à Alemanha por parte da LP - defendendo a entrada de Portugal na guerra ao lado do Eixo - iriam mesmo causar alguns inconvenientes à política diplomática do Estado Novo, prejudicando ocasionalmente a relação entre este e os Aliados.

Entretanto, a LP mantém uma relação pouco pacífica com a Mocidade Portuguesa (MP). Os principais pontos de discórdia são o facto da MP não obrigar os seus filiados a saudar os graduados da LP e o facto da Mocidade também manter uma milícia composta por filiados de idade superior a 17 anos. As divergência acabaram por ser mitigadas através da intervenção de Marcelo Caetano (Comissário Nacional da MP entre 1940 e 1944) e de Humberto Delgado (simultaneamente dirigente da LP e da MP). Segundo o acordo obtido, os membros da MP passariam a saudar os graduados da Legião e os jovens de idade superior a 21 anos só poderiam manter-se na Milícia da MP se fossem estudantes do ensino superior e nunca para além dos 26 anos.
Desde a sua criação, o Governo nunca permitiu uma distribuição alargada de armas e munições à LP, impedindo-a de se tornar numa força com capacidade militar relevante. Em 1942 e perante a possibilidade de uma invasão alemã de Portugal com apoio espanhol, o governo de Salazar decide organizar a Defesa Civil do Território (DCT), cuja responsabilidade é atribuída à LP. Junto à LP passa a funcionar o Comando da DCT, cujo comandante é o próprio comandante-geral da Legião. A partir de então, a defesa civil irá passar a constituir a principal função da LP até à sua extinção em 1974.
Depois do final da Segunda Guerra Mundial e, sobretudo, a partir da entrada de Portugal na NATO, as funções de defesa civil da Legião Portuguesa ocupam um espaço cada vez mais importante no seio desta. Com o início da Guerra Fria, a Organização Nacional da Defesa Civil do Território funcionando agregada à LP ocupa-se da instrução e doutrinação da população civil para a defesa civil, incluindo a preparação de medidas de defesa passiva contra eventuais ataques nucleares. No âmbito da defesa civil, a milícia da LP continua a ser encarregue de vigiar as instalações sensíveis que pudessem vir a ser alvo de sabotagem.
A orgânica da LP previa que a organização e a actividade desta se estendesse a todo o Território Português, inclusive ao Ultramar. Em cada província ultramarina existiria uma junta provincial da LP - com organização e competência ajustadas às características peculiares de cada província - e um comando próprio subordinado ao Comando-Geral. No entanto, a organização da LP no Ultramar acabou por nunca se efectivar. Com a necessidade de autodefesa das populações decorrentes do começo da Guerra do Ultramar, acabaram por ser criadas em Angola e outras províncias ultramarinas, organizações de voluntários que se transformariam nas organizações provinciais de voluntários e defesa civil, com funções quase idênticas às que a LP desempenhava na Metrópole.
No campo político, os membros da LP são parte activa no apoio à União Nacional (UN) e aos candidatos por ela apoiados nas diversas campanhas eleitorais e eleições. Cabe também a elementos da LP a protecção das sedes da UN e a segurança pessoal de alguns dos seus dirigentes.

As forças legionárias também são ocasionalmente empregues na dispersão de manifestações não autorizadas e no fecho de organizações tidas como subversivas, colaborando com a Polícia de Segurança Pública e com a Guarda Nacional Republicana. Estas actividades são desenvolvidas essencialmente pela Força Automóvel de Choque e, posteriormente, pelo Grupo de Intervenção Imediata, as únicas unidades de milícia da LP que mantêm ainda uma capacidade operacional relevante. No campo da recolha de informação de segurança, a LP actua, através do seu Serviço de Informações, colaborando com a Polícia Internacional e de Defesa do Estado.
Quando ocorre o 25 de Abril de 1974, existem cerca de 80 000 legionários inscritos, mas destes apenas uma pequena parte desempenha funções activas na milícia legionária. A Legião Portuguesa é extinta no próprio dia 25 de Abril, juntamente com a PIDE/DGS e MP, através do Decreto-Lei n.º 171/74.

quarta-feira, setembro 22

OS CEM ANOS DA IMPLEMENTAÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA

1910 / 2010
NOTA PRÉVIA: Não vou inserir neste texto qualquer imagem porque entendo que lhe tiraria a virtualidade.

A PRIMEIRA REPÚBLICA:

Nos Paços do Concelho, no dia 5 Outubro de 1910, é proclamada a República por José Relvas. Foi ministro das finanças. Deixou como legado, ao povo português, um extraordinário museu: a "Casa dos Patudos", em Alpiarça.
É constituído um Governo Provisório, presidido por Teófilo de Braga, nasceu em Ponta Delgada (1843-1924), do qual fazem parte António José de Almeida, Basílio Teles, Bernardino Machado, António Xavier Correia Barreto (inventor da pólvora sem fumo usada no exército português), Afonso Costa, António Luís Gomes, Amaro Justiniano, Azevedo Gomes, Brito Camacho.

A Assembleia Constituinte reúne-se pela primeira vez, passados nove meses.

Decreta:

1º Fica para sempre abolida a monarquia e banida a dinastia de Bragança;

2º A forma de Governo de Portugal é a da República Democrática;

É decretado o direito à greve, a separação da Igreja do Estado, as Ordens monásticas são expulsas. O ensino torna-se laico. São encerradas algumas igrejas. É promulgada a Lei do Divórcio. São criadas as Universidades de Lisboa e Porto.

Em 11 de Março de 1911, o Governo Provisório da República Portuguesa procedeu à publicação de uma nova lei eleitoral (destinada a substituir a lei do governo de Hintze Ribeiro de 1895, conhecida como a «ignóbil porcaria»), tendo em vista a realização de eleições para a Assembleia Nacional Constituinte (ANC), o que se verificaria em 28 de Maio de 1911.

Columbano Bordalo Pinheiro idealiza a Bandeira Nacional. A nova Bandeira Nacional foi aprovada pelo Governo a 29 de Novembro de 1910 e só viria a ser homologada pela Assembleia Constituinte a 11 de Junho de 1911.

Aparecem três partidos: Democrático (respeita a vontade do povo), Evolucionista (acredita na transformação gradual de uma ideia), Unionista (os que partilham das mesmas ideias políticas).

A 24 de Agosto de 1911 é eleito Presidente da República Manuel de Arriaga, nasceu na Horta (1840-1917). Tem grandes dificuldades em formar Governo.

O Ministério passa a ser chefiado por João Chagas.

A partir de 1911 é instituído o Registo Civil obrigatório.

O escudo passa a moeda oficial, substituindo o real.

Em 1912 a carris faz uma greve de 26 dias.

Afonso Costa tenta por cobro ao caos. Os grevistas alcunham-no de racha sindicalista.

A população andava pelos seis milhões de habitantes.

Havia 80 por cento de analfabetos.

Em 1913 é fechada a casa sindical e presos dezenas de sindicalistas.

Aparece o Integralismo Lusitano que defende uma ideia antiliberal. Foram seus principais orientadores: Rolão Preto, António Sardinha, Luís de Almeida Braga.

Em Outubro, de 1913, são criadas escolas móveis, para compensar a falta de edifícios escolares.

A 14 de Maio de 1915 alguns barcos de guerra bombardeiam Lisboa. O Arsenal rende-se. Os combates são violentíssimos e os mortos às centenas.

O General Pimenta de Castro, que desejava pôr fim à instabilidade do país, é preso. É substituído por Teófilo Braga.

É eleito, Presidente da República, Bernardino Machado (1851-1944), nasceu no Rio de Janeiro. Foi Grão Mestre da Maçonaria Portuguesa. Fica no cargo de 1915 a 1917. Tem como chefe do Governo Afonso Costa.

Estávamos em plena 1ª Grande Guerra (1914 a 1918). O Governo pensa que devemos entrar nela para assim preservarmos as colónias.

A 24 de Fevereiro de 1916 foram aprisionados os navios alemães que estavam no Tejo.

A 13 de Maio de l917 ocorre a primeira aparição de Fátima;

A Alemanha declara-nos guerra.

É decretada a censura para todas as publicações.

São enviadas expedições para França e para África.

O país continua palco de greves, revoltas e atentados.

Em Julho de 1917, e durante 16 dias, é decretado o estado de sítio em Lisboa e arredores.

A 5 de Dezembro de 1917 o Major Sidónio Pais (1872-1918) derruba o Governo, impõe uma Ditadura militar.

Bernardino Machado sai do país.

Afonso Costa é preso.

Sidónio Pais tenta a reconstrução nacional. Reata as relações com a Santa Sé. A liberdade religiosa é assegurada.

A 9 de Abril de 1918 dá-se a Batalha de La Lys.

A bravura dos portugueses ficou na memória dos Alemães que os venceram com enorme dificuldade.

A situação no país continua difícil, a 14 de Dezembro de 1918 José Júlio da Costa mata Sidónio Pais a tiro. Por alguns meses fica Canto e Castro (1862-1934) na Presidência da República e Tamagnini Barbosa na direcção do Governo. As gentes do norte não concordam.

Paiva Couceiro proclama a Monarquia no Porto. A chamada Monarquia do Norte.

Forma-se uma Junta Governativa.

Em Lisboa, alguns oficiais aderem à causa e entrincheiram-se em Monsanto. São cercados pelas forças do Governo e rendem-se.

O sonho monárquico durou menos de um mês.

Em 1919 é eleito Presidente da República, António José de Almeida. Nasceu em Vale da Vinha (Penacova, 1866-1929).

Os quatro anos de 1919 a 1923 (foi o único que conseguiu levar até ao fim o seu mandato na primeira República) vão ser tempos muito difíceis. Vive-se um período tremendamente exaltado e anárquico.

Em 1920 o Governo muda oito vezes. As greves são constantes, as bombas o dia-a-dia, os motins frequentes.

Em 19 de Outubro de 1921 a barbárie sai com toda a ferocidade para a rua: uma camioneta fantasma, conduzida por verdadeiros facínoras, vai buscar às suas casas António Granjo, Machado Santos, José Carlos da Maia, e o coronel Botelho de Vasconcelos. Assassinam-nos com uma violência e brutalidade inauditas.

O empobrecimento e o embrutecimento do país são gerais.

Ninguém sabe o que quer. Ninguém se entende. A fome grassa por todo o lado. Por falta de azeite fecham as fábricas de conservas do Algarve.

Em 1922, Sacadura Cabral e Gago Coutinho efectuam a primeira travessia aérea do Atlântico Sul; Lisboa ao Rio de Janeiro. Gago Coutinho inventa um sextante especial para navegação aérea.

Em 1923 ascende à Presidência da República, Manuel Teixeira Gomes (1862-1941) nasce em Vila Nova de Portimão. A situação do país é caótica. Cinco bancos vão à falência.

Teixeira Gomes renúncia ao cargo.

Em 1925, ocupa, de novo, a Presidência da República, Bernardino Machado.

A situação do país passa a catastrófica. Os presos são às centenas. No meio da confusão, Alves dos Reis, leva a efeito a maior burla do século: consegue comprar um banco com notas falsas e ser accionista em outras Instituições bancárias.

A Liga dos Direitos do Homem protesta contra as deportações sem julgamento.

Os Governos não sabem para onde se voltar. Todos os dias há pronunciamentos; Sinel de Cordes, Filomeno da Câmara e Raul Esteves fazem um a 18 de Abril deste mesmo ano e, a 2 de Fevereiro de 1926, há uma verdadeira revolta.

O grupo Seara Nova leva a efeito uma semana contra o fascismo. Apesar dos tempos conturbados da primeira República, a inspiração não faltou a Guerra Junqueiro, Camilo Pessanha, Maria Amália Vaz de Carvalho, António Botto, Bento Carqueja, Fortunato de Almeida, Fernando Pessoa, Florbela Espanca, Almada Negreiros, Júlio Dantas, Amadeu de Sousa Cardoso, Guilherme Santa-Rita e a muitos outros.

A SEGUNDA REPÚBLICA:
O ESTADO NOVO

Em 28 de Maio de 1926, o General Gomes da Costa derruba o Governo presidido por António Maria da Silva.

Bernardino Machado entrega a presidência a Mendes Cabeçadas.

A 22 de Junho é reconfirmada a censura à imprensa.

A 27 de Junho, Gomes da Costa declara-se Presidente da República e do Governo.

A 9 de Julho do mesmo ano, Gomes da Costa é deposto pelo General Óscar Carmona. O país estava saturado de revoluções e de mortes. Todos os partidos pedem ao General Óscar Carmona que governe em Ditadura.

Em Março de 1928, o General Óscar Carmona é eleito Chefe do Estado.

Em 27 de Abril do mesmo ano, é convidado para a pasta das Finanças o Dr. Oliveira Salazar.

Pouco tempo depois da Revolução do 28 de Maio de 1926, já o Dr. António de Oliveira Salazar tinha sido convidado para o Governo. Não aceitou. Desta vez, depois de analisar a deplorável situação do país, sem qualquer crédito externo, impõe as suas condições e inaugura uma Ditadura Financeira, do Ministério das Finanças, sobre qualquer outro Ministério.

Ficaram célebres as suas frases: "Todos os sacrifícios são necessários", "Sei muito bem o que quero e para onde vou"; "o País estude, reclame, discuta, mas obedeça quando se chegar à altura de mandar"; "Peço confiança na minha inteligência e na minha honestidade".

Passados alguns meses, há uma relativa estabilização na moeda. A dívida flutuante diminui. Aumentam as reservas do Banco de Portugal.

O orçamento começa a ter superavit, (excesso de receitas sobre as despesas públicas).

Os compromissos assumidos anteriormente são regularizados com pontualidade.

A 30 de Junho de 1930 é formada a União Nacional com o fim de apoiar as actividades políticas do Governo.

Os partidos tinham sido proibidos.

A censura não deixava passar as críticas e as ofensas que pudessem influenciar os cidadãos a cometer actos contrários à paz e à harmonia entre os portugueses. Nesta mesma data, Salazar, define a Nova Ordem pela qual o Estado Novo tem de se orientar.

São palavras suas: "Tomar resolutamente nas mãos as tradições aproveitáveis do passado, as realidades do presente, os frutos da experiência própria e alheia..." "...sem excluir aquelas verdades substanciais a todos os sistemas políticos, que melhor se ajustem ao nosso temperamento e às nossas necessidades.

A 5 de Julho de 1932, Salazar é convidado para formar Governo.

Acompanham-no na tarefa da reconstrução nacional: no ministério do Interior, Albino dos Reis; Estrangeiros, César Mendes; Justiça, Manuel Rodrigues; Obras Públicas e Comunicações, Duarte Pacheco; Instrução, Cordeiro Ramos; Comércio, Indústria e Agricultura, Sebastião Ramires; Marinha, Mesquita Guimarães; Guerra, Daniel de Sousa; Colónias, Armindo Monteiro.

A Constituição Política da República Portuguesa de 1933 foi elaborada por um grupo de professores de Direito convidados por Salazar para o efeito, tendo sido promulgada a 22 de Fevereiro e aprovada em plebiscito em 19 de Março de 1933. Esta Constituição foi posta à aprovação dos portugueses, através de uma votação.

Em 11 de Abril de 1933 é publicada a Constituição Política do Estado.

O Presidente da República ficava independente do Parlamento, era ele que escolhia o Presidente do Conselho de Ministros (o primeiro ministro).

A Constituição declarava o Estado Unitário, Corporativo, baseado na igualdade dos cidadãos perante a lei.

Na Constituição de 1933 foi integrado o Acto Colonial de 1930 pelo qual os territórios ultramarinos eram considerados parte complementar da Nação, financeiramente autónomos, e economicamente solidários com a Metrópole.

Como órgãos de Estado existia a Câmara Corporativa que representava as actividades económicas, profissões e corporações.

A Assembleia Nacional limitava-se a apreciar as leis cuja iniciativa era de exclusiva competência do Governo.

A 23 de Setembro é publicado o Estatuto do Trabalho Nacional que organiza a produção e salvaguarda o direito dos trabalhadores.

Em 1936 é publicado um novo Código Administrativo. Neste mesmo ano, é criada a Legião Portuguesa, estrutura militarizada e concebida para defesa do território em caso de uma possível agressão exterior. Criação da MOCIDADE PORTUGUESA sucedânea da Acção Escolar Vanguarda que tinha sido criada em 1934 (Lei nº1941 de 11 de Abril de 1936).

Em 1936 eclode em Espanha a Guerra Civil que dura até 1939.

As atrocidades cometidas são inacreditáveis, muito difíceis de compreender entre os seres humanos e entre pessoas do mesmo país.

Em 1939, Salazar recusa aderir ao "Pacto Anti-Komintern" contra o comunismo e contra a URSS.

O Dr. Oliveira Salazar, através da censura, consegue que Portugal não seja contaminado pela demência fratricida. Mas um grupo de marinheiros ocupa dois navios de guerra, e preparam-se para ir ajudar os revoltosos. Descobertos quase à saída da barra, foram bombardeados. Houve muitas vítimas.

Salazar, que tinha acabado de comprar os navios, comentou: "Conscienciosamente os mandei pagar. Com a mesma imperturbável serenidade dei ordem para que fossem bombardeados até se renderem ou afundarem".

Ainda não estava sanado este conflito e já Hitler desencadeava a Segunda Guerra Mundial, (1939-1945).

Ainda mais selvagem do que a anterior. Ainda mais criminosa.

Os militares tornaram-se assassinos profissionais, dirigidos por um Governo legítimo.

Civis e militares serviram para fazer milhares de barras de sabão. Morreram mais de sessenta milhões de pessoas. É a suprema humilhação do ser humano.

As próprias acções humanitárias são punidas severamente: o cônsul de Bordéus, ARISTIDES DE SOUSA MENDES, é expulso da carreira diplomática, proibido de exercer advocacia e, Salazar deixa-o morrer na miséria porque salvou mais de trinta mil pessoas da morte ou da prisão. Segundo Salazar, o seu acto podia pôr em causa a neutralidade portuguesa e trazer graves consequências para o país.

Salazar evita o conflito: negocia com uns, negocia com outros, e torna-se implacável quando está em causa a ordem nacional.

A 17 de Março de 1939 é assinado com a Espanha de Franco um Tratado de Amizade e não agressão.

Reforça-se a Aliança Inglesa, estreitam-se os laços de amizade com o Brasil.

A 7 de Maio de 1940 é assinada a Concordata com a Santa Sé e o Acordo Missionário.

A 23 de Outubro de l940, Hitler encontrou-se com Franco em Hendaye, para discutir o problema de Gibraltar, ocupado pelos ingleses. Segundo documentos alemães caídos em poder dos americanos, Franco prometera a Hitler entrar na guerra ao lado do Eixo, mas sob a condição de o fazer em data de sua escolha e ainda apresentou pretensões que o Führer julgou excessivas, uma delas seria a ocupação imediata de Portugal.

Eram restabelecidos os direitos da Igreja.

Proibia-se o divórcio nos casamentos católicos.

Neste mesmo ano realiza-se a Exposição do Mundo Português que serviu para comemorar oitocentos anos de independência. A Exposição foi o símbolo da força e das potencialidades dos portugueses: sempre capazes de renascer do nada desde que usem a inteligência e nunca desistam de alcançar o que pretendem.

Em 1942 rebenta um surto de greves contra a falta de bens essenciais, aumento de preços, ausência de liberdade sindical.

São presos Militão Ribeiro, Júlio Fogaça, Pedro Soares, Pires Jorge e outros.

Em finais de 1943, Salazar funda a casa dos Estudantes do Império.

Em 10 de Junho de 1944 é inaugurado o Estádio Nacional que era uma velha aspiração do Estado Novo, que procurava com este novo recinto não só a promoção da prática do desporto, mas também a criação de um espaço para demonstrações públicas inspiradas nos princípios políticos vigentes.

Para que a ambição do antigo ministro das Obras Públicas, Duarte Pacheco, fosse uma realidade, foram consultados diversos arquitectos, entre os quais, Francisco Caldeira Cabral, Konrad Wiesner, Jorge Segurado ou Miguel Jacobetty Rosa. A este último é apontada a “paternidade” do projecto do Estádio de Honra.

Influenciado por obras como os Estádios Olímpicos de Roma e de Berlim, a edificação do Estádio Nacional levou cinco anos a ser concluída - desde a planificação (1939) até à sua construção -, sendo, mais tarde, inserido no Complexo Desportivo do Jamor, uma autêntica ilha verde no seio da Área Metropolitana de Lisboa.

Em 1948, Adriano Moreira é preso por responsabilizar o Ministro da Guerra pela morte do General Marques Godinho.

O padre Abel Varzim é castigado por usar um estilo marxista, no jornal "O Trabalhador".

Em Novembro de 1949 são eleitos 120 deputados à Assembleia Nacional. Neste ano, Egas Moniz, nasceu em Avanca, (Estarreja), recebe o Prémio Nobel da Medicina.

Em 18 de Abril de 1951 morre o General Óscar Carmona. É eleito Presidente da República o General Craveiro Lopes.

O desenvolvimento do país continua a processar-se a um ritmo lento mas muito seguro. Em 1953 são postos em prática os planos quinquenais (de cinco em cinco anos) ou Planos de Fomento, para que o desenvolvimento do país se processe racionalmente e, com metas de longo prazo, a serem cumpridas em tempos determinados. O multimilionário arménio, Calouste Gulbenkian, grato pela hospitalidade portuguesa e pela afabilidade do povo português oferece a Portugal uma Fundação, de nível mundial, com o seu nome, destinada a proteger as artes, as ciências e os mais carenciados.

A entrega de Salazar ao país era total.

A sua honestidade exemplar. Mas o país nem sempre aceitou, de bom grado, a condução paternalista de um homem só obcecado em trabalhar e poupar.

Em 1958 há eleições para a Presidência da República. Salazar apoia o Almirante Américo Tomás. A oposição apresenta o general HUMBERTO DELGADO e o Dr. Arlindo Vicente.

O General Humberto Delgado era um homem do regime e, certamente, seguiria a mesma política com alguns benefícios para as populações.

Humberto Delgado poderia ter ganho as eleições. Os seus comícios foram bastante concorridos. Teve a infelicidade de responder desastradamente a um jornalista que lhe perguntou o que sucederia ao Dr. Oliveira Salazar, caso ele ganhasse as eleições. Humberto Delgado retorquiu: "Obviamente, demito-o." Esta falta de tacto político fez perder, ao voluntarioso general, as eleições. Custou-lhe a carreira e, mais tarde, a vida.

No ano seguinte, o bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes foi a Roma. É impedido de entrar em Portugal por ter escrito a Salazar, criticando-o.

A 30 de Dezembro de 1959, Portugal entra para a EFTA, Associação de Comércio Livre.

Em 1960 é aceite pelo BIRD, Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento e pelo FMI, Fundo Monetário Internacional.

Em 1961, tudo parece desmoronar-se à volta deste homem.

Em Janeiro de 1961, o comandante Henrique Galvão toma de assalto o paquete "Santa Maria" para chamar a atenção do mundo sobre a falta de liberdades políticas que enfermava o país. Em Fevereiro e Março começam os assaltos a esquadras de polícia em Luanda e os assassínios dos colonos que viviam perto da República do Congo.

Em Abril, o general Botelho Moniz, ministro da Defesa, tenta um golpe de Estado. Descoberto no momento exacto em que ia ordenar às forças armadas para actuarem, foi demitido. A finalizar o ano, em 18 de Dezembro, a Índia ocupa, pela força, os territórios de Goa Damão e Diu. Salazar ordena a sua defesa a qualquer preço.

Os militares não podiam acatar a intimação.

Os indianos eram largos milhares. Seria uma carnificina inútil e injustificada.

Salazar deixou-os ficar prisioneiros largos meses. Quando regressaram, demitiu todos os oficiais do quadro a partir da patente de capitão.

A finalizar o ano, a PIDE assassinou o escultor José Dias Coelho que tinha pertencido ao MUD juvenil e ao PCP.

Em 1962, uma greve de protesto de estudantes Universitários é reprimida pela polícia de choque. Marcelo Caetano, reitor da Universidade Clássica de Lisboa, demite-se do cargo por discordar do procedimento.

As possessões ultramarinas, criadas e colonizadas ao longo de mais de 450 anos, únicas ainda não independentes, após a independência das britânicas, francesas, espanholas, belgas, holandesas, começavam a luta de libertação.

A década de sessenta ficou marcada pelos conflitos ultramarinos e pela sangria da população mais qualificada, que procurava, numa Europa em franca expansão, e no resto do mundo, melhores condições de vida.

Portugal entra em guerra:

Angola, Moçambique e Guiné, são as três frentes de combate que Salazar vai manter durante o resto da sua vida e que vai perdurar por 12 longos anos.

A intervenção militar dos portugueses em África tinha uma forte acção social:

A vida em Portugal continuava firme na economia mas delapidando uma geração inteira de jovens que inevitavelmente seguiam as suas vidas em África, na guerra.

As dificuldades de obtenção de passaporte ou contratos de trabalho foram superados com a passagem das fronteiras a salto e a criação de barracas no estrangeiro, mormente em França, onde tomavam o nome de "bidonvilles". Mas foram essas dezenas de milhar de emigrantes, com as suas volumosas remessas de dinheiro, que permitiram, a Salazar, equilibrar os orçamentos de Estado.

Salazar, prossegue imperturbável a sua tarefa.

O comércio e a indústria desenvolvem-se. A marinha atinge o apogeu.

Salazar não gostava de ser contrariado sobre interesses que ele considerava fundamentais para o bem de Portugal. Isso não o deixou ver que o mundo evoluiu a um ritmo alucinante e que há cedências que são essenciais para a própria defesa e crescimento do país.

A 3 de Agosto de 1968 Salazar sofre um acidente caseiro, cai duma cadeira, de que nunca mais recuperou e do qual veio a falecer a 27 de Julho de 1970 com 81 anos de idade e 42 de poder ininterrupto.

Muitos intelectuais descontentes com Salazar exilaram-se, como foi o caso de Jaime Cortesão, Adolfo Casais Monteiro, Henrique Galvão, Jorge de Sena, ou José Rodrigues Miguéis. Outros, como Aquilino Ribeiro, António Sérgio, Almada Negreiros, Alves Redol, Soeiro Pereira Gomes, Bento de Jesus Caraça, José Gomes Ferreira, Lopes Graça ou Bernardo Santareno, arriscavam edições para a PIDE procurar nas livrarias quando havia muito alarido à volta da obra publicada. Outros, como Ferreira de Castro, Raul Proença, Tomás da Fonseca, Mário Dionísio, Alexandre O'Neill, José Régio, João Gaspar Simões, Maria Lamas, Fernando Namora, David Mourão Correia, Miguel Torga, Vitorino Nemésio, Vergílio Ferreira ou Natália Correia escreviam sem se importar com as consequências.

Presos ou livres, com Salazar ou sem Salazar, é-lhes indiferente. Os políticos são pó, a Literatura é eterna.

PRIMAVERA MARCELISTA.
ESTADO SOCIAL:

Para substituir o Dr. Oliveira Salazar, o Presidente da República escolheu o Doutor Marcelo Caetano.

Era Professor de Direito, reitor da Universidade de Lisboa, considerado um democrata e um homem de inteligência invulgar.

Imediatamente acaba com a sigla da polícia política, PIDE que passa a ser PIDE/DGS. Mais tarde então definitivamente substituída pela sigla única D.G.S, (Direcção Geral de Segurança), para a defesa do Estado. Foi apenas uma mudança “cosmética” porque na DGS ficaram todos os que pertenciam à PIDE, embora funcionando com limitações impostas por Marcelo Caetano.

Abre-se a esperança para a oposição.

Uma luz ao fundo do túnel em direcção à democracia.

Agora, com Marcelo Caetano, liberal, avesso a violências e pacificador, que abria a porta e os braços aos exilados, tudo parecia ir correr bem. Mas ainda em 1968 é preso o padre Felicidade Alves, pároco de Belém e em 1970 o padre Mário de Oliveira da Lixa, apenas por contestarem a política Ultramarina.

Neste ano de 1970, morre Salazar.

A Primavera Marcelista, como ficaram conhecidos os primeiros anos do Professor Marcelo Caetano, saldou-se pelo progresso, uma melhoria social com a atribuição de pensões aos trabalhadores rurais e às profissões mais modestas.

Através das "Conversas em Família" na RTP, o Prof. Marcelo Caetano, explicava ao país as medidas que o Governo tomava e tudo parecia sossegado.

Os planos quinquenais de fomento continuaram.

O desenvolvimento do país era uma realidade. Mas havia necessidade de uma abertura política que permitisse a formação de partidos políticos. Marcelo Caetano sabia-o e tentou tudo para o conseguir.

Em 15 de Maio de 1972, o jornal"Economia e Finanças" advoga a não entrada na CEE, em virtude de, ao fazê-lo, sermos obrigados a abandonar o Ultramar.

A 12 de Outubro é morto pela DGS o estudante José António Ribeiro dos Santos.

A 30 de Dezembro, um grupo de católicos ocupa a capela do Rato e aprova uma moção contra a guerra colonial. A DGS invade o templo; muitos são presos e o padre Alberto Neto, responsável pela capela, é exonerado das suas funções. O período de graça esfuma-se. Marcelo pede a exoneração do cargo ao Presidente da República, mas este não a aceita.

A 13 de Julho de 1973, Marcelo Caetano autoriza os oficiais milicianos a passar aos quadros permanentes. Os oficiais de carreira não gostam do Decreto. Deste descontentamento, motivado pela progressão nas carreiras e seus respectivos vencimentos, irá nascer o 25 de Abril.

A 23 de Fevereiro de 1974 o general Spinola publica o livro "Portugal e o Futuro" onde advoga a adesão à CEE, o fim da guerra no Ultramar e a constituição de uma federação de Estados. É detido pela polícia política, a então DGS.

Os militares sentem-se apoiados.

A 16 de Março de 1974 dá-se um levantamento militar que partiu das Caldas da Rainha mas que abortou.

A 1 de Abril de 1974, O Prof. Marcelo Caetano assiste, em Alvalade, ao jogo Sporting - Benfica. A multidão ovaciona-o efusivamente. Ele, que já tinha pedido, de novo, a exoneração do cargo, alegando razões de saúde, fica emocionado e resolve permanecer no cargo.

A 17 de Abril, o ministro do Ultramar, Dr. Rebelo de Sousa, faz sair uma portaria que tornava extensiva, a Lei Nº 5/73 (reforma do sistema educativo) às províncias de além-mar.

A 25 de Abril de 1974, o Regimento de Santarém, comandado por SALGUEIRO MAIA, avança sobre Lisboa, Marcelo Caetano é informado sobre o que está a acontecer, não tem coragem de o impedir. Pensou que assim seria mais fácil resolver o problema do Ultramar e fazer reformas urgentes com a anuência de diferentes partidos políticos tendo como padrão uma democracia de tipo ocidental. Julga poder continuar no país. Spínola pede-lhe que siga para a Madeira com o Presidente Américo Thomás. Este acusa-o de não ter querido evitar o que aconteceu. Cortam relações. No Funchal compreendeu que as condições não lhe permitiam continuar a colocar a sua inteligência ao serviço da Pátria.

Marcelo Caetano morreu no Rio de Janeiro, amargurado e revoltado com a cegueira e a ingratidão dos homens.

Em carta, datada de 2.XI.78, vinda do Rio de Janeiro e publicada em 1993 no livro "Crónicas da Província e Intervenções Parlamentares" pags, 14 e 15. Edição de "A Província", ao responder a perguntas, nomeadamente por que aceitou ser Primeiro-ministro e lá continuou, a certa altura diz:

"...foi isso que me permitiu aguentar cinco anos e meio o regime e fazer um esforço para salvar o que fosse possível, no meio da cegueira dos políticos, da recusa de colaboração dos adversários ou dos reticentes, do egoísmo dos capitalistas, da estupidez da alta burguesia, das ilusões dos intelectuais irresponsáveis, da manobra da Igreja preocupada em não perder algum comboio vindouro e a braços com o problema ultramarino que no país a direita se recusava a compreender da única forma possível e que a ONU não deixava resolver pela única maneira que seria admissível para Portugal..."

Vê-se, por este pequeno extracto, quanto, Marcelo Caetano se sentia amargurado, frustrado e desiludido com a incompreensão dos homens.

A TERCEIRA REPÚBLICA:

Forma-se uma Junta de Salvação Nacional composta pelos generais do exército; António Spínola e Costa Gomes. Generais da Força Aérea; Galvão de Melo e Diogo Neto. Comandantes da Marinha; Rosa Coutinho e Pinheiro de Azevedo, em substituição do Governo deposto. Mas o Movimento das Forças Armadas (MFA), formado pelos Capitães de Abril, pretende ser ele a ratificar decisões para impedir que o espírito da Revolução não possa ser subvertido.

À euforia do 25 de Abril, seguiu-se, pouco tempo depois um clima de receio e desconfiança. Formaram-se rapidamente vários partidos. De todos, o melhor organizado era o comunista, liderado por Álvaro Cunhal que saía da clandestinidade e tinha os seus próprios quadros.

O socialista, liderado por Mário Soares, tinha muitos contactos internacionais, mas não possuía como o partido comunista o apoio financeiro e político do bloco de Leste (União Soviética), que continuava inexoravelmente com a sua política expansionista.

O 1º Governo Provisório, presidido pelo Dr. Adelino da Palma Carlos, tenta um equilíbrio de forças.

No Governo ficam os representantes dos três principais Partidos: Mário Soares pelo Partido Socialista; Sá Carneiro pelo Partido Popular Democrático e Álvaro Cunhal pelo Partido Comunista Português.

A maior dificuldade estava em resolver o problema do Ultramar.

A Junta de Salvação Nacional e os generais Spínola e Costa Gomes eram a favor de uma tese federalista, tornando os Estados autónomos mas interdependentes, pelo menos durante alguns anos, até formar quadros capazes de dirigir os países sem sobressaltos.

À frente do Ministério da Coordenação Interterritorial está o Dr. Almeida Santos que tenta tudo para que os territórios Ultramarinos tenham uma transição calma de modo a preservar a qualidade de vida dos povos.

Em 21 de Maio de 1975 vai a Moçambique. Em Lourenço Marques (Maputo), declara que a independência será uma das opções a realizar dentro de um ano, depois de um referendo. Não o compreenderam assim os Capitães de Abril e o Partido Comunista que, numa atitude precipitada, insistem e permitem a independência de Moçambique, Guiné, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.

Fazem-se greves por todo o país.

A insensatez dos piores momentos da lª República parecia recomeçar.

Em Timor, depois de repudiarem a bandeira portuguesa, assassinarem, sem razão, o chefe da polícia, Magiolo Gouveia, prenderem 23 militares portugueses, entraram num breve, mas sangrento, período de guerra civil. A Fretilin declara unilateralmente a independência. O território acaba por ser ocupado pela Indonésia a pedido da UDT (União Democrática de Timor) e da Apodéti. Portugal, consciente das suas responsabilidades, recorre às instâncias internacionais que forçam a Indonésia a aceitar um referendo que dará a independência a Timor, passados 26 anos depois do 25 de Abril.

A independência de Angola, forçada pelo MPLA, deu-se a 11 de Novembro de 1975. Não foram acautelados, nem os interesses dos Angolanos, nem os dos portugueses.

Em Portugal começaram a chegar refugiados de todos os territórios ultramarinos, rebaptizados de colónias, chamados "os retornados". Foram criados serviços de apoio e atendimento mas, enquanto uns souberam aproveitar as facilidades concedidas e se instalaram e prosperaram, muitos outros não conseguiram sobreviver à desgraçada conjuntura. Não houve serenidade, ponderação e firmeza. A pressa nunca deu bons resultados. No momento, faltou a coragem para dizer não. Tinham-se poupado milhares de vidas em Angola, Moçambique, Guiné e Timor. A desculpa de que estava farta de guerra que não tem justificação. Tanto os portugueses como os povos dos territórios ultramarinos queriam a liberdade. Pagaram-na com um preço altíssimo e podiam-na ter, de igual modo, mas de uma maneira civilizada.

Em Portugal instala-se a confusão. As forças policiais e a autoridade judicial são vexadas por todo o lado. Ninguém as respeita.

Nas escolas é o caos, os alunos fazem comícios quando querem, interrompem as aulas, os professores são obrigados a aceitar e a ouvir o inacreditável, sob a ameaça estabelecida de serem reaccionários. Houve escolas em que foram feitos autos de fé aos livros de história e milhares deles foram queimados para apagar da memória do país alguns actos considerados indignos pelos novos mentores da sociedade portuguesa. Acabam as escolas Comerciais e Industriais que tão úteis tinham sido para o desenvolvimento do país.

Os tumultos, as greves, as perturbações da ordem eram constantes.

Os trabalhadores não ouviam ninguém. Julgavam que liberdade era só trabalhar quando entendessem.

Muitas empresas fecharam, o desemprego aumentou vertiginosamente e os mortos da revolução, praticamente, foram aqueles que se suicidaram por não terem trabalho. Por estranho que pareça e em comparação com os pronunciamentos da Primeira República, em que houve milhares de mortos, o 25 de Abril saldou-se por meia dúzia. Isso deve-se aos 46 anos de paz interna que não criou ódios violentos.

Os erros cometidos explicam-se pela ignorância do povo que acreditava na demagogia de uns tantos, também eles ignorantes, que pensavam que aquilo que faziam e diziam iria salvar o país. A intenção era boa, mas a realidade da vida é bem diferente. Governar um país, não é o mesmo que governar uma mercearia familiar, onde o deve e haver, se contabilizam no livro de vendas, a débito e a crédito.

A ignorância do povo era, em parte, devido a Salazar e em grande parte devido a professores, de todos os graus de ensino que, salvo raras excepções, se compraziam a reprovar alunos para que os braços nos campos e nas fábricas não faltassem.

Os alunos também acabam por rejeitar matérias cuja insuficiência não as torna atractivas. Não lhes dizem nada para entrar no mundo do trabalho. São matéria para esquecer ou matéria que envelhece tão rápido que é crime sacrificar-lhe a juventude. Os professores esquecem a sua mocidade, as suas deficiências, as suas revoltas. Repetem os mesmos erros. Ainda não entenderam que um aluno não é para reprovar. Um pai também não reprova um filho. Ensina-o. Ensinar a pensar e a utilizar os livros, isso sim, é fundamental. Muitos professores esquecem-se de explicar, aos alunos, qual é o objectivo da matéria dada. Para que serve este ou aquele teorema de matemática, qual é a finalidade daquilo que estão a aprender. Isso acaba por tornar as matérias desinteressantes. Hoje, os Governos têm à sua disposição um método fácil de evitar o insucesso:

O Governo deve utilizar a televisão e a Internet como meios informativos ou repetitivos das matérias fundamentais para o desenvolvimento do país e bem-estar social.

De cinco em cinco anos os professores deviam sair da escola, prestar serviço, no mercado de trabalho, para desse modo estarem em contacto com a vida activa e assim compreenderem, perfeitamente, a ligação da escola ao mundo exterior. O exemplo mais evidente do que se tem afirmado está patenteado nos enganos ou na "ignorância" de ministros e primeiros-ministros em matérias dadas na escola e indispensáveis para a passagem de ano. Esses homens de Estado, frente a câmaras de televisão, não as sabem e nem por isso os seus actos e os seus Governos são prejudicados por essa ou essas falhas. São os olhos para o futuro que é preciso ajudar a abrir, não são as mesquinhices do ensino que é fundamental decorar. É melhor ter um lavrador doutor com ideias gerais, que um lavrador analfabeto. A escola serve para ajudar a desabrochar o espírito. Aquilo que o aluno não aprendeu na escola vai repensá-lo no mundo do trabalho. O professor tem de ser o despertar da vida. É a voz que alerta. Nunca o carrasco que condena. Mas voltemos à outra história. O Governo quer impor-se. O MFA não deixa. O PREC (Processo Revolucionário em Curso) é liderado pela inconsciência, pelas rádios e pelos jornais que gritam e escrevem as palavras de ordem para que o caos continue. O quarto poder (a comunicação social), nunca teve tanto poder e nunca o utilizou tão mal, salvo raras excepções.

Os militares, que compõem o Movimento das Forças Armadas, excitados pelo êxito fácil e pelas aclamações daqueles que nada fazem e pouco têm a perder, impõem a sua vontade porque têm a força das armas.

O primeiro-ministro, Palma Carlos, demite-se.

O MFA indica o nome do coronel Vasco Gonçalves como novo Primeiro-ministro. O Presidente da República, General Spínola, tenta, ele também, travar a onda inconsciente que percorre o país. Não o conseguindo, demite-se. Alguns membros da Junta de Salvação seguem-lhe o exemplo por discordarem da linha pró-comunista dada ao Governo pelo primeiro-ministro. É nomeado, pelo Movimento das Forças Armadas (MFA), Presidente da República o General Costa Gomes.

No Governo passam a dominar os comunistas e os militares de esquerda.

Começam as prisões arbitrárias dos empresários e de todos aqueles que denunciam as infantilidades perigosas, em que os militares estão a cair por impreparação política, incompetência e pouca experiência da vida prática.

Fazem-se ocupações de casas e de herdades, expropriações sem qualquer sentido, nacionalizam-se os jornais.

Espalha-se o boato que o COPCON (comando das forças operacionais) tem uma lista de figuras a abater.

É a matança da Páscoa. Todos aqueles que podem e temem represálias saem apressadamente do país. Começam as ocupações de terras no Alentejo e no Ribatejo.

A situação torna-se insustentável. Adivinha-se um banho de sangue.

A 11 de Março de 1975 há um esboço de golpe militar que não resulta. É criado o Conselho da Revolução, o Conselho de Estado e o Conselho dos Vinte.

As nacionalizações aumentam de ritmo.

O descrédito internacional é enorme.

O país está economicamente arrasado.

O MFA continua a impor a sua vontade, injusta e infantil, sem ter quem lhe faça frente. Não se dá conta que está a prejudicar Portugal e o futuro dos seus próprios descendentes. Aceita, no entanto, que se realizem eleições para a Assembleia Constituinte mas com a condição de os partidos se comprometerem a nela reconhecerem o Conselho da Revolução como órgão de soberania e que Portugal caminharia sempre rumo ao socialismo.

De uma só vez são nacionalizadas 24 empresas.

Socialistas e comunistas não se entendem.

Na festa do 1º de Maio de 1975, os comunistas impedem que Mário Soares use da palavra. No dia seguinte, o PS convoca outra manifestação e nenhum comunista foi também autorizado a falar. As esquerdas tinham-se dividido.

Depois da ocupação, pelos comunistas, do jornal "República", afecto ao PS, os ministros socialistas abandonam o Governo. Mário Soares acusa o Governo de querer impor uma ditadura em Portugal e pede a substituição do primeiro-ministro, Vasco Gonçalves.

O MFA constitui um directório político militar formado por Costa Gomes (Presidente da República); Vasco Gonçalves (Primeiro ministro) e Otelo Saraiva de Carvalho (comandante do COPCON). A violência verbal espalha-se por todo o país.

A insegurança é geral:

O Partido Socialista pede para formar Governo mas o Presidente da República nomeia, mais uma vez, Vasco Gonçalves para o 5º Governo Provisório.

O Presidente da República começa também a ser conotado com o Partido Comunista e uma parte do país perde-lhe o respeito. Esta ideia não era correcta.

O General Costa Gomes mostrou uma inteligência invulgar. Sacrificou o nome para não sacrificar o país. Sabia que o Partido Socialista não teria sucesso e iria agudizar os conflitos. Preferiu pactuar com as forças mais activas e com aquelas que tinham as armas para as dominar por dentro.

Em breve aparecem divisões no seio do Conselho da Revolução. Melo Antunes prepara o Documento dos Nove onde censura o extremismo de Vasco Gonçalves e propõe uma plataforma de entendimento. Obtido o apoio de Otelo Saraiva de Carvalho, Vasco Gonçalves é obrigado a demitir-se.

O Presidente da República, com a bênção do COPCON, forma um Governo moderado tendo como Primeiro Ministro, do 6º Governo Provisório, o almirante Pinheiro de Azevedo, com elementos do PS integrados no Governo.

A maioria das rádios e jornais está nas mãos das forças de esquerda. No jornal "O Século" é colocado como Director um tipógrafo, Francisco Lopes Cardoso, com quarenta anos de casa. Não está em causa nem a pessoa, nem o cargo. Está a competência. Os trabalhadores, na sua ingenuidade, puseram em perigo os postos de trabalho e o jornal, um dos mais antigos e conceituados do país, acabou por fechar e lançar largas dezenas de trabalhadores para o desemprego.

A Rádio Renascença, que tinha sido ocupada por gente pouco qualificada e irresponsável, continua a incitar as multidões a desobedecer às ordens que eles considerassem fora da linha revolucionária.

O depósito de Material de guerra de Beirolas está à mercê dos revolucionários; são distribuídas armas de guerra "à populaça".

Os desacatos continuam, a REVOLUÇÃO DOS CRAVOS vermelhos está prestes a transformar-se em banho de sangue da mesma cor.

Ninguém acredita em ninguém, nem respeita seja quem for.

A 22 e 23 de Setembro de 1975 os deficientes das Forças Armadas cercam o Parlamento; a 25, os SUV, (soldados unidos vencerão) movimento composto por soldados e marinheiros armados, fazem uma manifestação em Lisboa, que não resultou num banho de sangue porque o Presidente da República achou que ainda não era oportuno mandá-los enfrentar.

No dia 27, a Embaixada de Espanha é assaltada, saqueada e incendiada.

Era forçoso impedir o caos total.

O Governo manda os pára-quedistas ocupar e destruir as instalações da Rádio Renascença, que era a rádio mais potente e a mais ouvida no país. No norte são rebentados, à bomba, alguns retransmissores da RDP.

No "Diário de Noticias" começa o ataque ao Ministro da Comunicação Social, Dr. Almeida Santos, por este, não demitir o Secretário do MCS, Ferreira da Cunha. A partir deste momento, a inteligência vai concentrar todo o seu poder para dominar a força da ignorância e a força das armas.

Em 12 e 13 de Novembro, trabalhadores da construção civil cercam o Parlamento para exigirem a aprovação de um contrato colectivo de trabalho. O Presidente da República e o Governo decidem actuar e ordenam ao comandante do COPCON, o general graduado, Otelo Saraiva de Carvalho, para repor a ordem, fazendo sair as forças de intervenção. Este recusa-se a obedecer. Os deputados reúnem no Porto. O Partido Socialista denuncia a incapacidade das forças armadas em pôr cobro aos desacatos que, todos os dias, depauperam o país.

O Governo, a 20 de Novembro, declara-se incapaz de governar e pede ao Presidente da República para criar condições de estabilidade. As forças de esquerda rodeiam o palácio presidencial e exigem a demissão do Governo.

O General Costa Gomes tenta chamá-los à razão e aponta o perigo de uma guerra civil de gravíssimas consequências para todos os portugueses.

A confusão total atinge o clímax: Portugal à beira da guerra civil.

Os soldados pára-quedistas de Tancos amotinam-se contra o chefe do Estado Maior da Força Aérea, ocupam as bases aéreas de Monte Real e do Montijo. A Polícia Militar e o RALIS (Regimento de Artilharia de Lisboa) dão-lhes apoio e contam ainda com os militantes da FUP (Frente de Unidade Revolucionária) composta pelo FSP, LUAR, MES e PRP. Só a base de Cortegaça está ao lado das forças do Governo.

O Presidente da República e o Governo conhecem a grave situação do país, já a depender do exterior e sujeitos às imposições do Fundo Monetário Internacional (FMI). Falam com o Grupo dos Nove, recebem o apoio de um dos mais temidos comandantes militares, o coronel Jaime Neves, que está incondicionalmente ao lado do Presidente da República e do Governo, recusando ficar às ordens do general graduado, Otelo Saraiva de Carvalho.

Sabendo que tudo seria mais complicado se os órgãos de Comunicação Social continuassem a campanha destabilizadora, é decretado o estado de sítio ficando restringidos os direitos de expressão, liberdade de reunião e manifestação.

Os jornais de Lisboa não se publicam.

O recolher obrigatório ficou estabelecido entre as 0 e as 5 horas.

É instalado um comando operacional no Regimento de Comandos da Amadora dirigido pelo tenente-coronel Ramalho Eanes, mais tarde, graduado em general.

O coronel Jaime Neves e os seus homens mostraram imediatamente que a loucura tinha acabado e que eles estavam dispostos a dominar quem se lhes opusesse.

A Polícia Militar não acata a ordem para se render.

O major Lobato de Faria, com os seus comandos, submete os opositores, embora tenha sofrido dois mortos.

A partir deste momento e à voz de "Vem aí o Jaime Neves," todas as unidades se rendem. No Ralis, onde os soldados tinham feito um juramento revolucionário de punho fechado, Dinis de Almeida e Carlos Fabião foram presos. Os revoltosos entregaram-se imediatamente ao capitão Salgueiro Maia.

No norte do país, o Brigadeiro Pires Veloso, Comandante da Região Militar do Norte, domina toda a situação com relativa facilidade.

A luta entre o PACTO DE VARSÓVIA e a NATO, a "Guerra Fria" é latente. A Sétima Esquadra Naval Americana encontra-se ao largo pronta a intervir. O Porta Aviões Saratoga fundeia no Tejo; a Espanha prepara-se para invadir Portugal por terra, declara que o fará em três dias; a França e a Inglaterra preparam-se para ocuparem as Ilhas da Madeira e os Açores. Portugal não podia cair para a esquerda comunista. A União Soviética declara firmemente que nunca intervirá militarmente na península ibérica, dá-se O 25 DE NOVEMBRO DE 1975.

A partir do 25 de Novembro, os exaltados revolucionários da extrema-esquerda acalmaram, colapsam-se.

O país começou, pouco a pouco, a voltar à normalidade.

O Presidente da República, Costa Gomes, antes de entregar o cargo, um ano mais tarde, voltou a insistir: "As forças armadas não podem ser partidárias. " Foi eleito Ramalho Eanes Presidente da República.

O 1º Governo Constitucional tinha na presidência Mário Soares.

As primeiras eleições legislativas realizaram-se a 25 de Abril de 1976.

A Assembleia ficou constituída pelo Partido Socialista (PS), Partido Popular Democrático (PPD), Centro Democrático Social (CDS), Partido Comunista Português (PCP), União Democrática Popular (UDP).

A Constituição da República Portuguesa de 1976 (CRP) é a actual constituição portuguesa. Foi redigida pela Assembleia Constituinte eleita na sequência das primeiras eleições gerais livres no país em 25 de Abril de 1975, 1.º aniversário da Revolução dos Cravos. Os seus deputados deram os trabalhos por concluídos em 2 de Abril de 1976, tendo a Constituição entrado em vigor a 25 de Abril de 1976.

Sofreu sucessivas revisões constitucionais em 1982, 1989, 1992, 1997, 2001 , 2004 e 2005.

O Tesouro estava exausto, os quadros tinham saído do país, as despesas públicas tinham aumentado para níveis considerados inadmissíveis, o desemprego era preocupante, a inflação fazia sentir os seus efeitos, os juros atingiram os 35%.

A debandada de África tinha colocado no país mais de quinhentas mil pessoas desorientadas, tristes, descontentes por uma situação que eles não mereciam.

Os filhos de muitos colonos tinham nascido naqueles territórios e muitos dos descendentes eram de cor mostrando que nenhum complexo de pele ou de mentalidade os dividia.

Mário Soares tenta tudo para fazer sair o país da crise. Vendo que o PS sozinho não consegue resolver as dificuldades, contra todas as expectativas, junta-se ao CDS de Freitas do Amaral, para formar o 2º Governo Constitucional. Inesperadamente, os Centristas romperam a coligação apesar de Mário Soares oferecer quase tudo quanto pretendiam para se manterem num Governo que era de aprovação da maioria dos portugueses e que produziu trabalho muito válido. Ramalho Eanes resolve formar um Governo Presidencial. Acaba por formar três, chefiados por Nobre da Costa, Mota Pinto e Maria de Lurdes Pintassilgo.

Em 1979 o PPD e o CDS juntos vencem as eleições.

Formam a Aliança Democrática (AD). É escolhido o Dr. Sá Carneiro como Primeiro-ministro. O país começa a recuperar e tudo parece caminhar no bom sentido mas, Sá Carneiro, tal como já tinha acontecido com Mário Soares, entrou em confronto com Ramalho Eanes e decidiu não o apoiar para as Presidenciais.

Infelizmente, Sá Carneiro e o ministro da Defesa, Adelino Amaro da Costa, um dos homens mais inteligentes e honestos da política, faleceram misteriosamente num desastre de aviação.

Ramalho Eanes acabou por ser reeleito.

Em 9 de Janeiro de 1981, o 7º Governo Constitucional é presidido pelo Dr. Pinto Balsemão.

A Assembleia da República dá o primeiro passo para a normalidade democrática: foi suprimido o Conselho da Revolução.

Sem o chefe carismático que era o Dr. Sá Carneiro, a AD acaba.

Em 1983 o Dr. Mário Soares forma, de novo, Governo em coligação com o PSD. É o "Governo do Bloco Central".

A situação do país continua grave.

O problema dos desalojados de África ainda não está resolvido. A maioria das empresas, tanto públicas quanto privadas encontram-se em situação difícil. Muitas não sobreviverão.

Mário Soares pede estabilidade política, mas o Presidente da República e o Primeiro-ministro, detestam-se mutuamente.

Aparece um novo partido político, o PRD. Em 1 de Junho de 1985, Portugal entra na CEE.

Ramalho Eanes, mais uma vez, decide dissolver a Assembleia da República a 27 de Junho de 1985.

Hermínio Martinho que está à frente do PRD, declara que Ramalho Eanes será o presidente do partido no ano seguinte.

Em 1985 o PSD ganhou as eleições legislativas.

O Professor Aníbal Cavaco Silva, que já tinha sido Ministro das Finanças, foi empossado como Primeiro-ministro.

O centro direita saiu vencedor.

Em 1986 é eleito o Dr. Mário Soares como Presidente da República.

O Governo de Cavaco Silva pode governar com a estabilidade que os anteriores não conseguiram.

A recuperação do país torna-se evidente.

Os fundos estruturais da Comunidade Europeia são um suporte precioso.

A paz social ganha consistência. Mas o PRD, agora com Ramalho Eanes, força a queda do Governo através de uma moção de censura. Foi um desastre. O PSD sai reforçado das eleições e Cavaco Silva, foi de novo, empossado como Primeiro-ministro.

Otelo, o estratega do 25 de Abril, é condenado a 15 anos de prisão por pertencer às FP 25 de Abril, as quais tinham cometido atentados, assaltos e algumas mortes. Otelo tinha um plano elaborado para ocupar Olivença militarmente para provocar confronto armado.

Cumpre pouco mais de um ano de prisão.

Em 1991, Mário Soares volta a vencer as eleições para a Presidência da República.

Cavaco Silva continua como Primeiro-ministro.

Portugal entra no ritmo europeu.

O desenvolvimento processa-se segundo os padrões da Europa evoluída.

Em 1995 o Partido Socialista, centro-direita, vence as eleições Legislativas.

O Engenheiro António Guterres é empossado Primeiro-ministro.

Em 1996 é eleito Presidente da República o Dr. Jorge Sampaio.

A nova moeda portuguesa e europeia, o EURO, vai tornar-se realidade, com o valor facial de 1, 2, 5, 10, 20, 50 cêntimos e 1 e 2 euros, em moeda metálica.

As notas terão o valor de 5,10, 20, 50, 100, 200, 500 euros e serão comuns em Portugal, Espanha, Itália, França, Alemanha, Áustria, Bélgica, Holanda, Luxemburgo, Irlanda e Finlândia.

O SEBC (Sistema Europeu de Bancos Centrais) passa a dirigir toda a política monetária e o BCE (Banco Central Europeu) passa a controlar a emissão das notas em todos os Estados membros.

Em 1998, Portugal realizou a última grande exposição deste milénio. Foi a homenagem ao mar que semeou os portugueses pelo mundo.

Neste mesmo ano de 1988, José Saramago, pertencente ao comité central do Partido Comunista Português recebe o Prémio Nobel de Literatura.

Em 1999, António Guterres, volta a merecer a confiança dos Portugueses.

Ganha, de novo, as eleições. O seu Governo em diálogo, inteligente, calmo e consensual é uma esperança de progresso e bem-estar social.

No final do século entregámos Macau nas mãos da imensa China. Fechámos o ciclo da aventura e do sonho.

Este texto acima foi elaborado aquando de uma das minhas estadias no Brasil, inserido no contexto da História de Portugal que aí iniciei.
A Saga continua até à actualidade, com a crise económica que se cimentou.

Portugal subsistiu aos trambolhões, durante 771 anos de Monarquia até 5 de Outubro de 1910; neste ano de 2010 vai fazer um século, desde que foi implementada a República.

Por estranho que pareça Portugal em toda a sua História de luta só conheceu superavit três vezes: Quando do Reinado de D. Diniz “O Lavrador”; quando do Reinado de D. Manuel I pela interposição do seu primeiro-ministro o Marquês de Pombal de seu nome Sebastião José de Carvalho e Melo (figura muito controversa); e finalmente quando do Professor Doutor Oliveira Salazar tomou o rumo da Nação, a retirou do fosso em que a 1ª República se encontrava mergulhada, instituiu o Estado Novo, até ao período das guerras no ultramar em três frentes: Angola, Moçambique e Guiné.


Pelos seus erros que hoje reconhecemos, inclusive a recusa do Plano Marshall, após a 2ª guerra, quer queiramos ou não, por tendência ideológica politica, - a história não perdoa -  a verdade é que Salazar foi o único governante de sempre que terminou mais pobre do que inicialmente era quando entrou para o governo.

O Reino de Portugal era Portugal sob a designação geral da monarquia. O reino localizava-se no Oeste do Península Ibérica, Europa, e existiu de 1139 a 1910 (711 anos) e estendia-se ao Ultramar, Brasil, Angola, Moçambique, Guiné Bissau, Macau, Goa, Damão e Diu.

A partir de 5 de Outubro de 1910 passou à designação de Republica Democrática. Portanto 771 anos de Monarquia e 100 anos de República completados a 5 de Outubro de 2010.

NOTA PESSOAL: Não sou monárquico porque nasci na República e nela fui educado, mas pelo estudo histórico que faço, reconheço que D.Carlos foi um Rei merecedor, foi o homem certo no momento e local errados e se algo do nosso desaire subsiste só o devemos à monarquia Inglesa.
Antigamente o nosso hino nacional, no verso onde se canta “…contra os canhões, marchar, marchar…” tinha outra designação: “...contra os Bretões, marchar, marchar…” em consequência do ultimato Inglês “mapa cor de rosa” que foi uma das causas da instauração da República. Observando agora os cem anos de República duvido que tenha valido o sacrifício das vidas que pereceram. Também não sou Republicano mas sim algo chamado utópico que o homem com toda a sua “magnanimidade” ainda não conseguiu atingir, apesar de todas as ideologias, filosofias e vivências.
Tenho pena das gerações vindouras, sem vaticínios messiânicos, a realidade é que o futuro é muito pouco promissor e tudo o que se faça agora para evitar o que aí vem, já é tarde, não há retrocesso.
Pode ser que então, depois, nasça uma nova ordem. Como sempre tudo se transforma e a esperança foi a única que ficou na caixinha de Pandora: http://rpg_ficcao.sites.uol.com.br/Sistema/Tecnologia01.htm

terça-feira, setembro 14

O GRUPO DE LAOCOONTE


O GRUPO DE LAOCOONTE é uma escultura em mármore, também conhecida como Laocoonte e os seus filhos, hoje em dia exposta no Museu do Vaticano, em Roma. A estátua representa Laocoonte e os seus dois filhos, Antiphantes e Thymbraeus, sendo estrangulados por duas serpentes marinhas, um episódio dramático da Guerra de Tróia relatado na Ilíada de Homero e na Eneida de Virgílio. Laocoonte, um sacerdote de Apolo, foi o único que pressentiu o perigo que o cavalo de Tróia representava para a cidade e que protestou contra a ideia de o levar para dentro das muralhas. Segundo a lenda, Poseidon, um Deus que favorecia os gregos, enviou então duas serpentes para calar a voz da oposição. O cavalo acabou por ser levado para Tróia, com as consequências trágicas que se conhece.
O grupo de Laocoonte é descrito por Plínio o velho, no volume 36 da sua Naturalis Historia, como uma obra de arte superior a qualquer pintura ou bronze conhecido do autor. A escultura encontrava-se então no palácio do Imperador Tito. A autoria da obra é atribuída por Plínio a Hagesander, Athenodorus e Polydorus, três escultores da ilha de Rodes. Através do cruzamento desta informação com o período de vida dos escultores, a estátua fica datada na segunda metade do século I a.C., mais provavelmente entre 42 e 20 a.C. A escultura foi provavelmente encomendada por um cidadão romano rico, mas não se sabe exactamente como foi parar às mãos imperiais. Após esta menção de Plínio, o grupo de Laocoonte desaparece nos 1400 anos seguintes.
No dia 14 de Janeiro de 1506, o romano Felice de Fredi descobriu uma estátua durante uns trabalhos de manutenção da sua vinha, localizada na zona das antigas termas de Tito. A escultura desconhecida estava desfeita em cinco pedaços, mas todos os habitantes da Roma renascentista sabiam reconhecer uma obra clássica quando a viam e de Fredi passou a palavra a Giuliano de Sangallo, arquitecto do papa Júlio II. Sangallo acorreu ao local da descoberta de imediato trazendo consigo Michelangelo Buonarroti, que por coincidência almoçava na sua casa nesse dia. De imediato, os dois reconheceram a estátua desfeita como o grupo de Laocoonte descrito por Plínio e enviaram a notícia da descoberta a Júlio II, que comprou a estátua na hora por 4140 ducados.
A redescoberta do grupo de Laocoonte causou grande sensação em Roma e a sua apresentação à cidade como parte da colecção dos jardins do Vaticano foi um acontecimento social. Felice de Fredi foi recompensado com uma pensão vitalícia de 600 ducados por ano e quando morreu, o seu papel na descoberta da estátua ficou mencionada no seu túmulo.
Apesar de ser considerada já então uma obra impressionante, o grupo de Laocoonte era uma estátua incompleta pois faltava o braço direito da figura do próprio Laocoonte. A omissão provocou o debate da comunidade artística romana, polarizado entre duas opiniões: Michelangelo sugeriu que o braço estivesse dobrado sobre o ombro do personagem, enquanto a maioria defendia que estivesse, pelo contrário, distendido numa posição mais heróica. Júlio II organizou então uma competição informal onde os escultores pudessem propor a solução para o problema. Rafael, como júri do concurso, acabou por escolher uma proposta que representava o braço esticado, e a estátua foi completada desta forma. Em 1957, o verdadeiro braço perdido de Laocoonte foi descoberto num antiquário italiano e, como Michelangelo previra, estava de facto dobrado sobre o ombro.
O grupo de Laocoonte depressa se transformou numa celebridade na Europa e num motivo de cobiça. No âmbito dos tratados assinados com França, o Papa Leão X prometeu oferecer a estátua ao rei Francisco I de França. Mas como este Papa era um amante de arte clássica, e não pretendia separar-se da obra prima, encomendou uma cópia ao escultor Baccio Bandinelli, que acabou por ser o modelo de muitas outras versões menores em bronze. O tratado com os franceses acabou por não ser cumprido e esta cópia encontra-se hoje exposta na galeria Uffizi em Florença.
Em 1799, Napoleão Bonaparte conquistou a Itália e levou o grupo de Laocoonte para o Museu do Louvre, em Paris, como espólio de guerra. A estátua acabou por ser devolvida ao Vaticano por iniciativa britânica, depois da queda de Bonaparte em 1816.

O grupo de Laocoonte foi uma das influências principais nos trabalhos de Michelangelo posteriores à sua descoberta. O escultor italiano ficou bastante impressionado com a monumentalidade da escultura e a estética helenística das personagens, em particular a figura de Laocoonte.
A estátua foi ainda objecto de comentários da autoria de Winckelmann e Goethe, e o mote de Laokoön, um ensaio de Gotthold Lessing escrito no século XIX, que se tornou um clássico de crítica artística.