sábado, março 27

DINASTIA AFONSINA OU DE BOURGONHA (Capetiana)


PRIMEIRO REI DE PORTUGAL

D. AFONSO HENRIQUES – O CONQUISTADOR

1111/1185 (reinou de 1128 a 1185)

Filho do conde D. Henrique e da infanta D. Teresa.

D. Afonso Henriques nasceu possivelmente em Coimbra, em 1109, e faleceu em Coimbra em 8 de Dezembro de 1185 e foi, possivelmente, criado e educado em Guimarães onde viveu até 1128. Casou em 1145/1146 com D. Mafalda, que nasceu em data incerta, e morreu em Coimbra a 4 de Novembro de 1157, ficando sepultada no Convento de Santa Cruz; filha de Amadeu II, conde de Sabóia e Piemonte, e da condessa Mafalda de Albon. Tiveram os seguintes filhos:

1. D. Henrique, nasceu a 5 de Março de 1147 e morreu jovem;

2. D. Sancho, que herdou a coroa;

3. D. João, nasceu e morreu em data incerta;

4. D. Urraca, nasceu em Coimbra, por volta de 1150, e casou com D. Fernando II, rei de Leão, por 1165; sendo repudiada em 1179; faleceu em ano incerto; (*)

5. D. Mafalda, nasceu em Coimbra, em ano incerto; noiva do conde D. Raimundo de Berenguer, filho do conde de Barcelona, em 1160; faleceu pouco depois;

6. D. Teresa, nasceu em ano incerto; casou com Filipe de Alsácia, conde de Flandres, por volta de 1177; faleceu depois de 1211, em Furnes);

7. D. Sancha, nasceu e faleceu em data incerta.

O monarca teve os seguintes filhos bastardos:

8. D. Fernando Afonso, referido em documentos de 1166 a 1172;

9. D. Pedro Afonso (n. e f. em data incerta), por muitos, considerado também irmão do monarca, pois tomou parte na conquista de Santarém e esteve em Claraval antes de 1153.

10. D. Afonso, nasceu em ano incerto; mestre da Ordem de S. João de Rodes, de 1203 a 1206; faleceu em 1 de Março de 1207;

11. D. Urraca, que nasceu e faleceu em data incerta.

D. Afonso Henriques, aos 16 anos arma-se a ele próprio cavaleiro em Zamora. Tenta impor-se perante a mãe. Ela resiste, ele não cede e Afonso VII, rei de Leão, veio cercá-lo a Guimarães para lhe abrandar o carácter. Egas Moniz, que tinha sido aio de D. Afonso Henriques, e era seu alferes-mor, perante a situação difícil do seu pupilo, vai ao rei de Leão e promete-lhe que o jovem Afonso lhe prestaria vassalagem. Ele não prestou. Egas Moniz e a família foram, de corda ao pescoço, junto do rei para pagarem com a vida a promessa não cumprida.

Afonso VII não aceitou o sacrifício do honrado homem. O príncipe prosseguiu, sem pruridos de consciência, a tarefa iniciada pelos pais.

Como D. Teresa, depois da morte do marido, se tivesse ligado ao fidalgo galego Fernão Peres de Trava e muitos fidalgos galegos fizessem parte do seu séquito, o que era contrário à ideia da separação da Galiza, D. Afonso resolveu combatê-los.

Em 24 de Julho de 1128 deu-se a BATALHA DE S. MAMEDE, junto ao castelo de Guimarães.

D. Teresa e os seus companheiros de armas foram derrotados. D. Teresa saiu de Portugal. Faleceu dois anos depois em Leão. Repousa na Sé de Braga onde se encontra ao lado do marido.

Portugal tinha-se libertado da Galiza mas continuava sujeito ao rei de Leão. O jovem Afonso não se conforma só com a autonomia. Quer ser independente.

Afonso VII era seu suserano. Suserano era o senhor de quem dependiam outros chefes de menor importância:

Portugal era um feudo (propriedade) do rei Afonso VII e Afonso Henriques seu súbdito. Tinha de lhe prestar vassalagem. Isso estava fora dos seus projectos. Em vez de obediência e vassalagem, o jovem Afonso atacava terras de Leão e Castela.

Em 1131 muda a capital de Guimarães para Coimbra. Em 1137 vence os Leoneses na batalha de Cerneja. Mas, tal como o pai, sabe que só a Igreja lhe pode valer.

Afonso Henriques vai buscar o francês Bernardo para bispo de Coimbra. Edifica ao mesmo tempo o Mosteiro de Santa Cruz e coloca-o sob a protecção da Santa Sé. Mais tarde funda e protege a construção do Mosteiro de Alcobaça.

Dota-o de um couto enorme onde os monges podiam arrotear a terra, ensinar a ler e organizar populações.

Os lugares ficavam defendidos e beneficiados pelo saber que os monges divulgavam. Os abades cistercienses de Alcobaça eram tidos em grande conta pela Santa Sé.

D. Afonso bem precisava que assim fosse. Os desentendimentos com o rei de Leão continuavam.

Os mouros conheciam estas quezílias e aproveitavam-nas.

Afonso Henriques convence o rei de Leão a fazer as pazes, em Tui. A seguir lança-se sobre os mouros e vence-os na batalha de Ourique em 25 de Julho de 1139.

A Batalha de Ourique

Batalha de Ourique foi travada em 25 de Julho de 1139, dia de Santiago, entre as forças do nosso primeiro rei e as de um chefe islâmico denominado Esmar.

A Batalha de Ourique associa-se à história da aclamação de Afonso Henriques como rei pela nobreza guerreira, em que se descreve o seu regresso triunfal a Coimbra, com a possível indicação de ter sido a partir desse momento que o infante passou a intitular-se rei.

Associada a esta batalha existe uma lenda que a descreve como uma batalha travada contra cinco reis mouros e ganha, ou pela força da protecção divina (versão clerical) ou pela valentia dos cavaleiros (versão nobiliárquica), num caso e noutro dispensadora de terras e riqueza, de reino e realeza.

No entanto sobre a batalha real pouca informação existe, o que leva a crer que o confronto de Ourique se teria traduzido, na realidade, numa refrega militar de modestas proporções, quando confrontada com as grandes batalhas da Reconquista.

História da Batalha

Reunidas as suas tropas, no burgo de Coimbra, em Maio de 1139, Afonso Henriques marcha já em fins de Junho sobre Leiria, onde agrega à sua hoste os cavaleiros-vilões e alguma peonagem dos novos concelhos fronteiriços. E daí, num impetuoso fossado sobre as terras sarracenas, interna-se no Gharb, assolando e saqueando lugares, devastando todo o país.

Não tinham esmorecido ainda tanto, apesar de em manifesta decadência, os brios militares dos almóadas, que não congregassem logo as suas tropas e as dos Mouros espanhóis para marcharem ao encontro da hoste afonsina, cortar-lhe o passo, desbarata-la.

Nos campos de Ourique, feriu-se a 25 de Julho a memorável batalha, a que os Mouros, sob o comando de Esmar, levaram num esquadrão, de amazonas as suas próprias mulheres, talvez por carência de forças neste rincão de Aurélia e outras dificuldades mais graves.

À exepção desta, afirma Herculano, as circunstâncias da Batalha de Ourique ignoram-se inteiramente. Sabemos só que Afonso Henriques desbaratou os sarracenos, cujo chefe, denominado nas crónicas portuguesas por rei Esmar, a custo salvou a vida com a fuga. O campo ficou alastrado de mortos, entre os quais se acharam os cadáveres de muitas das mulheres que ali tinham vindo e haviam perecido combatendo como as antigas amazonas.

A partir deste momento D. Afonso Henriques considera-se rei de facto. Comunica essa decisão a Afonso VII. Este não aceita.

Em 1140 dá-se o Torneio de Valdevez entre cavaleiros Portugueses e cavaleiros de Leão e Galiza.

Saem vencedores os cavaleiros de Afonso Henriques.

D. Afonso Henriques aproveita as boas graças da Igreja, e, por intermédio do Arcebispo de Braga, D. João Peculiar, faz com que o Papa Inocêncio II aceitasse a sua vassalagem contra o pagamento de um censo (quantia que os reis pagavam ao Papa) de quatro onças (onça=31gr) de ouro por ano.

D. Afonso Henriques fez construir o castelo de Leiria em 1135, para servir de poderosa base defensiva e ofensiva. Alguns anos mais tarde, atreveu-se mesmo a um ousado, mas de forma alguma inédito "raid", bem no coração da mourama.

Atravessou o Tejo e internou-se na vasta planície quase deserta do Ribatejo e do Alentejo Norte. Uns 110 Km a sul do Tejo alcançou provavelmente a antiga estrada romana e muçulmana que o levou com facilidade para o Sul, distante mais de 200 Km da fronteira. Em Ourique. pequena cidade perto dessa estrada, encontrou por fim o exército defensivo muçulmano, que conseguiu derrotar à frente de algumas centenas de homens a cavalo ( 1139 ).

Era a sua grande vitória mas não a pode explorar. Tratava-se apenas de uma razia, sem o apoio de qualquer sistema organizado de abastecimentos e cobertura de reservas. Ourique estava longe de mais para ter algum significado na conquista cristã. Afonso Henriques regressou ao reino, muito provavelmente sem ter provocado no Alentejo islâmico qualquer perturbação de monta.

O Arcebispo envia o Cardeal Guido de Vico junto de Afonso VII, obtendo deste, no tratado de SAMORA (Zamora), o título de rei, que D. Afonso Henriques passa a usar, de facto e de direito, em 1143.

A Santa Sé e o Papa Lúcio II, só o tratam por Dux.

Os homens da Igreja eram os mais cultos, aqueles que sabiam ler, contar e interpretar. Utilizavam o conhecimento, a ponderação, a inteligência. Eles nunca poderiam desagradar ao rei de Castela, Leão e Aragão. O espaço territorial e as gentes que o ocupavam eram muitíssimo superiores às terras e às gentes de Portugal.

Só quando a Santa Sé viu que D. Afonso Henriques e os seus companheiros de armas, como Geraldo Sem Pavor, Martim Moniz, Gonçalo Mendes da Maia e Egas Moniz não eram homens de vergar, começou a de maneira diferente.

D. Afonso Henriques reforça a defesa criando, junto à fronteira de Leão, municípios para prevenir qualquer ataque leonês e prepara-se para alargar o território para sul.

Em 1147, D. Afonso Henriques, aproveita uma chegada de Cruzados ao Porto, convence-os a ajudá-lo a desalojar os mouros. Lança-se à conquista de Lisboa, Santarém, Sintra, Almada, Palmela.

Em 1158 conquista Alcácer do Sal, Serpa, Juromenha, Cáceres, Trujilho. Afonso Henriques é homem de rara visão política. Sabe conquistar povoações e atrair para a sua causa os vencidos.

Em 1169 D. Afonso Henriques fica prisioneiro de Fernando II Rei de Leão, seu primo e genro, (*) aquando do cerco de Badajoz, depois de partir a perna direita, na retirada, ao embater violentamente no ferrolho de um portal quando combatia a cavalo. É depois posto em liberdade mediante acordo firmado com o rei. Retira-se para as termas de S. Pedro do Sul a fim de se tratar dessa grave lesão.

Em 1170 concede foral aos mouros livres de Lisboa e das povoações ao sul do Tejo, oferecendo-lhes os mesmos direitos que os dos cristãos. Em 1172 a Ordem de Santiago fixa-se em Portugal.

São-lhe entregues para guarda e usufruto: Arruda, Alcácer, Almada e Palmela. É a maneira de conservar as conquistas.

Em 1179, o Papa Alexandre III, pela bula “Manifestis Probatum”, trata, finalmente, D. Afonso Henriques por rei.

A vida de D. Afonso Henriques é uma batalha constante. Já no seu termo, ao atacar Badajoz, fica prisioneiro do genro, Fernando II de Leão. Este liberta-o depois de ter recebido uma compensação de guerra.

Em 1182 nomeia Julião Pais chanceler-mor (equivalente a primeiro ministro). Era o primeiro passo para a organização administrativa do país.

Sinopse Cronológica da História Diplomática Portuguesa de

D. Afonso Henriques

CRONOLOGIA DE ACONTECIMENTOS:

1128: Em Portugal, Batalha de S. Mamede, entre D. AFONSO HENRIQUES e a sua mãe.

1131: Em Coimbra, construção do Mosteiro de Santa Cruz.

1135: D. AFONSO HENRIQUES edifica o castelo de Leiria.

1137
Junho/Julho
Tui - Tratado de paz entre Afonso VII e D. Afonso Henriques, pelo qual este se reconhece vassalo do rei de Leão e Castela em troca da tenência de Astorga.

13 de Dezembro
D. Afonso Henriques presta vassalagem a Inocêncio II, colocando-se a si e ao
reino sob a protecção de S. Pedro e da Santa Sé.

1139: Na batalha de Ourique, vitória de D. AFONSO HENRIQUES contra os mouros.

Primeira guerra civil em Inglaterra, entre Estevão e Matilde.

1140: Início da construção da Sé velha de Coimbra.

Floresce a lírica provençal.

1141: Segunda condenação de Abelardo.

1143: 4/5 de Outubro: Zamora - Afonso VII de Leão e Castela e D. Afonso Henriques juram, na presença do Cardeal Guido de Vico paz duradoura, reconhecendo o primeiro o título de rei ao segundo.

1144: Revoltas contra o Papa; estabelece-se um governo republicano em Roma.

1146: Casamento de D. Afonso Henriques com Mafalda ou Matilde, filha de Amadeu
III, conde de Mouriana ou Sabóia.

1147: Segunda Cruzada. D. AFONSO HENRIQUES conquista Santarém e Lisboa aos mouros.

1148: Derrota dos cruzados frente a Damasco.

1150: Decreto de Graciano: compilação das leis da Igreja (direito canónico).

Por esta data começa a ser utilizada a energia hidráulica para fins mecânicos.

1152: Frederico Barba Roxa, rei da Alemanha.

1154: Henrique II, rei da Inglaterra, dinastia dos Plantagenetas.

1156: Hungria submetida a Bizâncio.

Os árabes iniciam a reconquista das possessões normandas na África do Norte.

É fundada a Ordem dos Carmelitas.

No Japão, os clãs Taira e Minamoto ocupam Quioto.

1157: Ruptura de Frederico com o Papa.

1158: Fundação da Ordem de Calatrava.

1159: D. AFONSO HENRIQUES doa o Castelo de Cera (Tomar) aos Templários e conquista Évora e Beja aos Mouros.

1160: 30 de Janeiro - Tratado de casamento entre D. Mafalda, filha de D. Afonso Henriques, com Raimundo, filho do príncipe de Aragão.

1160: Os normandos são expulsos da África do norte.

1163: Iniciada a construção da Notre-Dame, em Paris.

1165: Negociações de que resultou o matrimónio de Fernando II, rei de Leão, com
Dona Urraca, filha de D. Afonso Henriques.

1166: Floresce Averroes, comentarista de Aristóteles.

1167: Fixam-se em Oxford estudantes ingleses provenientes de Paris.

1168: Os aztecas no México.

1168: Tratado de paz entre D. Afonso Henriques e Fernando II, rei de Leão.

1170: Foral dos mouros livres de Lisboa, Almada, Palmela e Alcácer.

1171: Embaixada enviada por Fernando II de Leão a D. Afonso Henriques, para reiterar o tratado de 1168.

1171: Henrique II inicia a conquista da Irlanda.

Fundado em Veneza o primeiro banco de depósitos.

Surgem inovações económicas: letras de câmbio, seguros marítimos, etc.

Saladino, sultão do Egipto.

1173: Os almóadas, senhores de Espanha.

1174: A Escócia presta vassalagem a Henrique II.

Iniciada a construção da Torre de Pisa.

1174 - Tratado de casamento de D. Sancho I, ainda príncipe, com Dona Dulce, filha de Ramon Berenguer, príncipe de Aragão.

1175: Em Córdoba, floresce o filósofo judeu Maimónides; o Guia dos Perdidos é a sua obra mais importante.

1176: Frederico Barba Roxa, da Alemanha, reconhece a autoridade do Papa Alexandre III.

Saladino na Síria.

1179: 23 de Maio - Bula "Manifestis Probatum", de Alexandre III, confirmando a posse do Reino de Portugal a D. Afonso Henriques e seus sucessores.

1180: Filipe II promove o desenvolvimento do reino da França.

O Romance da Raposa, compilação anónima.

Maria de França: Poemas.

1181: Construção do Alcazar de Sevilha.

Cruzada contra os albigenses.

1182: Nascimento de Francisco de Assis.

1183: Saladino conquista Alepo.

1184: Casamento de Dona Teresa, (Matilde) filha de D. Afonso Henriques, com Filipe de Alsácia, conde de Flandres.

1185: Morte de D. AFONSO HENRIQUES.

Episódio da Aclamação de Afonso Henriques como Rei

Mas, paralelamente ao relato crúzio(b) de Ourique, é natural que uma outra fonte de narrativa contemporânea, a Gesta de Afonso Henriques, dele se tenha ocupado. Nela é provável que a Batalha de Ourique se associasse à ficção da aclamação de Afonso como rei pela nobreza guerreira e se descrevesse o seu regresso triunfal a Coimbra, com a possível indicação de ter sido a partir desse momento que o infante passou a intitular-se rei. Tal texto, veiculando a imagem de um monarca guerreiro, de um primus inter pares, companheiro dos nobres e com eles solidário, reflectia a nostalgia que os cavaleiros de Coimbra tinham pelos tempos prósperos de Afonso: as contínuas incursões em território islâmico, os fossados, associados a saques e pilhagens, à sua fortuna e ascensão social. Tempos diversos dos que se viviam, marcados pelos progressos de uma guerra profissionalizada enquadrada pelas ordens religiosas militares e pelas milícias concelhias. Ourique tornava-se, assim, a memória de alegria da guerra e da consagração dos cavaleiros guerreiros, dos que fizeram os reis. É, portanto, no contexto político-social dos finais do século XII que se começa a esboçar a lenda de Ourique: batalha travada contra cinco reis mouros e ganha ou pela força da protecção divina (versão clerical) ou pela valentia dos cavaleiros (versão nobiliárquica), num caso e noutro dispensadora de terras e riqueza, de reino e realeza. Da batalha real pouco se sabe, incluindo a localização exacta em que se deu e a identidade do misterioso rei Esmar. As fontes árabes silenciam-na, assim como as crónicas castelhanas, omissão que tem sido interpretada como indício seguro de que o confronto, apenas reduzido a uma memória regional, nunca terá tido as dimensões que os textos de Coimbra mais tarde lhe atribuíram. Na sequência de Alexandre Herculano, admite-se hoje que Ourique tenha consistido num simples fossado, ainda que se conceba que nele pudessem estar envolvidas forças de algumas importantes cidades islâmicas chefiadas pelo respectivo governador ou alcaide, atendendo a que, em 1139, desde Abril, Afonso VII de Leão e Castela cercava a praça moura de Oreja, motivando a sua incursão em terreno inimigo a mobilização de tropas provenientes de todo o al-Andalus, podendo ter sido um dos seus contingentes aquele que foi derrotado em Ourique. Quanto ao título régio que, em sequência da batalha, teria assumido Afonso, não se negando que a vitória, naturalmente exagerada, pudesse ter algo a ver com o facto, prefere-se hoje relacionar o acontecimento com o cenário político hispânico da época, atribuindo-se decisiva importância a que Afonso VII se designasse imperador desde 1135 e a que já fosse suserano de dois reis peninsulares (Ramón Berenguer IV de Barcelona-Aragão e Garcia Ramires de Navarra), motivando então a sua ascensão hierárquica uma correlativa promoção titular do seu jovem primo, se bem que a ela se tenha oposto de 1140 (data da primeira intitulação régia conhecida de Afonso) a 1143 (Tratado de Samora). Mas, se o confronto de Ourique se teria traduzido, na realidade, por uma refrega militar de modestas proporções, quando confrontada com as grandes batalhas da Reconquista, tal não significa que progressivamente se não vá reelaborando a sua lenda, dele fazendo um dos mitos fundadores da nacionalidade. Nos anos 40 do século XIV um novo passo é dado nesse sentido pela Crónica Geral de 1344, do conde Pedro de Barcelos, a qual tem como uma das partes a hoje perdida Crónica Portuguesa de Espanha e Portugal, conservada através da IV Crónica Breve de Santa Cruz de Coimbra, texto onde se prosifica a Gesta de Afonso Henriques, pelo que reúne as interpretações que sobre Ourique foram produzidas nos finais do século XII. Sob o impacte directo da Batalha do Salado, acontecimento militar que reavivara os ideais de reconquista e cruzada, o conde de Barcelos consigna um novo elemento da lenda: à vitória de Ourique associa o momento da escolha de armas pelo novo rei, as quais se tornariam, por extensão, as do Reino, facto facilmente desmentido pela diplomática de Afonso I.

b) Frade da Ordem de Santa Cruz de Coimbra

Lenda de Ourique (A Aparição de Cristo)

Será, contudo, no século XV que a lenda articulará todos estes elementos (vitória sobre cinco reis mouros; aclamação de Afonso como rei no campo de batalha; escolha das armas e escudo nacionais) numa nova narrativa difundida através da Crónica de 1419 de Fernão Lopes. A necessidade sentida pela nova dinastia de Avis em afirmar a sua legitimidade histórica, conjugada com os inícios de expansão e o novo impulso dado à ideologia de cruzada, faz, no entanto, que se acentue o protagonismo divino já presente na antiga versão da lenda: tendo como antecedente uma breve passagem incluída no Livro dos Arautos (1416), a Crónica de Fernão Lopes acolhe o episódio do denominado milagre de Ourique: o próprio Cristo, crucificado, teria aparecido a Afonso I nas vésperas do combate, anunciando-lhe o seu apoio para a derrota dos infiéis. Inserindo-se numa ampla rede de vaticínios e profecias que propagandeavam o carácter messiânico a protagonizar pelos reis de Avis, pelos sucessores do bastardo rei João, o milagre desempenhará, a partir daí, um papel nuclear na definição da legitimidade da monarquia portuguesa, apresentada como eleita e conduzida pela divindade, sendo, como tal, amplamente glosado pela historiografia do absolutismo, a qual esteve bastante ligada a autores de origem clerical. Sendo assim, não é de admirar que o liberalismo, movimento portador de uma nova visão da sociedade e, logo, da história, tenha mobilizado esforços para a crítica da lenda de Ourique, sobretudo em relação ao milagre, posição que valeu a Herculano uma acesa polémica com o clero, defensor das teses historiográficas consagradas no Antigo Regime. Porém, negar a lenda de Ourique não resolve, nem esclarece, o problema da sua existência e difusão, pelo que há que estudar sociologicamente o mito em si, para que se compreenda a sua eficácia e sedução.

Afonso Henriques faleceu a 6 de Dezembro 1185.

Fundou, governou, aumentou e consolidou Portugal durante 57 anos.

Jaz na igreja de Santa Cruz de Coimbra.

terça-feira, março 23

UM SONHO MAU


Que treta, esta noite tive um sonho, ou um pesadelo, melhor talvez, só sei que parecia realidade. Depois acordei e voltei calmamente a adormecer.

No sonho via uma figura vestida de branco, montada, resplandecente a cavalgar, (julguei ser Napoleão) num cavalo branco lusitano, a galope. Era Bin Ladem e ao longe que parecia um poço sem fundo, alguém caindo… com uma voz sussurrante, agonizante, sei lá, como escreveu Dostoievski, “A Voz Subterrânea”, que gritava longamente NÃOOOO…. Parecia George W. Bush e atrás deles, sombras dispersando-se, fantasmas.

Pela manhã acordei e pensei, repensei no meu sonho, tentava apaga-lo, mas, propus a mim mesmo, cogitando assim:

Vamos presumir, imaginar, colocar este tema no campo das hipóteses, embora alguns digam “nunca” (não importa), mas nas possibilidades pouco possíveis, digamos com divagações, algo que pode remotamente acontecer, porque já em idênticas situações, sem enumerar nomes (não interessa), aconteceu e não só no nosso tempo:

Suponhamos que Osama bin Laden o homem da actualidade, mais procurado, sem ser encontrado e conhecido na Terra, com toda a sua magnificência que apareceu no sonho, inteligência furtiva e capacidade cognitiva, reuniria o consenso geral do mundo Islâmico e, em uníssono, sem oposição, conseguiria uma maioria absoluta, esmagadora, numa candidatura a “presidente”, em termos ocidentais, evidentemente, mais próprio, Califa de todos os países Islâmicos.

Que poderia acontecer?!... Não Sei!

Acabou… Foi apenas um sonho, fantasmagórico, direi que nada tem de premonitório nem kafkaniano, embora as personagens numa temática omnipresente sejam directa ou inversamente proporcionais nas suas decisões e consequências humanitárias, foi um mau sonho.

sábado, março 20

O MERGULHO LIVRE “APNEIA”.


Qualquer animal pulmonado que suspenda a respiração fica em apneia, mas, na sua natural evolução, alguns mamíferos, especialmente adaptaram-se a prolongadas apneias.

Nos delfinídeos (golfinhos, orcas, baleias, etc.) de todos, o grande campeão é o Cachalote. Existem outros animais, conhecidos como grandes apneistas, para caçar: O urso polar, o corvo-marinho, a lontra, as focas, as tartarugas, as iguanas, etc.

O homem através do tempo sempre praticou a apneia, para se submergir, para caçar ou recuperar objectos perdidos no fundo do mar. Há história conhecida desde a antiguidade, mais precisamente, desde o século XVII que os polinésios eram utilizados par recuperar bens e haveres naufragados com os grandes galeões espanhóis.

Quanto à actualidade o ser humano continua a praticar a apneia por desporto ou para estudo das reacções psicofisiológicas em apneias prolongadas e a grande profundidade.

A apneia pode ser positiva ou negativa, considerando-se assim, pelo facto de ser positiva quando se interrompe a respiração com os pulmões cheios e negativa quando vazios.

Nas duas últimas décadas o ser humano tem atingido limites de apneia e de profundidade como nunca antes igualados. São praticados vários métodos de apneia, em profundidade, auxiliados a submergir por um cabo com um peso até ao limite ou pelo esforço muscular, com o auxílio de barbatanas ou sem elas ou, simplesmente estáticos, imersos, que poderá ser até numa piscina.

Nos mergulhos de profundidade “No Limit” todas as áreas interiores, da traqueia aos pulmões e abdómen, são reduzidas até ao volume “zero” devido à pressão exercida, envolvente; qualquer pessoa não treinada fracturaria todas as costelas ao atingir os 80m. de profundidade. São necessários anos de muito e intenso treino para atingir ou superar os recordes estabelecidos: Em 19/06/2007, um novo recorde mundial de mergulho foi estabelecido pelo australiano Herbert Nitsch na modalidade "No Limit" com os seus 214m de profundidade que superaram em 29m a sua marca anterior; em 11/Dez/2008, o italiano Gianluca Genoni, de 40 anos, bateu o recorde mundial de apneia estática depois de ter ficado submerso durante 18 minutos.

As técnicas utilizadas vão ao extremo do corpo e da mente, autodomínio, mentalização e treinamento, recorrendo-se necessariamente ao Yoga e ao treinamento autógeno.

YOGA:

Treinamento autógeno:

quarta-feira, março 17

OLIVENÇA

VER: OPINIÃO DO GEN. LOUREIRO DOS SANTOS:

A 9 de Junho de 1815, pela Acta Final do Congresso de Viena, através do seu artigo 105º, são reconhecidos os direitos portugueses ao Território de Olivença. Após inúmeras manobras negociais, a Espanha compromete-se a devolver aquilo que havia roubado a Portugal, mas nunca o fizeram; pelo contrário, iniciaram uma sistemática política de genocídio cultural de uma parte do povo português e de ocultação das marcas de um crime:

Apropriaram-se de terras portuguesas;

Usurparam património português;

Procuram extinguir lentamente as famílias portuguesas;

Negaram a identidade cultural aos seus descendentes;

Ocultaram nomes e referências históricas de modo a esconderem a usurpação;

Fizeram tudo isto, também com a conivência de alguns traidores portugueses.

Não era a primeira vez que a Espanha fazia um genocídio cultural semelhante. Fê-lo quando obrigou a conversão forçada ao cristianismo de milhares de judeus e muçulmanos. Na época, os que resistiram foram mortos ou fugiram espoliados dos seus bens. O mesmo aconteceu na América Latina onde cerca de 70 milhões de Astecas, Maias, Incas e tantos outros povos foram exterminados de uma forma sistemática, esvaziados da sua identidade cultural. O que hoje aí encontramos são povos que perderam o sentido da terra em que habitam e dos monumentos que os cercam. Algo semelhante podemos encontrar também em Olivença. Andando pelas ruas da cidade e pelas antigas aldeias portuguesas, o que encontramos são pessoas que reclamam a propriedade de casas, igrejas, monumentos, ruas que foram erigidas por um outro povo com uma outra cultura, a quem carinhosamente nos tratam por "nuestros hermanos". Esvaziados da sua identidade cultural, a que hoje ostentam e se reclamam… são as tradições e a fidelidade à cultura do invasor.

Apenas na Alemanha Nazi, na União Soviética e na China, no século XX, ocorreram casos semelhantes. É por tudo isso que o caso de Olivença é importante, nomeadamente para compreendermos a forma como se pode exterminar um povo. Olivença pode ser considerada o primeiro caso de genocídio cultural empreendido na História Contemporânea da Europa. Uma das suas novidades reside na forma quase silenciosa como o crime foi perpetrado e ainda hoje é ocultado, o que pode justificar a forma naturalizada como a questão é encarada. Nenhum remorso ou alusão aos milhares de homens, mulheres e crianças a quem foi negado o direito a uma identidade, à história das suas raízes, sendo que a única que lhes concediam era a do invasor e a do silêncio.

A formação que entretanto ocorrera do reino de Espanha (1492), passou a constituir uma ameaça redobrada. O seu fanatismo religioso, aliado a uma crueldade sem limites passou a representar um perigo para a Europa, não apenas para Portugal. Após a restauração da Independência de Portugal do domínio de Espanha que Portugal sofreu, durante os 60 anos “Filipinos” (1580-1640), Olivença passa a estar no centro das incursões do sanguinário exército espanhol, onde abundavam mercenários estrangeiros. A população de Olivença é por diversas vezes vítima de massacres e saques, mas resiste heroicamente. As suas muralhas são reforçadas, sob a direcção de Matias de Albuquerque. Estas obras foram custeadas pelo próprio povo de Olivença.

A Restauração

Sob o domínio espanhol, (60 anos de dinastia Filipina – 1580/1640) Portugal sofreu severa fiscalização, com medidas tributárias lesivas e impopulares, e o Império quase desmoronou, com várias colónias invadidas pela Holanda e Inglaterra. A reacção nacionalista a essa situação, de início tímida, apoiada num vago sentimento anti castelhano, é estimulada pela derrota dos espanhóis perante a Inglaterra. Em 1º de Dezembro de 1640 D. João, Duque de Bragança, apoiado pelo povo e pela aristocracia, dá início à Restauração, longo processo de reconquista da autonomia, que custou a Portugal 28 anos de guerra e a mobilização de todos os recursos disponíveis. D. João, Duque de Bragança, entronado em 1640, como D. João IV, inicia uma nova casa dinástica - de Bragança - e lidera esse processo de Restauração, que só iria se consolidar no reinado de D. João V (1706 - 1750), com o aporte da riqueza do ouro brasileiro de Minas Gerais.

O sentimento anti castelhano ancorou-se no messianismo sebastianista, no mito da volta de D. Sebastião e da aurora do Quinto Império. É desse espírito que se alimenta a obra do Padre António Vieira.

Depois da Restauração (1640), durante 16 anos, os espanhóis tentaram tomar a vila. Entre os torcionários espanhóis que comandavam estas investidas registam-se as do marquês de Toral (1641), marquês de Leganés (1645), o mercenário e jesuíta flamengo Cosmander (1648). Todas estas tentativas foram frustradas. Em 1657, o mercenário italiano ao serviço de Espanha, o Duque de San Germano, á frente de 8.000 homens teve maior êxito e tomou a vila. Dez anos depois, os espanhóis voltaram a sair daquilo que se haviam assenhoreado, sob o comando de um mercenário. Olivença voltava a fazer parte de Portugal. Desde o século XII até 1801, Olivença constituiu uma das principais vilas fronteiriças de Portugal. Milhares dos seus habitantes, ao longo de gerações morreram por Portugal, pela sua terra, pelo seu país, pela sua cultura e identidade. A História de Portugal está indissociavelmente ligada a Olivença e esta a Portugal. Este é um facto histórico, incontestável.

Pode ler-se no livro espanhol sobre a “Historia de Olivenza” de Gregrio Gallego, edição de 2004, o seguinte trecho:

“… Volvio a la carga el ejército español al ano siguiente, tratando de tomarla por asalto en la noche del 16 de septiembre de 1641.” “ … envio el Conde de Monterrey un ataque de distracción por el sector más occidental de la plaza, cerca de los muros del castillo, com la intención de atraer sobre esa banda a las tropas defensoras portuguesas, mientras que la mayor parte de su ejército se lanzaba sobre Olivenza por el extremo opuesto, com la esperenza de cogerlo desguarnecido. Foron entonces las mujeres portuguesas, oliventinas, las que, estando sus maridos ocupados en repeler al enemigo en el outro sector, se subieron a las murallas para defender la Puerta del Calvário, por donde intentaban entrar los soldados españoles que fueron finalmente vencidos y perdieron más de ochocientos hombres en el ataque. “ …

Comentando a história, com alguma ironia, finalmente não existiu em Portugal uma única padeira de Aljubarrota!...

Alguém de Espanha uma vez disse dos portugueses: “Que gente estranha aquela que pega toiros à unha”.

Fazendo uma visita actual a Olivença pode-se ver ainda a Igreja da Santa Maria do Castelo, de traço renascentista e posteriores acrescentos barrocos; entre as mais notáveis está todavia a Igreja da Misericórdia, fundada em 1501, onde mesmo depois da ocupação espanhola se manteve mais viva a especificidade desta terra portuguesa.

Fortificações:

Símbolos da defesa de uma identidade usurpada pela Espanha, continuam a erguer-se altaneiros, malgrado a sistemática destruição que este país paulatinamente vai realizando. Em lugar estratégico ergue-se o seu castelo e a sua torre de menagem medievais (37 metros de altura). Devem ainda referir-se os baluartes seiscentistas com a elegante Porta do Calvário (testemunho da heroicidade dos Portugueses) e a torre do quartel dos Dragões de Olivença datado do período pombalino (século XVIII).

Traçado da Cidade

Onde melhor podemos observar os vestígios de Olivença é no tipo de construção de muitas das suas casas (alvenaria, cal, cantaria, imponentes chaminés, etc.), cujos elementos são em tudo idênticos às vilas portuguesas do Alentejo.

Comida

Ainda até meados do século XX, Olivença distinguia-se da Estremadura espanhola pela excelência da sua gastronomia e doçaria. O etnicídio que aqui ocorreu destruiu entretanto uma das maiores riquezas desta terra.

Nas povoações do Concelho de Olivença, a destruição dos Vestígios Incómodos: S. Francisco, S. Rafael, Vila Real, S. Domingos de Gusmão, S. Bento da Contenda, S. Jorge de Alor e Talega

A Tradição de Balboa

Olivença está hoje integrada na região da Estremadura Espanhola, contra a qual teve que lutar durante séculos. Foi nesta região de Espanha que nasceram e se formaram algumas das mais odientas personagens da História da Humanidade. Ainda hoje custa a crer como podem ter existido semelhantes carniceiros. Foram os responsáveis pela morte de milhões de pessoas na América. Até aos nossos dias continuam a ser lembrados em Espanha, como heróis, mas apontados como criminosos em todo o mundo. Através deles e da Inquisição, a pulsão da morte, passou a fazer parte integrante da alma de Espanha. Tornou-se o seu traço inconfundível, sem o qual não é possível explicar muitas das formas de comportamento colectivo que aqui ocorreram. Este fundo cultural de barbárie estava ainda bem vivo quando Olivença foi tomada, e deve ser tida em conta na compreensão do etnicídio da população portuguesa que se lhe seguiu. Em Olivença foi o culminar de uma longa experiência histórica dos espanhóis em matéria de etnicídio que começou no século XVI e que se havia de prolongar durante séculos. Se quisermos ver retratados os que as executavam, ao tempo da tomada de Olivença, veja-se as obras de Goya. As personagens que ali aparecem têm essa mistura a pura crueldade, ganância, fanatismo religioso, loucura e sobretudo de exaltação da morte do Outro, que caracterizavam os conquistadores da Estremadura no século XVI:

Núñez de Balboa

Aventureiro sem escrúpulos, no Haiti, os chefes índios ter-lhe-ão falado em ouro. Á procura deste metal Balboa (1475-1517), natural de Jerez de los Caballeros, contemplou pela primeira vez o Oceano Pacífico. Os povos que se lhe atravessavam pelo caminho, como os do Panamá, foram literalmente exterminados. Face a tanta carnificina, o rei de Espanha, em 1517, mandou-o executar;

Hernán Cortés (Fernando Cortês)

"Vim aqui para descobrir ouro, e não para cultivar a terra como um simples camponês!". Foram estas palavras que proferiu quando desembarcou no Haiti. Cortés, nasceu em Medelín, no ano de 1485, e cedo partiu para a América para fazer fortuna, fosse a que preço fosse. Em Cuba evidenciou-se desde logo a dizimar a população indígena. Mas isso não lhe bastava. Não tardou a partir para o México. Logo após o desembarque inicia o massacre das populações locais e nunca mais parou. Sob as suas ordens foram destruídas as brilhantes civilizações Olmecas, Toltecas, Astecas e Maia. Milhões de pessoas foram barbaramente mortas. Em 1540, Carlos V, horrorizado com as descrições dos seus massacres chama-o a Espanha e exila-o na Estremadura, em Castileja de la Cuesta, onde morreu em 1547 e de cuja região nunca devia ter saído;

Antonio Pizarro

Guardador de Porcos na Estremadura, analfabeto, não recuava perante nada. A sua ambição por ouro não tinha limites. Natural de Trujillo, onde nasceu em 1475, ficou para história como um dos maiores exterminadores de todos os tempos, tendo destruído entre outras a refinada cultura Inca. Após ter estrangulado outros carniceiros espanhóis, como Almagro (1530), acabou no ano seguinte por ser degolado pelos que conseguiram sobreviver;

Pedro Valdivia

Valdiva, nasceu no ano de 1500, em Castuera, na Estremadura. Ao longo da sua vida notabilizou-se pelo saque e destruição que provocou na América Latina. Morreu assassinado pelos próprios espanhóis no ano de 1553;

Hermando de Soto

Outro dos ilustres conquistadores oriundos da Estremadura. Um dos mais brutais que a América conheceu e que ficou célebre pela comida que dava aos seus cães de raça “Catahoula Leopard Dog”: CARNE DE INDIOS;

Francisco de Orellana

Nasceu no ano de 1511, em Trujillo (Cáceres). Ficou para a história por dois motivos. O primeiro foi o de ter explorado o rio Amazonas. O segundo foi de ter participado no saque e massacre das populações indígenas do Perú. Orellana chegou à América (Nicarágua), em 1527, daqui passou para o Perú. Traiu Pizarro, traidor de outros traidores. O Conselho das Índias (Espanholas) absolveu-o. Em Espanha quando se preparava para mais uma expedição quis o destino que tivesse morrido em Novembro de 1546, vítima duma grave enfermidade. Desta forma poupou-se a vida a milhares de almas, milhares de indígenas.

Manuel de Godoy

Este assassino nasceu em Castuera, Badajoz a 12 de Maio de 1767, e morreu em Paris a 4 de Outubro de 1851. Estamos perante o exemplo acabado da melhor elite espanhola da segunda metade do século XVIII. Godoy, o homem que anexou Olivença, foi também aquele que vendeu a Espanha aos franceses, e que teve o sonho de ser rei de uma parte de Portugal (Rei do Algarve). Os franceses não tardaram a trair este traidor. A barbárie que provocou em nada se ficou a dever à que os seus conterrâneos provocaram aos povos da América. Foi neste aspecto um dos seus mais ilustres continuadores. Entre os séculos XVI e XX, a Estremadura foi um verdadeiro viveiro de assassinos e traidores. Foi contra estes assassinos que se bateram os portugueses de Olivença durante séculos.

É difícil encontrar país mais traidor e repleto de traidores, como foi a Espanha em finais do século XVIII e princípios do século XIX. Todas as comparações ficam aquém da realidade.

A Ameaça Francesa

Quando em 1789 eclodiu a Revolução Francesa, a Espanha monárquica foi a primeira que se levantou contra as ideias liberais. Fez parte inclusive de uma acção armada contra a França (campanha do Rosilhão). O movimento revolucionário francês rapidamente adquiriu uma dimensão expansionista. A França precisava de dinheiro e não tardou a declarar guerra a vários países europeus, para os poder saquear.

Em Portugal, reinando D.Maria I, “A Piedosa”, ironicamente, sem a mão forte e argúcia do Marquês De Pombal, comungava-se dos mesmos receios que a Espanha. Esperava-se que esta se mantivesse fiel aos seus compromissos de paz. Nada parecia justificar outra posição.

A Traição Espanhola

O homem que é apontado como o mentor da traição que os espanhóis fizeram aos portugueses é Manuel Godoy, amante da rainha de Espanha, mais conhecido pelos espanhóis como o "Príncipe da Paz". Carlos IV, a 15 de Novembro de 1792, entrega-lhe o governo do país. Após quatro anos de governação a Espanha Católica e símbolo da Inquisição na sua forma mais brutal torna-se no mais fiel aliado da França ateia, republicana e jacobina. Ao serviço da França declara guerra a meio mundo. É neste contexto de fidelidade canina que se pode perceber da sua declaração de guerra à Rússia. Pensando-se reforçada pelo poder da França, de imediato a Espanha começa a urdir a trama para ocupar Portugal. Inicia então conversações com os franceses para a sua invasão e partilha.

Espanha e França Invadem Portugal

A Espanha e a França, em Março de 1801, fazem um ultimato a Portugal para que fechasse os portos à Inglaterra, sua tradicional aliada. Os termos deste ultimato constituem uma verdadeira declaração de guerra. A partilha de Portugal está há muito combinada, era apenas preciso um pretexto. Na fronteira com Portugal, em Abril de 1801, os espanhóis concentram cerca de 70 mil homens. Esperam contudo pela chegada dos franceses para a invasão. Entre 17 e 18 de Abril, os franceses entram pela primeira vez em Espanha com 18 mil homens. O seu objectivo comum é o saque do país, e o dos espanhóis o seu domínio. No dia 16 de Maio, o exército espanhol invade o sul de Portugal e lança a destruição pelo Alentejo, tomando Olivença.

Isolados, sem apoios exteriores, traídos pelo seu vizinho ibérico, fustigados pelos franceses, os portugueses procuram resistir. No tratado de paz que em 1801 é celebrado, na cidade que viu parir Godoy – Badajoz, a Espanha protegida pela França, exige Olivença.

Em Olivença vivem-se horas de desespero. A população é humilhada, massacrada e saqueada pelos invasores. O país procura resistir e aguardar por melhores dias.

A história espanhola regista a rapidez desta acção de 1801. Ao longo de quatro meses saqueiam e tomam várias vilas e cidades junto à fronteira. Olivença caiu ao fim de dois dias. O que esta história não refere é a vergonhosa traição que fizeram aos portugueses, os massacres, roubos e violações que por todo o lado realizaram, o que também não fala é que foram os espanhóis quem convidaram os franceses a entrarem na Península Ibérica para os ajudar a roubar e destruírem um seu vizinho, mas que acabaram, depois, por também serem saqueados pelas tropas de Napoleão. O saque era a forma de pagamento que Napoleão atribuía à sua tropa. Grande parte dos tesouros existentes nos museus de França, são espólio dos saques cometidos nos países invadidos por Napoleão.

O prestigiado historiador espanhol, Ramón Mendez Pidal (H.E.vol.XXXI,p.893), vai mais longe que todos e apresentam uma caridosa explicação para a usurpação de Olivença, segundo ele o roubo serviu para consolar o povo espanhol da perda, na altura, das colónias da Trindade e Luisiana. Que tristeza! Segundo essa versão, o povo andava triste e desconsolado, e por isso, precisava de sentir o sangue dos seus vizinhos, rouba-los para de novo se sentir feliz.

Uma coisa é certa: os massacres de portugueses em Olivença foram brutais. Mesmo assim, o que restava da martirizada população ainda se revolta em 1806. Mas a Espanha não desiste do seu objectivo, os franceses também não. Portugal continua a resistir.

A partilha de Portugal entre a Espanha e a França

Em 1807, em Fontainebleau é feita formalmente a partilha de Portugal. Godoy manifesta o desejo de ficar com o sul do país e de se proclamar rei do Algarve. Os franceses não tardam a trair este traidor. A 17 de Novembro de 1807, as tropas francesas invadem Portugal, mas a família real e os quadros do país (16 mil pessoas) haviam já saído para o Brasil. Os espanhóis integrados nas tropas francesas aproveitam para roubar e incendiar as regiões por onde passam. É o desvario dos "hermanos" dos portugueses.

A Espanha está incluída em todas as incursões dos franceses a Portugal. Entre 1808 e Outubro de 1813, ora estão na primeira fila ora estão na retaguarda, agindo como um exército organizado ou como bandos de salteadores ao serviço da França ou a mando de caciques espanhóis.

Os portugueses contam desde Agosto de 1808, com a ajuda de tropas inglesas comandas por Wellington. Portugal transforma-se no continente Europeu, na principal base de onde partirão as principais ofensivas contra os franceses e os seus aliados, entre os quais se incluem os traidores espanhóis. A população não tarda em auto-organizar-se em grupos de guerrilheiros para fustigarem os franceses.

No outro extremo da Europa, a Rússia, desencadeia outra ofensiva similar.

Numa Espanha repleta de traidores, muitos procuram assumir o poder. Fernando, filho de Carlos IV, ao tentar trair o seu pai tomando-lhe o poder, é denunciado por outros traidores. Preso, não tarda a denunciar os seus amigos. Entre tantos traidores, o povo espanhol, elege-o como o seu novo rei. Os franceses opõem-se. O povo sai á rua e em Maio de 1808, a revolta alastra por todo o país. Godoy não tarda a refugiar-se em França. Ao trono sobe um novo traidor: Fernando de seu nome.

Enquanto isso, Portugal está transformado num campo de batalha. A política da terra queimada implica a destruição deliberada de grande parte do país para diminuir os recursos disponíveis para o exército invasor. Os franceses tentam por todos os meios dominar Portugal, sucedendo-se as invasões. Em Olivença, em 1811, o general francês Soult, numa das inúmeras tentativas é derrotado. A vila é tomada pelos portugueses.

A Espanha que desde 1808 percebera que só tinha a lucrar distanciando-se dos franceses, aproxima-se dos ingleses que administravam Portugal. Após a capitulação de Olivença em 1811, a Espanha pede à Inglaterra para que lhe seja confiada. Os ingleses cedem, traem Portugal, procurando agradar ao novo aliado espanhol entregam-lhes Olivença.

Em Olivença, a população massacrada está isolada. A ponte que fazia a ligação com Portugal foi há muito destruída pelos espanhóis (1701). O desespero é total, o que se seguirá é a consumação do etnicídio que os espanhóis, em exemplo, foram exímios na América.

Portugal encontra-se completamente destruído pela guerra, cerca de um terço da sua população foi gravemente afectada ou morta. A corte está no Brasil, o governo está confiado a outro invasor, aos ingleses que aproveitam para saquear museus e monumentos. O que resta de franceses e traidores espanhóis só é definitivamente expulso do país em 1813. Não é difícil imaginar a dificuldade que os portugueses tinham na altura para se impor contra tantos invasores.

O povo português de Olivença, em 1801, recebeu a invasão do inúmero exército espanhol com um misto de surpresa e receio. Portugal não estava em guerra com a Espanha, porquê a invasão?

Muitos julgaram que se tratava de uma manobra de Espanha para iludir a França, para lhe mostrar que estava disposta fazer guerra a qualquer país europeu que enfrentasse Napoleão Bonaparte. Ao trair o seu vizinho, com o qual tinha relações pacíficas, dava uma prova suprema da sua fidelidade ao exterminador da Europa: “Napoleão”.

É verdade que muitos outros desconfiavam das intenções dos espanhóis. Não era a primeira vez que a Espanha procurava conquistar Olivença e havia massacrado a sua população.

A Ferro e Fogo

Após a ocupação, não tardou a população de Olivença em descobrir o que a esperava. Os espanhóis vinham para ficar, instalando ali as suas tropas, com maior apego demonstravam à causa dos traidores que governavam a Espanha a força de um invasor e, sobretudo, que não recuavam perante a empresa que se avizinhava.

A população de Olivença estava sitiada, metida num redil, como os prisioneiros dos campos de concentração nazis. A única ligação com Portugal era a ponte da Ajuda que fora destruída pelos espanhóis. A língua portuguesa foi proibida, assim como a manifestação de qualquer sinal de identidade cultural. Todos os que se opuseram foram mortos!...

O povo de Olivença isolado de Portugal sofre então uma das suas piores humilhações a que qualquer ser humano poderá sentir: a negação da sua identidade e dignidade como pessoa. Sob a ameaça foi-lhes imposto que se tornassem espanhóis de corpo e espírito. Todas as gerações dos que resistiram viveram esta experiência de puro terror.

Em 1806, a população sitiada e sem poder contar com qualquer apoio exterior revolta-se. Os espanhóis recuam, para de seguida reforçarem militarmente a praça de Olivença com novas unidades, mais ferozes que as anteriores.

Cinco anos depois, os espanhóis abrem as portas de fortaleza de Olivença aos franceses que a ocupam. O objectivo é a partir daqui invadirem e tomarem Portugal. A violência dos combates com as tropas portuguesas e inglesas ultrapassa tudo o que se possa imaginar. Os franceses são derrotados, sendo a fortaleza de novo tomada pelos portugueses. Bedesford que governava Portugal, trai os portugueses e entrega Olivença aos espanhóis, tentado desta forma captá-los para a guerra com os franceses. Aos portugueses é prometido que o assunto seria mais tarde resolvido, quando fosse feita a paz geral.

A população de Olivença sofre um novo e brutal massacre, sendo aniquilada na sua maior parte. Neste cenário é difícil imaginar que houvesse alguém que continuasse a firmar-se português, mas curiosamente houve-os. Mas todos os que restavam sabiam o que os esperava.

No princípio dos anos 20 do século XIX, Olivença é uma terra de mortos, governada por caciques que se haviam apossado dos bens das terras e casas dos portugueses e a sua guarnição militar comanda pelos mais reaccionários oficiais.

Olivença não tarda a tornar-se na principal base de apoio às tentativas espanholas para fomentarem a guerra civil em Portugal. Em 1826, desta praça armada, um esquadrão de cavalaria espanhola "deserta", para vir defender a causa da monarquia absolutista de D. Miguel, pretendente ao trono de Portugal. Este esquadrão, um dos primeiros que os espanhóis enviam, não tarda a semear a morte e a destruição pelo país. As grandes potências da Europa condenam a Espanha pelo financiamento e as incursões que levou a cabo, até conduzir Portugal para um novo banho de sangue, a guerra civil entre liberais e absolutistas (1826-1834).

Nesta orgia da morte, em 1856, a Espanha ergue em Olivença, o monumento que simboliza o seu domínio: uma magnífica praça de touros, para mais de 5 mil espectadores. O que restava do povo português tinha aí possibilidade de evocar, no sangue dos animais mortos, o sangue derramado pelos seus antepassados. Os invasores espanhóis e os traidores portugueses que também os houve, a possibilidade de glorificarem o poder da morte sobre uma cultura.

Esta relação entre praças, de praças de touros e execuções humanas, virá a ser largamente concretizada durante a última guerra civil espanhola (1936-1939). Na Estremadura elas foram os locais privilegiados de execuções, entre eles se contaram muitos habitantes originários de Olivença. A história repetia-se, não no plano simbólico, mas como uma manifestação real.

Cripto-Portugueses

É difícil imaginar, como acreditaram muitos portugueses desde 1801, que em Olivença e nas suas sete povoações portuguesas – S. Francisco, S. Rafael, Vila real, S. Domingos de Gusmão, S. Bento da Contenda, S. Jorge de Alor e Talega –, subsista uma "alma portuguesa", vestígios de uma identidade negada. As pedras estão lá, mas as cabeças há muito que são as do invasor. Ao fim de dois séculos, a existência de uma identidade secretamente guardada pela população, é de todo improvável. Seria o mesmo que pedir a um Inca actual que se identificasse com os seus antepassados. Os casos que existem são necessariamente esporádicos. O etnicídio foi aqui também perfeito.

Humberto Delgado: A última traição

Nas terras de Olivença, ir-se-á concretizar nos anos 60 uma das últimas traições da Espanha aos portugueses. Aquele que foi um símbolo da luta contra a ditadura que governou Portugal entre 1926 e 1974, foi aqui morto. Salazar, contou com a conivência do governo espanhol. O assassino Rosa Casaco, vive ainda hoje tranquilamente em Espanha.

A Espanha desde 1801 que procura justificar-se, justificando aquilo que não tem justificação entre dois povos vizinhos e que viviam uma relação pacífica. Ao longo de 200 anos, tem desenvolvido toda uma argumentação similar, por exemplo, à usada por Adolfo Hitler tentando fundamentar o direito de invadir e ocupar os povos vizinhos.

Esta argumentação é hoje difundida através da Internet no site a Diputación de Badajoz (DB), onde explicitamente são assumidas teses que inspiraram o nazismo. Á luz do direito Internacional, nomeadamente da Declaração Universal dos Direitos do Homem são teses que devem merecer a mais completa repulsa de qualquer ser humano.

Reconstrução da Hispânia Romana

O reino da Espanha que se formou em 1492, surge com o ideal de unificar a Península Ibérica num único reino. Ao longo de séculos afirma-se possuída de um espécie de missão divina – a de refazer aquilo que os romanos uniram e que a queda do Império dividiu. Para isso, precisa de anular a diversidade de povos e culturas, e sobretudo de dominar Portugal. Á diversidade opõem a uniformidade, ao diálogo as armas.

A Espanha sente-se a legítima herdeira do território que os portugueses ocupam. Embora seja um reino historicamente posterior, afirma a sua anterioridade em termos de direito territorial. Nenhuma usurpação feita a Portugal é, neste contexto, um roubo, mas uma reposição da ordem natural das coisas.

A tomada de Olivença foi assumida por Godoy, em 1801, como primeiro passo para uma anexação futura de Portugal. Valia todas as traições. Depois dele, muitos outros manifestaram idênticos desígnios, como Francisco Franco, que se dedicou a estudar a forma de "Como Ocupar Portugal em 12 dias", proposta que fez a Hitler, quando este em 1940 visitou a Espanha para convencer Franco a participar na guerra com o eixo. Diria Hitler mais tarde que preferiria arrancar quatro dentes a voltar de novo a negociar com Franco.

Espaço Vital

Olhando para o mapa da Península Ibérica, Portugal é visto pelos espanhóis como uma extensão do seu próprio território. Olivença é ainda hoje descrita como "um posto avançado em terras de Espanha, uma espécie de espinha encrava no flanco sul da capital da Estremadura ( "un puesto avanzado en tierras de España, especie de espina clavada en el flanco sur de la capital de Estremadura.", site oficial da DP, 2002. O texto é assinado pelo neonazi Luis Alfonce Limpo Dínis). Portugal e Olivença são uma excrescência anómala de Espanha. A geografia tem razões que os homens desconhecem. A usurpação de Olivença foi antes de tudo determinada por imperativos de natureza geográfica.

A Lei do Mais Forte

A tese espanhola é curiosamente a mesma de Cálicles, na célebre obra de Platão, Górgias. Ao mais forte tudo lhe é permitido. O roubo não existe quando a vítima (o mais fraco), sob coacção, se dispõe a declarar a inocência do criminoso (o mais forte). A Espanha invade Portugal, com o apoio dos franceses, apossa-se das suas terras e, sob coacção exige-lhe que confirme o roubo que acaba de praticar, dando-lhe Olivença por escrito (Tratado de Badajoz, firmado em 1801, entre Portugal e Espanha).

Na mesma lógica, seria se os nazis nos campos de concentração, tivessem exigido aos seus prisioneiros que, por escrito, declarassem aceitar a sua morte, estes estariam hoje ilibados de qualquer crime contra a humanidade.

Inexistência de Fronteiras na União Europeia

O último dos argumentos avançado pela Espanha para justificar a anexação de Olivença, é mostrar a irrelevância da questão face ao actual contexto político europeu: Considerando que na União Europeia não existem fronteiras, não há razão para se colocar o problema da usurpação de Olivença. Este território não pertence a Portugal, nem à Espanha, mas faz parte da União Europeia.

Olivença, Gibraltar, Ceuta, Melilla, etc.

A Espanha recusa-se a considerar em pé de igualdade a questão que se coloca em Olivença, com a que existe em relação a Gibraltar (anexada pela Inglaterra no século XVIII), ou Ceuta, Melilla e outros anexados pelos espanhóis em Marrocos e reclamados por este país.

Não colocando de parte a similitude destes territórios, há todavia uma situação particular em relação a Gibraltar, e que é a seguinte: Ao contrário de Olivença, Ceuta e Melilla, a sua população viveu sempre neste rochedo em plena democracia, podia manifestar a sua concordância ou discordância sobre o invasor e manter a sua cultura. No caso dos territórios ocupados pela Espanha o que predominou foi a repressão pela mais cruel ditadura da Europa. Em Olivença a repressão nos primeiros cento e cinquenta anos ultrapassou todos os limites.

Portugal é um Estado independente desde 1143, mas desde então não tem faltado traidores dispostos a venderem os seus concidadãos. Alguns ficaram tristemente célebres, outros foram remetidos ao mais completo desprezo tanto pelo país que traíram, como por aqueles que procuraram servir.

Olivença é desde 1801, um verdadeiro laboratório para podermos observar as formas que pode assumir a colaboração com os crimes contra a humanidade.

Realismo Político

Uma das formas mais comuns de traição consistiu em secundarizar a questão do etnicídio em Olivença para não ferir susceptibilidades ao invasor. Os interesses económicos, diplomáticos e outros que estavam em jogo sobrepuseram-se à defesa da vida dos cidadãos portugueses, sancionando desta forma a ocultação do etnicídio.

Esta posição foi largamente seguida na segunda metade do século XIX, e depois durante as ditaduras fascistas (1926-1974). De um lado e do outro da fronteira os ditadores estavam unidos em silenciar o etnicídio.

A história contemporânea da Europa e do mundo está repleta destes exemplos. Foi para não ferir as susceptibilidades da Alemanha que a Polónia foi massacrada durante a segunda guerra mundial perante o olhar cúmplice da Europa. Foi com esta mesma cumplicidade que os nazis empreenderam o extermínio dos judeus e ciganos, e mais recentemente a população de Timor-Leste que foi dizimada durante duas décadas pelos indonésios.

Oliveira Salazar, o ditador que governou Portugal entre 1929 e 1968 constituiu a melhor expressão deste posicionamento político. Apesar do seu apregoado nacionalismo procurou sempre silenciar a questão de Olivença. Tornou-se durante a Ditadura de Franco (1939-1975) um problema incómodo entre dois regimes políticos com afinidades ideológicas. É significativo constatar que na conhecida História de Portugal do principal historiador do regime – João Ameal – nem sequer se refere a usurpação de Olivença. Tudo é silenciado. Salazar tinha medo de Franco?! …

Porquê? A sobrevivência da ditadura em Portugal estava, segundo Salazar, intimamente ligada à existência de um regime ditatorial também em Espanha. É por isso que Salazar evita todos os possíveis conflitos com a Espanha e apoia activamente as várias ditaduras neste país (Primo de Rivera, Franco). Silencia não apenas o etnicídio de Olivença, mas também a barbárie de Guernica, assim como se recusa a apoiar cerca de trinta mil judeus holandeses descendentes de portugueses para não desagradar a Hitler, etc.…

Silenciar a Memória dos Mortos

Ninguém ignora que em Olivença estão sepultados milhares de portugueses que deram a sua vida durante séculos para defenderem o país que hoje habitamos. Todos sabem mas todos fingem ignorar. Nenhum tributo lhes é prestado, nenhuma evocação lhes é feita.

Ninguém ignora que a ocupação de Olivença foi uma usurpação que a Espanha fez a Portugal, sem nenhum motivo justificativo que não fosse a mera rapina. Todos sabem, mas todos procuram ignorar.

Ninguém ignorava também, quando o crime do etnicídio se estava a dar no outro lado da fronteira, o que estava a acontecer. Todos sabiam, mas todos procuravam esquecer.

Estamos perante a mesma atitude que afinal tornou possível a ascensão do nazismo na Alemanha e o holocausto de milhões de judeus nos campos de concentração. Apesar de ouvirem, lerem, saberem, todos procuraram ignorar. É este facto que torna justamente actual o caso de Olivença, e por isso deve ser reflectido nas escolas de todo o mundo. Os crimes contra a humanidade nunca prescrevem.

Iberismo e Racismo

Em Portugal ao longo dos séculos, têm surgido esporádicos grupos de colaboracionistas, denominados de "Iberistas". Sonham com a unificação de todos os povos ibéricos debaixo de um mesmo poder, manifestam em geral uma repulsa pela diversidade de povos e culturas. Talvez por isto, entre os iberistas tenham surgido os mais racistas de todos os portugueses, assim como os principais defensores de soluções políticas ditatoriais.

Oliveira Martins (1845-1894). Historiador, político de todos os quadrantes (socialista, republicano, monárquico), apoiou a ditadura de João Franco e terminou os seus dias desiludido com os portugueses. No final da vida destacou-se pelas suas concepções iberistas, racistas e proto-integralistas.

António Sardinha (1888-1925), um dos mais conhecidos iberistas. Monárquico ultra-reaccionário foi também o mais acérrimo defensor da discriminação racial e do anti-semitismo. Destacou-se igualmente na preparação do clima ideológico que antecedeu a ditadura militar instaurada em 28 de Maio de 1926, sendo o fundador do denominado Integralismo Lusitano, um movimento de características fascistas.

Toureiros

A Praça de Touros em Olivença foi desde a sua construção, em 1856, o principal símbolo da ocupação espanhola. Ela constitui a glorificação da morte na sua forma espectacular. Desde o século XX que diversos "toureiros portugueses" são convidados a participarem nas corridas realizadas nesta praça. A sua presença é depois largamente publicitada em Portugal através de cartazes impressos em Espanha onde o nome de Olivença é substituído por “Olivenza”. Desta forma a Espanha com a colaboração destes "artistas tauromáquicos" procura naturalizar o etnicídio que praticou em Olivença. Alienados na sua consciência social estes toureiros manifestam-se indiferentes ao simbolismo da sua presença na praça de touros de Olivença.

Se o exemplo de Olivença fosse também neste caso seguido em Auschwitz, Birkeneau, Majdanek, Treblinka, Sobibor, Belzec, Chelmno e outros campos de concentração nazis, teríamos hoje artistas judeus a realizarem espectáculos nos seus fornos crematórios para entreterem os turistas que os visitam. A situação não deixa de ser profundamente vexatória para a memória colectiva dos portugueses.

É preciso dizer que uma boa parte dos aficionados pelos touros em Portugal afirma as suas preferência por regimes monárquicos. Se tivermos em conta o caso de Olivença, percebemos melhor porque a esmagadora maioria da população portuguesa é de convicções republicanas e também a razão porque as corridas de touros estão em completa decadência em Portugal.

Qual é o preço?

Uma das formas mais patéticas utilizadas pelos jornalistas portugueses em relação a Olivença, consiste em perguntar aos actuais habitantes deste território se querem ou não ser portugueses, tendo em conta os ganhos e as perdas de uma possível transacção de nacionalidade.

Colocada a questão nestes termos, o problema de Olivença, como o do País Basco, ou mesmo o de Gibraltar, reduz-se a um simples negócio: fixar o valor ou as condições adequadas para a transacção (mudança de nacionalidade). A população actual é tratada como mera mercadoria, despojada da sua dignidade como pessoas.

Face á questão ao crime contra a humanidade que ocorreu em Olivença, e que tem sido sistematicamente silenciado, o problema da devolução ou não deste território a Portugal é uma questão secundária. A importância histórica e humana transcende a questão da justa pretensão de Portugal para que lhe seja devolvido parte do seu território usurpado pela Espanha.

Olivença é o primeiro exemplo dos modernos etnicídios. O método de etnicídio que a Espanha aqui aplicou ao longo de todo o século XIX, inspirarão durante o século XX outros Estados, como o alemão durante a II guerra mundial. O domínio territorial é assente na anulação da identidade cultural de minorias ou povos dominados, o que em última instância pode implicar a prática sistemática de genocídios, deportações, violações de mulheres, etc.

Olivença constituiu a primeira situação na história contemporânea da Europa, em que uma população inteira foi sujeita a um processo sistemático de anulação da sua identidade cultural e despojada das suas memórias colectivas, até se tornar sob regimes tirânicos na imagem e semelhança do próprio invasor.

O respeito pelas vítimas deste etnicídio e o seu estudo, permitirão certamente compreender a génese dos métodos que ao longo de todo o século XX foram aplicados na Europa e noutras partes do mundo para exterminar povos e culturas.

Este estudo e discussão poderão constituir, nomeadamente para os nossos alunos, num estímulo para a necessidade de respeitarem as diferenças culturais entre os povos e de se aprofundar o diálogo entre culturas, de forma a desenvolver uma cultura de tolerância.

Memorial

É neste sentido que deverá ser erigido em Olivença, um Memorial aos portugueses que combateram durante séculos pela preservação da sua identidade cultural antes de 1801, e a todos aqueles que posteriormente foram desapossados das suas terras e bens, e sobretudo que lhes foi negada a dignidade de existirem como tais.

Neste Memorial deverão ser também evocados outros povos a quem lhes foi igualmente negada a sua identidade, alguns dos quais foram completamente exterminados (genocídios). Os povos da América Latina, deverão ter aqui um lugar destaque, nomeadamente pelas afinidades e responsabilidades históricas que portugueses e espanhóis possuem com os mesmos.

A localização de Olivença é um aspecto da maior relevância, dado o facto de serem originários da vizinha Estremadura espanhola, a maior parte dos exterminadores de povos e culturas da América Latina.

Solidariedade e Reflexão

Os edifícios que simbolizaram a usurpação, como a Casa dos Duques do Cadaval, deverão ser transformados em espaços públicos de reflexão sobre o diálogo entre culturas, e promoção de iniciativas de solidariedade para com os povos sujeitos a situações similares às que ocorreram em Olivença.

Face à questão do crime contra a humanidade que ocorreu em Olivença, e que tem sido sistematicamente silenciado, o problema da devolução ou não deste território a Portugal é uma questão secundária. A importância histórica e humana do mesmo transcende a questão da justa pretensão de Portugal para que lhe seja devolvido parte do seu território usurpado pela Espanha.

Olivença é o primeiro exemplo dos modernos etnicídios. O método de etnicídio que a Espanha aqui aplicou ao longo de todo o século XIX, inspirarão durante o século XX outros Estados, como o alemão durante a II Guerra Mundial. O domínio territorial é assente na anulação da identidade cultural de minorias ou povos dominados, o que em última instância pode implicar a prática sistemática de genocídios, deportações, violações de mulheres, etc.

Olivença constituiu a primeira situação na história contemporânea da Europa, em que uma população inteira foi sujeita a um processo sistemático de anulação da sua identidade cultural e despojada das suas memórias colectivas, até se tornar sob regimes tirânicos na imagem e semelhança do próprio invasor.

O respeito pelas vítimas deste etnicídio e o seu estudo, permitirão certamente compreender a génese dos métodos que ao longo de todo o século XX foram aplicados na Europa e noutras partes do mundo para exterminar povos e culturas.

Este estudo e discussão poderão constituir, nomeadamente para os nossos alunos, num estímulo para a necessidade de respeitarem as diferenças culturais entre os povos e de se aprofundar o diálogo entre culturas, de forma a desenvolver uma cultura de tolerância.

O QUE EM ESPANHA SE ESCREVE:

“NOTAS HISTÓRICAS

Sobre el problema de los orígenes de la ciudad de Olivenza, se han hecho toda clase de conjeturas. Las crónicas hablan de que los Templarios fundaron la actual ciudad a unas 2 leguas de otra anterior que había sido arruinada durante las luchas entre moros y cristianos. La primera noticia escrita sobre la población aparece en un documento de 1248, que se guarda en el archivo de la Catedral de Badajoz. En el año 1297, por el tratado de Alcañices, Olivenza junto con otras plazas españolas pasan a ser portuguesas. En 1567, el Duque de San Germán toma la ciudad que pasa a la Corona Española hasta que en 1688 se firma en Lisboa el tratado de paz que devuelve la soberanía portuguesa a la plaza de Olivenza. En 1801 España y Francia declaran la guerra a Portugal. Esta guerra, llamada de las naranjas, va a durar sólo tres meses, finalizando con el Tratado de Badajoz, firmado en dicha ciudad el 6 de junio de 1801 por el que Olivenza se incorpora definitivamente a España.”