segunda-feira, março 14

FORTE DE SÃO JOÃO BAPTISTA DAS BERLENGAS



O Forte de São João Baptista das Berlengas, ou simplesmente Fortaleza das Berlengas, localiza-se na ilha da Berlenga Grande, no arquipélago das Berlengas ( Estelas e Farilhões ) integrando o conjunto defensivo marítimo com o forte de Peniche, no Distrito de Leiria desde século XVII ao século XIX.
A ocupação humana da Berlenga Grande, a única habitável, remonta à Antiguidade, sendo assinalada como ilha de Saturno pelos geógrafos Romanos. Posteriormente foi visitada por navegadores Muçulmanos, Vikings, corsários Franceses e Ingleses.
Em 1513, com o apoio da rainha D. Leonor, monges da Ordem de São Jerónimo aí se estabeleceram com o propósito de oferecer auxílio à navegação e às vítimas dos frequentes naufrágios naquela costa atlântica, assolada por corsários, fundando o Mosteiro da Misericórdia da Berlenga, no local onde, desde 1953, se ergue um restaurante. Entretanto, a escassez de alimentos, as doenças e os constantes assaltos de piratas e corsários marroquinos, argelinos, ingleses e franceses, tornaram impossível a vida de retiro dos frades, muitas vezes incomunicáveis devido à inclemência do mar.
Em 31 de Janeiro de 1580, faleceu em Almeirim, sem deixar descendência, depois da morte de D. Sebastião em Alcácer Quibir, o 17º rei de Portugal, o Cardeal D. Henrique.
Na crise de sucessão, que se seguiu, apresentavam-se como pretendentes três netos de D. Manuel I: Filipe II, rei de Espanha, D. Catarina de Bragança e D. António, Prior do Crato.
Filipe tinha a força das armas a seu favor e alguns fidalgos de Portugal e por isso um exército espanhol, comandado pelo Duque de Alba, invadiu o Alentejo, e Filipe foi proclamado rei de Portugal, com o título de Filipe I.
D. António, porém, não o reconheceu, e pediu o auxílio de Isabel Tudor, rainha de Inglaterra, filhe de Henrique XVIII e de Ana Bolena.  Em 16 de Maio de 1589, uma armada inglesa, constituída por 170 navios, fez desembarcar em Peniche cerca de 20 mil homens, comandados pelo general John Norris.
Os ingleses tomaram a praça de Peniche, enquanto a esquadra que os trouxera rumou a Cascais, sob o comando do almirante Francis Drake.
Os Antonistas, partidários do Prior do Crato, receberam com muitas esperanças a notícia do desembarque dos seus amigos ingleses, em Peniche.
O exército invasor, constituído principalmente por mercenários, a quem havia sido prometido que seriam recebidos de braços abertos, em Lisboa, e não teriam necessidade de lutar, avançaram para a capital, ao mesmo tempo que devastavam e roubavam as povoações por onde passavam: Atouguia, Lourinhã, Torres Vedras, Loures… até que chegaram a Lisboa e acamparam nos altos do Monte Olivete.
Pouco depois, com grande surpresa dos ingleses, os canhões do Castelo de S. Jorge, por ordem do espanhol D. Gabriel Niño, começaram a despejar metralha sobre eles.
O acampamento foi, por isso, mudado várias vezes para outros lugares, até que, depois de um breve recontro com os castelhanos, as tropas inglesas acabaram por se abrigar em Cascais, na mesma esquadra que os tinha trazido para Peniche.
Os partidários de D. António, Prior do Crato, viram assim esvair-se todas as esperanças que tinham depositado nos seus AMIGOS DE PENICHE.

No contexto da Guerra da Restauração, sob o governo de D. João IV (1640-1656), o Conselho de Guerra determinou a demolição das ruínas do mosteiro abandonado e a utilização de suas pedras na construção de uma fortificação para a defesa daquele ponto estratégico do litoral. Embora se ignore a data em que as obras foram iniciadas, já em 1655, quando ainda em construção, resistiu com sucesso ao seu primeiro assalto, ao ser bombardeada por três embarcações de bandeira turca.
Em 1666, no contexto da tentativa de rapto da princesa francesa Maria Francisca Isabel de Sabóia, noiva de Afonso VI  (1656-67), uma esquadra espanhola integrada por 15 embarcações intentou a conquista do forte, defendido por um efectivo de pouco mais de duas dezenas de soldados sob o comando do Cabo António Avelar Pessoa. Numa operação combinada de bombardeio naval e desembarque terrestre os atacantes perderam, em apenas dois dias, 400 soldados em terra e 100 nos navios (contra um morto e quatro feridos pelos defensores), sendo afundada a nau espanhola Covadonga e seriamente avariadas outras duas, afundadas no regresso a Cádis. Traída por um desertor, sem mais munições e mantimentos, a praça finalmente rendeu-se perdendo nove das peças de artilharia capturadas pelos invasores.
Ao tempo da Guerra Peninsular foi utilizada, como base de apoio pelas forças inglesas, numa campanha de guerrilha na qual colaborou activamente a população de Peniche.
Posteriormente sofreu obras de restauração, com a reedificação da Capela em seu interior.
Durante a Guerra Civil Portuguesa (1828-1834), a fortaleza encontrava-se em mãos dos partidários de Miguel I de Portugal  (1828-1834). Com deficiência de artilharia, entretanto, não resistiram diante do assalto dos liberais que a utilizaram como base para o assalto à cidadela de Peniche, reduto dos miguelistas.
Sem maior valor militar, diante da evolução dos meios bélicos no século XIX, foi desarmada (1847) e abandonada passando a ser utilizada como base de apoio para a pesca comercial.
Em meados do século XX foi parcialmente restaurada e aberta ao turismo e adaptada como pousada. Actualmente funciona apenas como casa de abrigo, sob a gestão da Associação dos Amigos das Berlengas.
O forte é de planta,  no formato de um polígono heptagonal irregular. No terrapleno, pelo lado voltado para a ilha, apresenta a edificação principal com dois pavimentos, com doze compartimentos onde funcionavam as dependências de serviço (Casa do Comando, Quartéis de Tropas, Armazéns, Cozinha e outros) e mais oito compartimentos inscritos no interior das muralhas. Um corredor sem iluminação dá acesso internamente aos vários pontos da estrutura. Voltadas para o mar rasgam-se onze canhoneiras.