segunda-feira, junho 28

O GRANDE TUBARÃO BRANCO


O tubarão branco ou de São Tomé (nome cientifico, Carcharadon carcharias) é um predador solitário que, em média, pode crescer até aos 6,60 metros de comprimento. O seu tempo de vida e a sua frequência de crescimento não são, ainda, bem conhecidas, mas acredita-se ser lenta e ter atingido grandes dimensões que podem ter ido até aos 8 metros de comprimento e com um tempo de vida relativamente longa.
O tubarão branco não realiza migrações, mas os seus movimentos no Atlântico Norte são desconhecidos. Marcações recentes com tecnologia de ponta e estudos realizados têm mostrado que são capazes de viajar 190 km entre 2 e 3 dias; eles podem ser encontrados em toda a parte do globo, sendo muito frequentes na zona da Grande Barreira de Coral.
O tubarão branco ataca principalmente uma diversidade de peixes e mamíferos marinhos. Peixes como o salmão, a pescada, o linguado, a cavala e, especialmente o atum; mamíferos marinhos, como o golfinho, o boto e as focas, são presas comuns. Também comem outros tubarões, tartarugas e aves marinhas flutuantes,  podendo também alimentar-se de carcaças de baleias mortas.  A sua taxa metabólica é lenta e a temperatura do seu corpo não é fria, como se supunha, mas muito baixa e crê-se que uma peça de 30 kg de gordura de foca o possa manter sustentado por um período de um a dois meses.
O tubarão branco é considerado um dos mais perigosos para o homem, por causa do seu grande tamanho e voracidade; é conhecido por “devorador de homens”, por nadar em águas muito rasas e pelos seus hábitos alimentares, julga-se confundir o homem com as suas presas habituais; os ataques a humanos, espacialmente aos praticantes de “prancha” são quase sempre fatais.
São encontrados por pescadores comerciais na pesca do atum, na modalidade de cerco e raramente apanhados na pesca desportiva, devido à sua raridade, tamanho, força e habilidade para morder. O seu baixo número, gradual nos oceanos, especialmente devido à captura industrial dos animais de que se alimenta faz do tubarão branco uma espécie ameaçada de extinção.

sexta-feira, junho 25

OS CELTAS


Procediam originariamente da Ásia e formaram o tronco (como membro do povo indo germânico), que se estabeleceu no ocidente da Europa, no século XX a.C. (20 000 anos a.C.) e habitaram o centro e norte da Europa. No ano 1000 a.C., estenderam-se pelas Ilhas Britânicas, norte de Franca, parte da Suíça e norte de Itália. Invadiram a Espanha no século IX a.C.. A sua língua era indo-europeia, da qual se conservam ainda escassos registos literários.
Os de etnia do Norte chegaram à Península Ibérica, primeiro em 900 a.C. e depois em 600 d.C. (segunda invasão).
Povos guerreiros que dominaram grande parte da Europa por quatro séculos, os celtas, na Ibéria, são, provavelmente, originários do sudoeste da Alemanha. Segundo Pausânias e César, o nome de celtas era o que a si próprios davam os gauleses chamados “Galli” pelos romanos. Os antigos chamavam celtas ao conjunto de povos que habitavam a Europa Central, desde o Oceano até o mar Negro.
Após terem invadido a França, a Suíça e as ilhas Britânicas, saquearam Roma em 390 a.C. Mais tarde, ocuparam a Espanha e, dominando as regiões vencidas, dirigiram-se para o Oriente e atingiram a Ásia Menor, onde fundaram o reino chamado Galácia. Alcançaram o auge do seu poder por volta do ano 250 a.C.
Como estavam organizados apenas em unidades tribais (onde os chefes guerreiros subjugavam a população camponesa), sem contar com uma unidade política central, os celtas acabaram sofrendo os efeitos da sua própria expansão territorial e desmembraram-se em vários grupos. A maioria dos que habitavam o continente europeu foi dominada pelos romanos e germanos. Os das ilhas britânicas, que não sofreram pressões tão violentas, puderam conservar os seus próprios idiomas. Ali subsistem ainda o gaélico, falado em certas partes da Irlanda e da Escócia, e o galês, idioma do País de Gales.
                Os celtas ocuparam, na Ibéria, a região ao norte do rio Ebro.

No centro da península, a mistura destes dois grupos criaram outro, os celtiberos. Os celtas tinham olhos azuis e pele morena. Os celtiberos eram hospitaleiros, arrogantes, ferozes guerreiros, e apaixonados por uma liberdade absoluta.
A cultura celta é a história de um grupo de nações que amaram a vida acima de tudo. É a crónica entre a magia e a mitologia, entre o épico e singular de uma gente vital e orgulhosa.
Os Celtas tinham calendário próprio que estava de acordo com os ciclos naturais. Tinham uma língua escrita secreta e desconhecida.
As suas vidas, no dia-a-dia, estavam muito ligadas e condicionadas ao culto dos seus antepassados e conviviam com as suas presenças permanentes acreditando numa vida terrena após a morte.
Viviam agrupados em clãs, com estritos códigos de honra.
Praticavam a poliandria e a adopção. Estavam assessorados por magos e políticos que eram os druidas. Iam nus para as batalhas e tinham um desprezo absoluto pela morte. Apesar de tudo, foram vencidos e caíram no esquecimento.
Os romanos são os primeiros que contam as suas histórias, por vezes cómicas, ocasionalmente fantásticas, mas sempre descritas com uma realidade heróica que contrastava com o sentimento imperante na época, descobrindo a magia e o mistério de uma cultura desaparecida há séculos mas cujas tradições, arte e filosofia perduraram, em grande parte, até à nossa sociedade actual.
Os Celtas dominaram a Europa Central e Ocidental por milhares de anos. Mas só mais recentemente influenciaram a Europa no seu desenvolvimento, a nível cultural, linguístico e artístico. Como grupo e etnia, há muito que desapareceram, excepto na Irlanda e nas Terras Altas da Escócia.  
Os Celtas transmitiram a sua cultura oralmente, nunca escrevendo a sua história ou os seus factos. Isto explica a extrema falta de conhecimento quanto aos seus contactos com as civilizações clássicas da Grécia e de Roma.
Os Celtas eram na generalidade bem instruídos, particularmente no que diz respeito à religião, filosofia, geografia e astronomia. Era frequente, os Romanos escolherem tutores Celtas para educar os seus filhos. A bravura dos Celtas em batalha é lendária. O papel dos homens e mulheres na sociedade Celta eram iguais; a igualdade de cargos e desempenhos eram considerados iguais em termos de sexo. As mulheres tinham uma condição social igual à dos homens sendo muitas vezes excelentes guerreiras, mercadoras e governantes.

sábado, junho 19

UM MERGULHO NOCTURNO ESPECIAL

Imagem de Sesimbra
Depois do meu barco denominado Calypso (diesel, costeiro, de 12x4m e 6,5T de arqueação bruta) que foi vendido por bom preço, por causa da sua dispendiosa manutenção adquiri um barco de fibra de vidro com cerca de 3,60mt., equipado com um motor Chrysler de 9,9cv. com reboque atrelado ao carro, ao qual atribuí o nome de Calypso II.
Embora a Chrysler tivesse cancelado a exportação de motores marítimos para Portugal e não houvesse peças de substituição, aquele motor resistiu a tudo.

No barco tinha as duas bandeiras de sinalização de mergulho, e um cabo de âncora com cerca de 40 metros. Mais que uma vez esse barco transportou quatro mergulhadores com os seus respectivos equipamentos, quase sempre de Sesimbra, mas também de Peniche, Sagres e Sines, porque Sesimbra é mais perto e porque o porto tinha e continua a ter uma boa logística, com rampa para embarcações. Nesse tempo ainda ali funcionava o estaleiro de construção naval. 
O Estaleiro naval antigo - Sesimbra
Para essa noite combinei com um amigo habitual e lá fomos os dois fazer um mergulho nocturno na chamada “pedra do meio” a 12mt de profundidade, sem que antes não tivéssemos esquecido que as bandeiras à noite não se vêm e por isso predispusemos uma lanterna de campismo acesa, de modo visível, para localização da embarcação à superfície, depois do mergulho. 
Andámos pelo fundo, até que o ar engarrafado e a luz das lanternas deram o sinal de esgotamento. Emergimos e quando procurámos pela embarcação, veio a surpresa... não se via! Roubaram o barco, disse eu. 
A corrente era forte, de vazante, e a distância era grande, tínhamo-nos desviado para fora e estávamos e ser lavados para Oeste. Tentámos nadar na direcção de terra mas com o equipamento às costas era muito difícil e não conseguíamos sair do mesmo sítio. Até que o meu companheiro disse: - Olha, o barco está além… De facto estava, mas a luz da embarcação, confundia-se com as luzes de terra.
Vista do mar - Sesimbra
Mas uma onda mais vigorosa, providencial, balançou o barco e deu para diferenciar das luzes de terra. Agora punha-se outra dificuldade, que era chegar até ele…
Solução de oportunidade, rápida, com mútuo acordo. Tirei todo o material de mergulho que pendurei no colete insuflado e entreguei-o ao meu companheiro que ficou ali, à minha espera e, assim, nadando com barbatanas, vigorosamente, consegui vencer a corrente e chegar ao barco. Foi a solução mais viável. Restava agora recolher o meu companheiro. Quando tentei avistá-lo, não foi à primeira tentativa, ele já estava longe, levado pela corrente; mas com a luz da lanterna dele, morrediça, em movimento, mas ainda sinalizante, lá o avistei. Já era madrugada quando voltámos.   
   

quarta-feira, junho 9

HISTÓRIAS DEBAIXO D’AGUA


BETWEEN THE LIMIT

Havia quem dissesse por gracejo que os mergulhadores depois de equipados pareciam uma árvore de Natal. É mais ou menos isso. Todos aqueles equipamentos de apoio que nos dão as informações e a sustentação num mundo para o qual a natureza não nos preparou e que são extremamente incómodos no exterior, dão-nos um aspecto de “alien” porque é isso que somos, estrangeiros numa outra “dimensão”.
A garrafa é o objecto de manutenção da vida em submersão, mas se encerrada, o colete pode ser usado, mais como recurso de flutuabilidade e equilíbrio; os manómetros e os tubos de ligação, são um espaço sob pressão que contêm ar para uma ou duas inspirações a poucos metros da superfície. Foi este pormenor que deu lugar a uma situação que não fosse outra coisa senão a experiência, o sangue frio e mais a força da mente e teria sido uma fatalidade.
Fomos numa barca, como sempre, aos fins de semana, para o Cabo Espichel, junto às Mesas do Arcanzil. Bom tempo, água limpa, transparente com uma visibilidade de 20 metros, coisa rara mas, lembro-me que via da superfície os outros mergulhadores junto ao fundo.
Feita a lista com os nomes e estabelecidos os grupos e toda a gente equipada, lá vamos até ao fundo ver as coisas que o Mar esconde aos comuns dos mortais.
Fiquei com o meu companheiro para os últimos, por ser eu o responsável da organização. É assim que mandam as regras, os últimos a sair para depois sermos os últimos a entrar.
Tinha eu por hábito atirar a garrafa para o mar com o colete insuflado e aí equipar-me.
Assim foi… Só que o manómetro de pressão da garrafa ficou entalado entre o colete, por baixo do braço, para trás.
As válvulas daquelas garrafas da Scubapro eram de "orelhas" uma alavanca de 1/4 de volta, coisa nova naquele tempo. Com a boca tapada pelo regulador e já preparado para imergir verifique que o manómetro não estava no sítio certo e fiz sinal ao meu companheiro para verificar e soltar o manómetro. Pensou ele outra coisa, que eu me tinha esquecido de abrir a garrafa e que lhe estava a pedir para a abrir… Fechou-a!
Porque o manómetro continuava preso, resolvi tirar de novo a garrafa soltar o dito cujo e colocar de novo o escafandro. O meu companheiro já estava a caminho do fundo, e assim continuei sem que desse conta que a garrafa estava fachada.
Vazei o colete para imergir, comecei a descer inspirei o ar contido nos tubos e à segunda inspiração, nicles, a cerca de seis metros não havia ar nem para um “caracol”. Estava a cair que nem uma pedra... Não dava tempo de chegar ao fundo em apneia negativa e pedir ajuda.
Avistei a quatro ou cinco metros a corda da âncora, comecei a dar à barbatana para lá chegar e não me afundar mais, agarrei-me a ela e de braçada em braçada até à superfície. Braçadas largas e enérgicas! Força…! Força..! Dizia a minha mente.
Quando cheguei à superfície, ao mundo do ar respirável, no limite da apneia negativa, pareceu-me que o mundo tinha surgido de novo, "a vida" mas gritei um palavrão tal que o mestre da barca veio à borda da proa e perguntou:
- Que é que foi?! Foi aquele “gajo” que me fechou a garrafa, disse-lhe eu, “porra” ia morrendo sem ar...
Retirei o equipamento, abri a válvula equipei-me de novo e quando me preparava para imergir surgiu o meu companheiro que disse:
- Então pá estou há que tempos, lá em baixo à tua espera.
- Pudera fechaste-me a garrafa, disse-lhe.
- Então vira-te que eu abro-a, retorquiu ele.
- Nem te atrevas! Respondi ao mesmo tempo que virava o polegar para baixo em sinal de imersão.
Lá fomos então os dois ver os fundos de Neptuno quando os outros já estavam a regressar à superfície.                    




Não vou referir datas para não ser fastidioso, apenas acontecimentos que ficaram na memória flutuante pela sua invulgaridade.

Quanto às fotografias submarinas, ainda estão todas em slides; tenho duas opções: compro um aparelho de transferência para o digital que surgiu agora no mercado ou projecto-as e fotografo-as para as transferir. Prometo que uma destas opções hei-de fazer. 
Post-Scriptum: Já comprei o aparelho de transferência de Slides e já estão a ser colocados em "AS MINHAS FOTOGRAFIAS", faseadamente.   

Recordações boas e outras nem tanto:

O RELAMPEJAR:
Num dos nossos mergulhos no Cabo Espichel, nocturno, trovejava, fazia relâmpagos e chovia torrencialmente mas, o mar e o vento estavam calmos. O mar tem tempestades próprias, mesmo que no exterior esteja mau tempo, o mar pode estar calmo. O vento quando é forte de "fora" tem mais influência na ondulação costeira. Com as lanternas acesas, cuja luz morria à luz dos relâmpagos o fundo ficava iluminado, a chuva penetrava na superfície como balas até dois palmos ou mais. O espectáculo era único... A gente avistava-se à luz da trovoada. Foi único e derradeiro, este mergulho… pois nunca mais vi um espectáculo semelhante.

O RIVER GURARA:
O navio "River Gurara" era um cargueiro porta contentores com pavilhão Nigeriano, com cerca de 175 m de comprimento que se afundou na noite do dia 26 de Fevereiro de 1989, cuja proa  embateu violentamente contra os rochedos virados a Sul do Cabo Espichel. O vento era de Sueste muito forte e o mar tempestuoso. O navio avariou os motores ao largo, ficou à deriva e antes de embater nos rochedos o comandante deve ter mandado arriar a âncora que lavrou o fundo, arrancou rochas, até quebrar um dos elos que se via, no fundo, esticado como um elástico. 
Passadas poucas semanas começámos a mergulhar regularmente nos destroços do navio que ainda libertava nafta e danificava, por isso, fatos e reguladores e mais equipamento.
Durante o seu afundamento que foi transmitido em directo pela TV., com um helicóptero de Força Aérea a tentar salvar a tripulação viu-se, em directo, um tripulante a ser "engolido" pelas ondas.
O salvador do Helicóptero, da Base Aérea nº6 de Montijo, meu conhecido, partiu uma perna, atingido por uma tábua flutuante, empurrada pela força do mar. 
No fundo, o navio ficou virado ao contrário e, ao sabor das ondas, ouvia-se o seu ranger agonizante, como um gemido ainda angustiante. Na sua parte mais funda, junto à popa o veio da hélice, com cerca de um metro e meio de diâmetro, estava partido como um palito e todo o resto do navio, numa visão incrédula, aterradora, pela configuração destruída do aço que nem papel amarrotado, parecia inimaginável. 
Os mergulhos semanais, Sábados e Domingos eram sempre dirigidos ao River Gurara, que estranhamente nunca foi reclamado pelo armador ou seguradora, nem impedidos os nossoa mergulhos pelas autoridades marítimas. Transportava madeira e outras coisas que sobressaiam dos destroços e de algumas madeiras quebradas, ocas, com pó branco e tubos de ferro do navio enrolados com plásticos cobertos de serapilheira, que eu e outros rasgávamos com as facas cujo pó se diluía na água em aspecto leitoso. 
Houve tempo que o fundo parecia uma oficina metalomecânica, pelo martelar das ferramentas que cada um transportava para retirar destroços “souvenires”. Ainda conservo uma vigia de casco, intacta, feita mesa de xadrez.

A GRUTA:
Num dos nossos mergulhos nocturnos no Espichel, com a água ligeiramente turva entrei por uma gruta sem dar conta da entrada e só constatei o facto quando ao tentar emergir tinha rocha por cima da cabeça. O meu companheiro tinha antes desaparecido por entre algas e laminárias.
A poeira fina da gruta limitou a visibilidade a zero. Consegui mentalmente tomar o percurso contrário (o coração batia desenfreado...) o ar engarrafado já marcava a reserva mas quando de novo avistei algas (fotossíntese - luz Solar) dei então conta que tinha de facto encontrado o caminho de volta até à superfície.
Uf..! que susto... Na superfície fui então recolhido pela barca e o meu companheiro perguntava interrogativo: “onde é que te meteste, que nunca mais te vi?!”. Nem queiras saber “meu” foi o dia da minha sorte grande! 

ENCONTROS IMEDIATOS:
O congro no Cabo Raso.
Um belo Domingo foi a malta mergulhar para o Gabo Raso a sair de Cascais.
Chegados ao local, todos equipados, ancora no fundo e aí vamos mar adentro… Passada uma meia hora, no fundo vejo um companheiro a sair duma gruta, a dar à barbata, à pressa, (passou por mim que nem torpedo, sem me ver) deixou cair no fundo a lanterna acesa e desapareceu da visibilidade que era curta, de poucos metros; peguei na lanterna e nadei até à entrada da gruta de configuração triangular com cerca de três metros de altura e uma base com pouco menos que isso. Iluminei o interior da gruta com as duas lanternas que transportava e, por momentos fiquei atónito, a cerca de um metro a olhar para mim um congro cuja cabeça parecia ter dois palmos de largura, da sua boca, fechada, saia uma linha de pesca com cerca de quatro a cinco palmos. Ali estava o “Rei do sítio” senhor absoluto, predador de caça nocturna.
Silenciosamente recuei até deixar de ver a gruta mas sempre a pensar que aquele “bichinho” podia sair da sua toca para, por curiosidade, apalpar o visitante.
Quando regressei à embarcação e já na arrumação do material “alguém” me perguntou: - Dizem ali que achaste uma lanterna. Achei é esta? É minha, disse ele. – Passaste por mim e nem me viste, disse-lhe eu, peguei na tua lanterna e fui espreitar a gruta… Ah... Foste? E viste aquilo?!... Vi, disse eu, e saí devagarinho de marcha à ré. Se contares isso aí a alguém ninguém acredita, podes crer. Só visto!

sábado, junho 5

O ARQUIPÉLAGO DA BERLENGA



Este artigo foi publicado no Jornal “GAZETA DO SUL” a 2 de Agosto de 1986 na rubrica MAR ADENTRO:

«A RESERVA NATURAL DA BERLENGA


Um bem por mal necessário

O interesse pelo Mar e pelas coisas do Mar cresce em Portugal, sobretudo através de grupos ecológicos que, para além do mero desporto ou recreio, dão aos seus trabalhos e iniciativas um teor científico e de interesse comunitário. A defesa do ambiente, das espécies e do planeta, merece-lhes carinho e entusiasmo. Por isso, e porque entre os nossos milhares de assinantes, o Mar desperta também cada vez maior interesse, vamos publicar crónicas sob o título geral de “MAR ADENTRO”. Começamos com uma crónica do nosso habitual colaborador e técnico abalizado, José Douradinha e do Grupo de Actividades Subaquáticas e Ecológicas do Montijo.
A 3 de Setembro de 1981 foi publicado no Diário da Republica o Decreto-lei nº 264/81 que reconheceu e criou a Reserva Natural da Berlenga.
Os ecologistas responderam à infeliz necessidade de se criarem parques e reservas naturais, terrestres e subaquáticas.

O Decreto-Lei começa assim:
…«A algumas milhas da costa portuguesa, a noroeste de Peniche e de Cabo Carvoeiro, afloram acima da superfície do mar alguns maciços graníticos com grande valor natural, sobretudo localizados na Ilha da Berlenga, a qual ocupa uma área terrestre de cerca de 78ha.
O mar que envolve, de grande riqueza ictiologica e de águas excepcionalmente claras, constitui um património de incalculável valor, não só como local de criação de peixes mas também como campo de actividades subaquáticas, conhecido internacionalmente pelas suas qualidades.
A flora da Berlenga, cujo número de espécies naturais ultrapassa as oitenta, inclui quatro espécies endémicas além de outras três com áreas de distribuição muito restrita, interessando preservar umas e outras.
O seu interesse no aspecto ornitológico é também notável, pois constitui local de nidificação de muitas aves e ponto de passagem de algumas espécies migradoras.
Do ponto de vista recreativo, como o comprova já o numero de visitantes que anualmente ali vão, no Verão, constitui um potencial que, ordenado e controlado, poderá ainda sofrer consideráveis melhorias, sem que os valores naturais sejam degradados e perdidos.
Assim, constitui a Ilha da Berlenga um potencial recreativo e um enorme valor natural em constante risco de degradação ou perda que interessa defender e preservar» …

Pelos seus artigos que assim começa, aquele Decreto-Lei definiu zonas de utilização específica, com áreas de reservas e recreio, natural e parcial, integral e marinha.
Sentiam assim, os amantes da natureza que finalmente em Portugal se começava a reconhecer a indiscutível necessidade de se criarem zonas de reserva, que previligiados pela sua situação geográfica e riqueza natural seriam a derradeira dádiva do homem às restantes e infelizes espécies deste planeta.
Nem sempre a Lei surge efeito e a maior parte das vezes fica muda, letra morta e quando não surda para sempre!...
Visitámos a Ilha da Berlenga, em terra e no mar, no seu seio até ao fundo e vimos e sentimos que tudo que tudo o que estava escrito e tinha sido idealizado pelo legislador era grosseiramente ignorado.
Vimos gente na zona considerada reserva natural integral apanhar ovos dos ninhos, espantar os animais com gritos e gestos agressivos, lançar pedras, dar comer, fazer lixo, etc. Enfim uma série de actos reprováveis que só o esclarecimento ou melhor, e educação poderia neutralizar.
Saímos para o mar e o nosso grupo mergulhou depois no seu seio até ao fundo. Vimos a fauna e a flora ainda rica, exuberante e a cada passo, melhor fraseando, a cada “barbatanada” avistámos os vestígios incontáveis dos naufrágios ocorridos no tempo.
Sabemos das riquezas arqueológicas submersas nos despojos espalhados pelo fundo e alvitrámos o trabalho imenso que a Divisão Subaquática do Museu Nacional de Arqueologia teria de intentar para salvar um património que é nosso e deve ser protegido dos furtivos e disfarçados barcos estrangeiros que ali vão com equipamento subaquático sofisticado.
Sabemos também que no mar, nos Ilhéus das Estelas e Farilhões e até na Berlenga se continua a capturar peixe com o uso ilegal de explosivos e redes de arrasto e cerco de malha fina. Os grandes navios que passam ao largo continuam a despejar descaradamente os seus tanques causando graves danos às espécies em redor da Ilha.
Os visitantes numerosos, durante e época balnear causam também danos no meio ambiente com lixo que lançam em terra e no mar.
Cabe às nossas forças Armadas, Marinha e Força Aérea, guardar a nossa ares marítima e terrestre e colaborar com as entidades que gratuitamente intentam acções de protecção ao nosso património arqueológico submerso.
Pelo § 2º do artº 11º do Decreto-Lei que criou a Reserva da Berlenga, fazem parte do Conselho Geral as seguintes entidades:
Secretaria de Estado das Pescas; Câmara Municipal de Peniche; Direcção Geral dos Portos; Direcção Geral dos Serviços de Fomento Marítimo; Direcção Geral do Turismo; Federação Portuguesa de Actividades Subaquáticas; Centro Português de Actividades Subaquáticas; Associação «Amigos da Berlenga».
Estas entidades, responsáveis pela direcção e dinamização da Reserva da Berlenga, até à presente data, desde a publicação do Decreto-Lei nunca reuniram nem procuraram isoladamente tomar qualquer iniciativa correspondente à função que lhes foi confiada. Apesar de no 1º § do artº 14º do mesmo DL., ter sido estipulada uma verba para execução e dinamização das actividades de estudo e recreativas, adequada ao Orçamento do Serviço Nacional de Parques, Reservas e Património Paisagístico, não foi ainda essa verba aproveitada no sentido de criar infra-estruturas de apoio às actividades subaquáticas que o mesmo DL. Contempla como sendo o local internacional reconhecido como ideal para essa actividade.
A Federação Portuguesa de Actividades Subaquáticas com a sua nova direcção pretende dinamizar o estudo das espécies das Ilhas que constituem o arquipélago e activar acções de consciencialização e preservação das zonas degradadas. O Grupo de Actividades Subaquáticas, Estudo e Defesa Ecológica que faz parte da Federação  “GASEDE”  que faz parte da Direcção da Federação, em colaboração com outras instituições, grupos e clubes, estruturarão a efectiva protecção da Ilha da Berlenga».

A Berlenga hoje é uma zona protegida e todas as posturas apostas no Decreto-Lei, que lhe foram atribuídas são escrupulosamente cumpridas.
VER, HISTÓRIA DA BERLENGA:


                 

FOTOGRAFIA SUBMARINA

A FAUNA DO MAR VERMELHO


O MEU DIPLOMA DE MECÂNICO DE REGULADORES

OS MEUS DOCUMENTOS DE MERGULHO



OUTROS DOCUMENTOS DO TEMPO:

quinta-feira, junho 3

RUMOS CRUZADOS EM MANHÃ SUBMERSA


ESTE ARTIGO FOI PUBLICADO NO JORNAL “GAZETA DO SUL” A 1 DE FEVEREIRO DE 1989.  

“HISTÓRIAS DEBAIXO D’ÁGUA

A prática do mergulho com escafandro obriga a uma aprendizagem teórica e técnica antecipada. Por vezes, mesmo que todos os cuidados sejam observados, o mergulhador pode como qualquer outro praticante de actividade diversa, radical, deparar-se com situações previsíveis, mas eventualmente inevitáveis…
Há já alguns anos que, quando o mar deixa, todos os Domingos saímos em grupo de Sesimbra, numa barca alugada, para fazermos uns mergulhos onde melhor o mar permitir.

Se a memória não me falha foi em Setembro de 1985, numa manhã com bom tempo e mar de favor que ocorreu uma situação “acidentalmente desagradável”. Nesse dia escolhemos o fundo ao largo do Cabo Espichel, ali para os lados da baixa do cabo, mas um pouco mais para dentro.
Organizados os grupos, os mergulhadores começaram a saltar para a água. Calhou-me por companheiro o Jorge (mergulhador profissional), mais conhecido no meio por Jó-Jó. O mar calmo, o vento fraco de Leste e a visibilidade na ordem dos 15 a 20 metros, convidavam a um mergulho em pleno, ou seja, uma manhã submersa bem aproveitada. Assim foi ao princípio, nada fazendo antever o contrário. Durante 30 minutos estivemos os dois com bom aproveitamento e a contento, no reino de Neptuno. Vistos os buracos, satisfeitas as curiosidades e feitas as fotografias às lagostas que naquele dia eram em profusão, por via da limitação do “ar engarrafado” sinalizámos com o polegar o início da subida lenta, como mandam as regras, até aos três metros e, depois até ao “nosso mundo atmosférico”.
Já com as cabeças fora de água e a respirar o ar que a natureza nos oferece, avistámos a nossa barca na direcção de Leste, junto ao Espichel a recolher outros que também tinham finalizado a sua curta visita ao “mundo do silêncio”. Tínhamo-nos deslocado para Oeste, por isso estávamos longe do local do início. Olhámos à nossa volta e, de Oeste avistámos no nosso horizonte visual a silhueta de um navio, bem definido no azul luminoso do céu. Até aí tudo bem porque para aqueles navios de grande porte não era na nossa direcção a rota de passagem. Assinalámos a presença aos nossos companheiros da barca e, após termos recebido a confirmação de que fôramos avistados pela nossa gente, aguardámos flutuando ao sabor do lento baloiçar das ondas. Enquanto desfrutávamos a bonança, comentávamos gracejando o agradável mergulho com as vistas obtidas das boas lagostas daquele fundo rochoso muito irregular.
Inadvertidamente olhei de novo o horizonte para Oeste e ao descortinar, já perto a ameaçadora e imponente proa do navio que avistáramos no horizonte, chamei a atenção do meu companheiro para aquela presença desagradável que trazia rumo certo às nossas insignificantes cabeças. Nadámos para Norte, na perpendicular à direcção do navio, julgando ser possível sair da linha de colisão, mas a nossa lenta e pesada deslocação e a corrente contrária de vazante, não nos permitia à força de barbatana, fugir a tempo do destino cruel que parecia inevitável. Gesticulámos de braços no ar, apitámos e gritámos até ficarmos ofegantes, tentando chamar a atenção do timoneiro daquele “mastodonte de ferro” que, sem apelo nem agravo, nos queria passar a ferro. O tempo já era demasiado curto para a fuga e não nos deixou outra possibilidade senão a de, imediatamente mergulhar de novo. Em acção rápida e ambos de acordo, imergimos frente a frente e à distância de um braço, não fosse, por qualquer motivo, necessário o auxílio mútuo por falta do ar “engarrafado”. Quando atingimos a profundidade de quinze ou vinte metros, vimos a proa do navio que passou por cima das nossas cabeças, a sombra comprida daquele enorme monstro de ferro. Sentimos nos tímpanos a agressão da onda de choque que os potentes motores transmitem pelo mar aos nossos corpos frágeis e insignificantes que foram sugados e empurrados pela grande massa de água em deslocação de vante para a popa. Vimos a gigantesca e ameaçadora hélice a pouca distância cortar a água para imprimir a força necessária à deslocação daquele enorme “monstro” flutuante.
De novo à superfície, avistámos a popa do “monstro” e logo a seguir a nossa barca com a bandeira de mergulho hasteada no mastro que, sacudida ao sabor do vento bem sinalizava indubitavelmente a nossa presença no mar.
Já na segurança da barca e de regresso ao porto, comentámos o susto e a nossa correcta atitude de mergulharmos sem nos deixarmos atingir pelo pânico ou pelo navio, evitando assim que um estúpido acidente tivesse finalizado tragicamente uma manhã submersa de tão agradável visita ao REINO DE NEPTUNO.»