sexta-feira, abril 30

NO TEMPO EM QUE O “TEMPO” FOI REESCRITO...

O ano começou por ter só 10 meses. Mas foi por pouco tempo...

Nova Sincronização com o ano solar:

Cerca de 715 a.C., Numa Pompílio sucede a Rómulo, tornando-se no segundo rei de Roma (até 673 a.C.). Ao analisar o calendário, Numa apercebe-se que aquele estava atrasado relativamente ao ano trópico. Novos cálculos demonstraram, então, que o ano conteria realmente cerca de 12 lunações – mais duas do que anteriormente admitido – correspondente a 354 dias. Mantendo a nomenclatura dos meses, por esta apresentar um aspecto muito prático, Numa Pompílio defendeu o acréscimo de mais dois meses ao calendário em vigor (1).

Dois novos meses:

Como era extremamente religioso, todas as regras decretadas por Numa Pompílio tinham uma forte subjectividade de índole religiosa, com relevância especial ao Deus Janus (este étimo deriva de janua que significa porta, entrada ou passagem). O Deus Jano era considerado o protector de qualquer "abertura", fosse ela concreta ou abstracta. Ele é representado com duas caras opostas, uma à frente e outra atrás.

Assim, decretou que o ano se iniciaria com o mês Januarius (Janeiro; colocado antes de Março), e finalizaria com Februarius (Fevereiro; colocado após Dezembro)! Januarius, como já deves ter percebido, deriva do deus Jano. Februarius deriva de Februus, Deus dos mortos. Outros historiadores indicam, porém, a derivação de februare, purificar.

Facilmente se entende a ideia que ambos os meses indiciam: o ano velho morre no último mês, tempo em que cada um terá de se purificar (Fevereiro), a fim de poder entrar pela passagem (Janeiro) do novo ano.

Numa Pompílio alterou também a duração de cada mês. Aparentemente, os números pares eram fatídicos e apresentavam uma simbologia mortal. Em oposição, os números ímpares agradavam consideravelmente aos deuses. Assim, Janeiro passou a ter 29 dias, e os restantes passariam a ter 29 ou 31 dias - os de 30 dias passavam a ter menos um!

Curiosamente, a Fevereiro foram atribuídos apenas 23 dias. Esta decisão toma sentido, ao analisarmos um pouco os valores em questão. Os cálculos poderão ter mesmo sido os seguintes: 354 dias em 12 meses = "6 meses" x "31 dias/mês" + "5 meses" x "29 dias/mês" + "1 mês com os restantes dias", o que dá 23 dias!

Em sucessivos anos, a extensão deste ano civil foi sendo alterada, conforme os caprichos da população, por esta se aperceber de algum assincronismo com o ano trópico. Também se relatam "interesses obscuros" em prolongar o ano civil. Sempre que havia necessidade de o alterar, faziam-no, tradicionalmente, após o 23 de Fevereiro (ou seja, no fim do ano). Tanto eram introduzidos apenas alguns dias, como meses inteiros, os denominados meses intercalares. Esse dia, 23 de Fevereiro, adquiriu tal importância que se manteve até aos dias actuais — repare-se no caso do ano bissexto.

As manobras de Júlio e Augusto César:

Em 46 a.C., Júlio César, (Gaius Julius Cæsar), triúnviro de Roma, foi nomeado Chefe do Colégio dos Pontífices - instituição responsável pela estruturação dos calendários. Actuando igualmente através do Tribunal dos Decênviros, instituição que decidia sobre as Leis e Regras da Sociedade Romana – introduziu o Calendário Juliano, um calendário mais fiel ao ano trópico, com novas regras. Os meses de 29 dias passavam agora a ter, novamente, 30 dias. Fevereiro, que por 450 a.C. fora posto entre Janeiro e Março, passava a ter 29 dias em anos regulares, e 30 dias nos anos bissextos. O novo ano civil (com 365,25 dias) estava finalmente sincronizado com o ano trópico.

Foi nesse mesmo ano de 46 a.C. que Júlio César se prepara para introduzir a sua reforma do calendário. Aparentemente no intuito de sincronizar o calendário juliano com o tropical no ponto vernal (equinócio da Primavera), prolonga o ano com mais 80 dias. Foi o Annus Confusionus – o ano da confusão, com 445 dias.

Um ano após a reforma, é decidido homenagear Júlio César no seu próprio calendário, por ter efectuado aquela reforma. Então, alteraram o nome do agora sétimo mês, Quintilius, para um mais conhecido, Julius - Julho, para que Júlio César nunca mais fosse esquecido. (A razão da escolha deste mês incide, aparentemente, sobre a sua data de nascimento: César terá nascido neste mês.)

Durante os reinados seguintes, o último dia de cada mês foi sendo arrastado para os meses vizinhos, consoante as opiniões em voga.

Augustus Caesar (Augusto César – primeiro imperador romano de 23 a.C. a 14 a.C., sucessor de Júlio César) introduziu a última alteração oficial que se manteve até aos nossos dias. Orgulhoso como era, e tendo obtido com sucesso grandes feitos para a sociedade romana, escolheu outro mês como homenagem a si mesmo, numa acção similar a Júlio César. O mês indiciado foi o sucessor de Julho, Sextilis, e alterou-o para Augustus - Agosto. Mas este mês só tinha 30 dias; sendo da opinião que ele próprio não era inferior a Júlio César, retirou um dia ao "tradicional" mês de Fevereiro, colocando-o no mês de Agosto, ficando este então com 31. O mês de Fevereiro estabilizou finalmente, com apenas 28 dias em anos regulares, e 29 dias em anos bissextos.

Infelizmente, a sua grandiosidade não foi suficiente para acabar com a proliferação de erros que continuamente se cometiam no calendário. Somente após o ano 8 d.C. foi atingido o fim desse caos, a partir do qual se atingiu a estabilização definitiva do mesmo, até ao aparecimento do calendário Gregoriano.

1) - Em boa verdade, 12 lunações correspondem a um ano inferior em 11 1/4 dias relativamente ao ano trópico (erro por defeito); mas 13 lunações equivalem já um excesso de 18 1/4 dias (erro por excesso). Um ano trópico tem cerca de 365,25 dias.

domingo, abril 25

NUESTRA SEÑORA DE LAS MERCEDES


Este artigo foi publicado no JORNAL GAZETA DO SUL a 4 de Outubro de 1986, aquando da minha participação nos trabalhos de arqueologia submarina para o MUSEU NACIONAL DE ARQUEOLOGIA, na Estação Arqueológica do Ministério da Cultura, na Boca do Rio.

…” UM TESOURO SUBMERSO:

O BARCO ESPANHOL “NUESTRA SEÑORA DE LAS MERCEDES” FAZIA PARTE DE UM GRUPO DE QUATRO FRAGATAS QUE EM 1804 NAVEGAVA DE MONTEVIDEU PARA SEVILHA E, TENDO SIDO ATACADO POR NAVIOS INGLESES, NA COSTA DO ALGARVE, AFUNDOU-SE EM FRENTE AO CABO DE SANTA MARIA, JUNTO A FARO, A UMA DISTANCIA DE SETE MILHAS DA COSTA, TRANSPORTANDO 260 TRIPULANTES E 24 TONELADAS DE OURO, PRATA, JÓIAS MOEDAS DE OURO.

Em Dezembro de 1982 os jornais portugueses publicavam assim a notícia de um fabuloso achado. Que a fragata espanhola “NUESTRA SEÑORA DE LAS MERCEDES” que havia desaparecido aquando do seu afundamento e jamais encontrada, tinha sido finalmente localizada e identificada por um mergulhador italiano, na Costa Algarvia, a 50m de profundidade. A notícia tinha saído misteriosamente em primeira mão no estrangeiro e era assim como uma bomba por ser do total desconhecimento das autoridades portuguesas. A exemplo de outros casos passados mantinha-se assim o ritmo de achados submersos clandestinos em Portugal.

Fazendo uma ligeira retrospectiva do passado e sem querer aprofundar as causas deste tipo de achado à revelia das autoridades competentes, nem fazer comentários históricos fastidiosos terá forçosamente que se avaliar os factos.

Em resposta àquela notícia comprometedora o Governo Português depois de ter confirmado a existência do achado criou à pressa por Decreto Lei, através do Ministério da Cultura, no Museu Nacional de Arqueologia, a Secção Subaquática e bem assim a Zona da Estação Arqueológica da Boca do Rio, situada entre Lagos e Sagres, dando origem ao chamado “Projecto L’Ócean”. Este projecto que funcionou durante três anos visava especialmente a formação de mergulhadores amadores na arqueologia subaquática, dado que os despojos do navio se encontravam a pouca profundidade, possibilitando assim uma maior permanência de trabalho sem necessidade das perigosas e obrigatórias descompressões.

Começava assim, pela primeira vez em Portugal um projecto de arqueologia subaquática considerado e enaltecido pela Europa como justificável, útil e de grande futuro, face ao incontável espólio submerso espalhado na nossa costa Continental e Insular.

Pretenderam alguns arqueólogos terrestres, injustamente, comparar os trabalhos arqueológicos, impostos em terra e no mar, e quiseram contabilizar de imediato os resultado obtidos na campanha arqueológica do L’Ócean, destruindo assim o que à partida pretendia apenas ser uma escola de arqueologia subaquática.

Valha-nos o regresso da campanha e do bom senso!

É quase como que ver para crer, não há como consultar a história e num ligeiro resumo, concluir que Portugal privilegiado pela sua situação geográfica (estratégico militar) era ponto de passagem das naus que cruzavam o Atlântico.

Posicionamos Portugal na época fazendo este resumo histórico: Em 1803, (Reinado de D. Maria I) reacendeu-se a guerra entre a Inglaterra e a França.

A Ilha da Madeira e a cidade de Goa eram ocupadas pelos Britânicos como pretexto de proteger essas posições duma possível agressão francesa.

Recuando no tempo: A Espanha, aliada de Bonaparte, combatia a Coroa de Inglaterra e o Governo Pombalino de Lisboa (1750 a 1777) proclamava novamente o seu “inviolável sistema de neutralidade” e em nome da neutralidade, sob a aliança com a Inglaterra, proibiu os navios ingleses que faziam a guerra de corso de utilizarem os portos portugueses. Atitude estabelecida de acordo com o governo Inglês e durante algum tempo, os três países, aceitaram esse difícil compromisso que consistia em manter ao mesmo tempo a aliança de Portugal com a Inglaterra e a paz com a França.

Para terminar esta introdução histórica convêm recordar que Portugal percorreu 500 anos assistindo a um extraordinário movimento marítimo, comercial e de guerra, quase sempre obrigado pela sua situação política e económica, face aos países mais poderosos, (França, Inglaterra e Espanha) sem excluir os corsários da Coroa de Inglaterra.

Conhece-se o posicionamento cerca de 50 embarcações afundadas no Continente e Ilhas e calcula-se em cerca de 200 ou pouco mais as que se encontram afundadas na costa portuguesa, ainda por descobrir, com valor inestimável arqueológico e económico. Facto que não constitui admiração nem dúvida dado que a zona marítima da costa Portuguesa foi cenário de inúmeras batalhas navais entre ingleses, franceses e espanhóis, durante muitos e longos anos.

Sem no entanto querer mencionar os nomes duma lista de barcos naufragados, desaparecidos na nossa costa o que seria enfadonho mas a qual, no entanto, é do conhecimento do grupo de trabalho para a defesa do património arqueológico subaquático que funciona junto da Direcção Geral dos Serviços de Fomento Marítimo e da Comissão Nacional Provisória de Arqueologia Subaquática, poderemos mencionar aqueles que são já do conhecimento geral, como o S. Pedro de Alcântara, afundado em Peniche no Século XVIII, constando do célebre Arquivo das Índias em Sevilha e que deu causa a um episódio pouco vulgar. Em l982 um grupo de mergulhadores franceses foi entregar á Capitania de Peniche vários lingotes de ouro apanhados do fundo do mar e, dias depois, um iate americano de 17 metros, especialmente equipado para detecção e pesquisa subaquática esteve ancorado por ali cerca de um mês. Não esquecemos ainda o “Le Redoutable” e o “Le Modeste” que faziam parte da Esquadra Francesa comandada no navio “L'Océan” pelo seu Almirante La Clue, afundados em Agosto de 1759 junto à costa Algarvia, pela esquadra inglesa comandada pelo almirante Edward Boscawen,mais precisamente em frente à praia da Salema na denominada Batalha de Lagos.

Não queremos esquecer também o combate naval do Cabo de S. Vicente, saldando-se o combate por uma derrota espanhola frente aos ingleses; a Ilha Berlenga que foi durante muito tempo poiso de corsários da coroa inglesa e não só, que dali zarpavam com o único fim de saquearem os navios espanhóis que como o NUESTRA SEÑORA DE LAS MERCEDES transportavam para Espanha o ouro dos Astecas e a prata da Argentina.

O caçador de tesouros e o arqueólogo são pessoas que da mesma forma procuram valores, através dos mesmos meios mas com fins diferentes. Quando submersos ambos utilizam a aparelhagem necessária para pesquisa e mergulho, separando-os a diferença de que o caçador de tesouros pretende valores transaccionáveis sem se preocupar com o valor histórico e arqueológico, destruindo sempre os vestígios existentes e todo um conjunto de vestígios que dariam ao arqueólogo a inestimável informação da réstia dos sinais ocultos pelo tempo.

Nos últimos 15 anos, após a 2ª Grande Guerra a prática do mergulho amador e profissional desenvolveu-se muito, não só porque os praticantes são cada vez em maior número, mas pelo desenvolvimento da técnica e muito especialmente da fisiologia do mergulho (medicina hiperbárica) que tem facilitado ao homem comum o uso, sem grandes restrições desses aparelhos cada vez mais aperfeiçoados.

Compete aos Clubes e superiormente à Federação Portuguesa de Actividades Subaquáticas canalizar todo esse potencial dando-lhe carácter científico, dinamizando-se secções de arqueologia, biologia, etc., criando comités, apoiados e dando apoio às entidades estatais e escolares, dando-se especial atenção e nova dinâmica ao projecto do Museu Nacional de Arqueologia. Antes porem há que modificar a Lei contemplando os achadores com os seus direitos, tornando-os efectivos, dando-lhe o cariz actual Europeu e em conformidade com as directivas da Confederação Mundial de Actividades Subaquáticas e com o direito Internacional.

Portugal é o único país da Europa com valores submersos inestimáveis e continua a ser dos poucos do mundo que ainda não procedeu ao seu inventário, sob pena de perde-los quando começarmos a ser invadidos pela tecnologia europeia, nesse campo.

Façamos o que nos compete antes que outros o façam por nós.”

NOTA DO AUTOR: Em 1986 os condicionalismos impostos pela Lei em vigor era ainda incipiente no tocante ao mergulho amador e, embora a Lei tenha mudado, duvidando-se do seu melhoramento, nada foi feito ainda quanto ao problema do “espólio subaquático” conforme acima de refere e ao desenvolvimento da arqueologia submarina.

HISTÓRIA DE LAGOS:

A BATALHA DE LAGOS:


sábado, abril 24

O CASTELO DE ALMOUROL E SUAS LENDAS


Numa ilhota do Tejo, pouco a jusante da sua confluência com o Zêzere, a meia distância entre as vilas de Barquinha e Constância (terra onde residiu Camões), num afloramento granítico a que a diminuta base dá certo aspecto de altitude, apesar dos seus simples 40 metros de altura ergue-se um dos mais típicos castelos portugueses, o de Almourol.

Ajustada às condições topográficas, a planta da muralha envolvente é sinuosa, protegendo-lhe os ângulos numerosos bastiões; a porta de entrada, para a ela ter acesso é por barco, aberta, dá acesso a um vestíbulo do qual se passa ao terreiro um pouco superior, ande assenta a dominadora torre de menagem, cujo interior mal iluminam algumas simples frestas.

Salvo, pouco importantes modificações praticadas modernamente, o castelo apresenta a feição medieval do tempo em que lhe promoveu a construção o célebre Gualdim Pais, Mestre da Ordem do Templo.

Uma lápide datada da era de 1209 (ano 1171), engastada sobre a porta principal do castelo, menciona, além da naturalidade bracarense de Gualdim Pais e da sua acção militar contra os muçulmanos no Egipto e na Síria, o seu advento à chefia dos Templários portugueses e subsequente construção dos castelos de Pombal, Tomar, Zezere, Cardiga e Almourol. (...factus domus Templi Portugalis procurator, hoc construxit castrum Palumbare. Tomar, Ozezar, Cardig, et hoc ad Almourol), assim mostrando que em 1171 o castelo de Almourol se achava, como os demais indicados, já construído. Essa seria, portanto, a data, na qual, ou anteriormente à qual a construção teve lugar. Uma pequena inscrição, assente sobre a porta interior, esclarece porém ter sido em 1171 (era 1209, também mencionada nesta) que Gualdim Pais, com os seus confrades, edificou o castelo de Almourol.

Sobre a porta da sacristia da igreja do convento de Tomar, existe uma outra lápide, igualmente datada da era de 1209, assaz semelhante a esta, salvo na enumeração dos castelos, na qual figuram também os de Idanha e Monsanto, o oitocentista erudito Viterbo, aceitando uma errónea tradição segundo a qual a lápide de Tomar teria sido transferida para o castelo de Almourol no tempo do Infante D. Henrique, supôs proveniente de Tomar a inscrição de Almourol; esta inexactidão tem sido repetida, apesar de que há quase meio século já o cuidadoso investigador Garcês Teixeira mostrou serem duas as inscrições, e com base no facto de mencionar-se na de Tomar a construção dos castelos de Idanha e de Monsanto sendo estes posteriores a 1171, afirmou dever considerar-se principalmente a inscrição de Almourol e cópia dela a de Tomar.

Muito anteriormente à construção do templário castelo de Almourol, já o local estivera fortificado. Com efeito, vê-se no sopé de certos lugares das muralhas algum aparelho construtivo que tem sido considerado de tipo romano, e esta remota ocupação militar do local pelos Romanos é confirmada pelo achado de moedas romanas e outros objectos de igual época. Admite-se, por isso, que, passando ao poder dos Bárbaros, ai depois houvesse fortificação árabe, expugnada pelas forças cristãs do nosso primeiro rei, e que finalmente, sobre as ruínas dela, porventura existentes, se fizesse por determinação de Gualdim Pais uma reedificação em moldes arquitectónicos do seu tempo e com a grandeza que caracteriza o perdurante monumento.

Integrado nos domínios da Ordem do Templo, o castelo constituiu sede duma comenda, situação que se manteve depois que em substituição daquela Ordem, violentamente extinta pelo papa Clemente V, o nosso rei D. Dinis lhe constituiu sucessora nos bens e direitos, relativos a Portugal, a Ordem de Cristo.

Com o andar do tempo, perdida a eficiência militar, o castelo de Almourol deixou de ter guarnição e ficou abandonado, no isolamento da penedia em que se ergue. Mas foi justamente esse isolamento, que, século após século, o deixou maculado apenas pela acção do tempo, aliás frusto; mas, ao contrário de tantos outros, livre da destruidora acção dos homens.

Parco em matéria de memórias propriamente históricas, o castelo de Almourol é porém rico quanto a uma porção das lendas que a imaginação popular, ao criá-las, fez, como de costume, remontar ao tempo dos moiros.

Assim é possível, porém, que nem todas sejam de origem popular, pois bem podem ter-se na conta de mera criação literária os sucessos que o quinhentista Francisco de Morais incluiu no seu Palmeirim de Inglaterra, relativamente ao castelo de Almourol. Nesse tardio romance de cavalaria, o herói, viajando dum porto britânico para Constantinopla, é desviado deste destino por uma grande tempestade que forçou o navio a arribar na costa portuguesa, fundeando no rio Douro. Desembocado no Porto, Palmeirim toma conhecimento das perigosas aventuras de alguns cavaleiros andantes que se tinham atrevido a travar combate com o gigante Almourol, que no seu castelo à beira do Tejo custodiava a bela princesa Misaguarda e as suas damas; por isso, sempre em busca de aventuras, logo se determina a correr essas teias. Jornadeando para o sul, chega enfim à orla do Tejo e logo avista o castelo de Almourol, «tão guerreiro e bem posto, que fazia presumir a quem o via que quem primeiro o edificara, para tenção de grandes coisas o fizera». Já mais perto, vê dois cavaleiros combatendo numa praça junto do castelo, mas que já estavam no fim da luta. Reconhece no vencedor o cavaleiro triste, com o qual já tivera encontros; aqui, este, em sinal de vitória, juntara o seu escudo ao de outros que já a tinham obtido de seus contrários. Ora no escudo do cavaleiro triste estava pintado o retrato da sua dama, a princesa Misaguarda, tão bela, que Palmeirim «ficou algum espaço suspenso»; mas, voltando a si, um fervoroso galanteio brotou de seus lábios, pois que, pondo o olhar na efígie, assim falou: «Senhora, agora vejo o que não cuidava e já me não espanto Fazer tamanhos extremos este vosso cavaleiro, pois por tamanho extremo combate, vencer todos não me parece muito, pois a razão em seu favor está tão clara, mas comigo quero ver que fará, pois a tenho maior a minha: Ouvindo tais palavras, tendo-as como ofensa digna de castigo, o cavaleiro triste sustenta o repto, dizendo para consigo: Senhora, quem por esse parecer combate, que fraqueza tão grande ou que esforço tão fraco pode ter, que todas elas cousas grandes não acabe?». Então um feroz combate se trava. Voam em estilhaços os escudos, amolgam-se as espadas, porém só o sangue derramado, as muitas feridas, e por fim a noite, põem termo à luta, mas sem haver vencedor. Mais ferido, o cavaleiro triste é recolhido e tratado no castelo, enquanto Palmeirim vai tratar-se numa aldeia próxima. Porém, nem um, nem outro, logra o amor da princesa, a qual aconselha o cavaleiro triste a retirar-se e a desistir de novos combates durante um ano, já que não fora vencedor neste; e quanto a Palmeirim, também ele se afastou do castelo, achando preferível retornar aos seus propósitos de Constantinopla. Depois disso, o feroz Almourol atacado e vencido por outro gigante, Dramusiando, sob protecção do qual ficam então a princesa e a sua corte.

O muito citado pelo polígrafo Pinho Leal, tendo referido esta lenda e aludido a outras, narra também, e pormenorizadamente, uma tradição lendária que diz corrente entre o povo da região ainda no tempo em que a registou, isto é, nos fins do terceiro quartel do século passado; alude-se nessa lenda a sucessos ocorridos nos primeiros tempos da Reconquista Cristã, séculos XI ou X, sendo protagonistas nela um cavaleiro cristão.

D. Ramiro, e um jovem mouro, como resumidamente vamos narrar: D. Ramiro regressava orgulhoso de combates contra os muçulmanos e encontrou duas mouras, mãe e filha, trazendo esta uma bilha com água, que deixou cair, assustada, quando lhe pedia de beber o rude cavaleiro, enfurecido, logo a ela e a mãe tirou a vida; apareceu então um pequeno mouro, filho e irmão das assassinadas, que D. Ramiro levou prisioneiro para o castelo onde se achavam a sua mulher e a filha, que logo o prisioneiro projectou matar, como represália; Fê-lo, porém preparando lentamente um subtil veneno; deixando-se, todavia enlear depois por um mútuo amor com a jovem, que o pai projectava casar com outro cavaleiro, sabendo que, mouro e cristão deixaram o castelo e desapareceram. Este conjunto de inconsciências é rematado com dizer-se que nas noites de S. João aparece no alto da torre de menagem o par de amorosos, abraçados, e rojando-se-lhes aos pés, implorando clemência ao brutal D. Ramiro.

Na realidade, quem em qualquer noite luarenta contempla o solitário castelo, pode bem compreender que no decorrer dos séculos, desde o seu abandono, o povoassem lendas, absurdas sem dúvida, mas tocadas dum suave romantismo.

http://www.rotas.xl.pt/0304/500.shtml

http://pt.m.wikipedia.org/wiki/Castelo_de_Almourol

quinta-feira, abril 22

AS CRUZADAS

As Cruzadas são tradicionalmente definidas como expedições de carácter "militar" organizadas pela Igreja, para combater os inimigos do Cristianismo e libertar a Terra Santa (Jerusalém) das mãos desses infiéis.

O movimento estendeu-se desde os fins do século XI até meados do século XIII. O termo “Cruzadas” foi designado pelos seus adeptos (os chamados soldados de Cristo) por serem identificados pelo símbolo da cruz bordada nas suas vestes. A cruz simbolizava o contrato estabelecido entre o indivíduo e Deus. Era o testemunho visível e público de engajamento individual e particular na empreitada divina.

Partindo desse princípio, podemos afirmar que as peregrinações em direcção a Jerusalém, assim como as lutas travadas contra os muçulmanos na Península Ibérica e contra os hereges em toda a Europa Ocidental, foram justificadas e legitimadas pela Igreja, através do conceito de Guerra Santa - a guerra divinamente autorizada para combater os infiéis. "Para os homens que não se haviam recolhido num mosteiro, havia um meio de lavar as suas faltas, de ganhar a amizade de Deus: a peregrinação. Deixar a casa, os parentes, aventurar-se fora da rede de solidariedades protectoras e caminhar durante meses, anos. A peregrinação era penitência, provação, instrumento de purificação, preparação para o dia da justiça de Deus. A peregrinação era igualmente prazer, ver noutros países a distracção deste mundo cinzento. Em bandos, entre camaradas. E, quando partiam para Jerusalém, os cavaleiros peregrinos levavam armas, esperando poder guerrear contra o infiel. Foi durante essas viagens que se formou a ideia da guerra santa, da “cruzada".
O movimento dos cruzados foi motivado pela conjugação de diversos factores, dentre os quais se destacam os de natureza religiosa, social e económica. Em primeiro lugar, a ocorrência das Cruzadas expressava a própria cultura e a mentalidade de uma época. O predomínio e a influência da Igreja sobre o comportamento do homem medieval devem ser entendidos como os primeiros factores explicativos das Cruzadas.

Tendo como base a intensa religiosidade presente na sociedade feudal a Igreja sempre defendia a participação dos fiéis na “Guerra Santa”, prometendo recompensas divinas, como a salvação da alma e a vida eterna, através de sucessivas pregações realizadas em toda a Europa.

O Papa Urbano II, idealizador da Primeira Cruzada, realizou a sua pregação durante o Concílio de Clermont, rotura com a separação da Igreja no Cisma do Oriente, o Papa assim se dirigiu aos fiéis: " Deixai os que outrora estavam acostumados a se baterem impiedosamente contra os fiéis, em guerras particulares, lutarem contra os infiéis. Deixai os que até aqui foram ladrões tornarem-se soldados. Deixai aqueles que outrora se bateram contra os seus irmãos e parentes, lutarem agora contra os bárbaros como devem. Deixai os que outrora foram mercenários, a baixo soldo, receberem agora a recompensa eterna. Uma vez que a terra onde vós habitais, é demasiadamente pequena para a vossa grande população, tomai o caminho do Santo Sepulcro e arrebatai aquela terra à raça perversa e submetei-a a vós mesmos".
A ocorrência das Cruzadas Medievais deve ser analisada também como uma tentativa de superação da crise que se instalava na sociedade feudal durante a Baixa Idade Média. Por esta razão outros factores contribuíram para sua realização.

Muitos nobres passam a encarar as expedições à Terra Santa como uma real possibilidade de ampliar os seus domínios territoriais.

Aliada a esta questão deve-se lembrar ainda de que a sucessão da propriedade feudal estava fundamentada no direito de primogenitura. Esta norma estabelecia que, com a morte do proprietário, a terra deveria ser transmitida, por meio de herança, ao seu filho primogénito. Aos demais filhos só restava servir o seu irmão mais velho, formando uma camada de "nobres desapossados" - a pequena nobreza - interessada em conquistar territórios no Oriente por meio das Cruzadas. Tanto a Cruzada Popular como a das Crianças foram fracassadas. Ambas tiveram um trágico fim, devido à falta de recursos que pudessem manter os peregrinos na sua longa marcha. Na verdade, as crianças mal alcançaram a Terra Santa. A maioria morreu no caminho, de fome e frio. Alguns chegaram apenas até à Itália, outros dispersaram-se; houve aqueles que foram sequestrados e escravizados pelos muçulmanos. Com os mendigos da Cruzada Popular não foi diferente. Embora tivessem alcançado a cidade de Constantinopla (sob péssimas condições), as autoridades bizantinas logo trataram de afastar aquele grupo de desapossados. Para tanto, o bispo de Constantinopla incentivou os peregrinos a lutarem contra os infiéis da Ásia. O resultado não poderia ser outro: sem condições para enfrentar os fanáticos turcos seldjúcidas (a), os abnegados fiéis foram massacrados. Além dessas duas cruzadas, tiveram ainda oito cruzadas oficialmente organizadas, em direcção à Terra Santa.

PRINCIPAIS REPERCUSSÕES - As Cruzadas:

Se tomarmos como referência apenas a essência religiosa das Cruzadas, podemos afirmar que estes movimentos fracassaram, ou seja, não atingiram o seu principal objectivo: libertar a Terra Santa do domínio muçulmano.

Na verdade, os cristãos obtiveram algumas vitórias isoladas que possibilitaram a formação dos Estados Latinos do Oriente: O Reino de Jerusalém, os Condados de Edessa e Trípoli e o Principado de Antioquia. Mas, a fundação desses territórios, após a Primeira Cruzada, representou apenas um aparente domínio dos cristãos sobre regiões orientais, pois os muçulmanos logo retomaram o controlo a partir do século XIII.
Devemos considerar, no entanto, algumas decorrências indirectas provocadas pelos cruzados nas suas expedições. De maneira geral, houve a expansão da cristandade pela Europa Oriental (parte da Grécia e dos Balcãs), Setentrional (Escandinávia) e o início do processo de reconquista da Península Ibérica. Ressalta-se ainda outro resultado indirecto extremamente negativo: a intolerância religiosa cada vez mais acentuada, especialmente com relação à comunidade judaica na Europa. O aumento do anti-semitismo entre os cristãos culminou com o massacre de milhares de judeus em todo o continente europeu.

Vale ressaltar que houve o restabelecimento das rotas comerciais entre Europa e a Ásia. Com as Cruzadas, o Ocidente retoma o controlo das rotas comerciais, pondo fim ao domínio árabe no Mediterrâneo e, a partir da intensificação das relações comerciais, outras grandes mudanças foram geradas na sociedade feudal. Ocorre o desenvolvimento das cidades, o surgimento de uma rica camada de comerciantes (a burguesia), a expansão dos mercados, o aumento da circulação monetária, o despertar do espírito de lucro e a difusão do racionalismo económico. Vale lembrar também que o movimento das Cruzadas contribuiu para o retrocesso da servidão medieval, pois alguns aristocratas, precisando de recursos para as suas expedições, vendiam a liberdade para os servos. Havia ainda a ocorrência de fugas, em algumas propriedades, onde a ausência dos senhores facilitava a libertação. A fuga era empreendida por alguns camponeses entusiasmados em participar nas Cruzadas ou por aqueles que procuravam uma nova vida nos centros urbanos, tornando-se artesãos ou comerciantes.

Finalmente, vale destacar algumas repercussões de carácter cultural promovidas pelas Cruzadas. Podemos afirmar que o contacto com as requintadas civilizações orientais (bizantina e árabe) provocou um refinamento no modo de vida europeu. Uma grande quantidade de produtos do Oriente foi trazida à Europa. Destacam-se o café, o cravo, a canela, a pimenta, o arroz, o algodão, etc. Também foram assimiladas novas técnicas de cultivo, de produção de ferro, de fabricação de tecidos, bem como novas práticas financeiras e comerciais.

PEREGRINAÇÕES A LUGARES SANTOS:

A região da cidade de Jerusalém, na Palestina, onde actualmente fica o Estado de Israel é sagrada para os fiéis das três mais importantes religiões monoteístas do mundo: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. Desde épocas muito remotas, judeus, cristãos e muçulmanos faziam peregrinações a Jerusalém para venerar os Lugares Santos.

Na Idade Média, mesmo hoje, em certa medida, os cristãos em geral acreditavam que os lugares onde os santos viveram, os objectos por eles usados e o que restava dos seus corpos (as chamadas “Relíquias”) possuíam poderes milagrosos, como a cura de enfermidades e a salvação dos pecadores. Havia vários lugares de veneração espalhados por todo o mundo cristão, mas a Terra Santa, onde Jesus viveu, apregoou e foi supliciado, era considerado o mais sagrado de todos.

Para os judeus, Jerusalém é a principal cidade da sua antiga pátria e ali se encontram vários locais sagrados, principalmente o “Muro das Lamentações”, ruínas do Templo de Salomão destruído pelos romanos no primeiro século da nossa era. Para os cristãos, é reverenciada por ter sido o local no qual Jesus de Nazaré viveu durante os três últimos anos da sua vida, apregoou, fez discípulos e foi crucificado. Para os muçulmanos, Jerusalém é uma Cidade Santa porque crêem que Maomé subiu ao céu da Cúpula do Rochedo, situada no coração da cidade.

Curioso é reflectir como as três religiões monoteístas acreditam no mesmo Deus, como se prendem às metáforas, as lêem e compreendem literalmente os desentendimentos entre os três grupos que persistem até aos dias de hoje...

Apesar da grande distância da Europa Ocidental, muitos peregrinos faziam uma longa e arriscada jornada para chegar a Jerusalém. Alguns iam primeiro a Roma e, em seguida, partiam de algum porto italiano para a Palestina. As pessoas mais pobres percorriam todo o trajecto a pé.

MOTIVOS:

Em 638 d.C. os árabes, de fé Islâmica, tomaram a Palestina, inclusive, naturalmente, Jerusalém. Durante séculos aquela ocupação não chegou a criar problemas para os cristãos, pois os árabes respeitaram a religião Cristã e, portanto, as peregrinações seguiam permitidas. Em 1071, porém, a Terra Santa foi capturada pelos turcos otomanos, também muçulmanos mas, intolerantes para com os cristãos e passaram a criar todo o tipo de dificuldades aos peregrinos.

Economicamente, o feudalismo ingressava no seu período de crise – como o capitalismo está em crise nos dias actuais – havendo forte contradição entre as forças produtivas e o modo de produção, ou seja, o aumento da população ou crescimento demográfico exigia maior empenho na produção de géneros alimentícios mas, segundo as normas, todo o excedente ficava com o Senhor Feudal e não com os produtores (mais ou menos como ocorre com a mais-valia nos nossos dias...).

Para atender aos fiéis desejosos de retomar as peregrinações e escoar o excesso de mão-de-obra ociosa na Europa, o papa Urbano II declarou guerra aos “infiéis” muçulmanos conclamando as multidões sob o brado de “Deus o quer! Deus o quer!” O fervor religioso espalhou-se por toda a Europa. As pessoas acreditavam firmemente que o cristianismo estava em perigo e que defendê-lo, portanto, era cumprir a vontade de Deus. O papa Urbano II prometeu a todos os que partissem para a guerra contra os “infiéis”, teriam os seus pecados perdoados e iriam para o céu após a morte.

Os cavaleiros que, a partir de 1095, atenderam ao chamado do Papa para fazerem parte de uma expedição à Terra Santa escolheram como símbolo uma cruz pintada na armadura ou bordada nas vestes. Por isso foram chamados “cruzados”. Eles seriam os guerreiros da cruz, os defensores do cristianismo. Séculos de guerra começaram então...

A CRUZADA DOS POBRES:

Enquanto os nobres europeus se preparavam para a cruzada, pregadores itinerantes levavam a mensagem do papa às pessoas comuns. Um desses pregadores, Pedro, o Eremita, inspirava os seus ouvintes com tanto entusiasmo que milhares de crentes passaram a segui-lo.

Em Abril de 1096, os seguidores de Pedro reuniram-se na cidade alemã de Colónia. Não eram soldados disciplinados. Na Idade Média, só os nobres eram treinados nas artes da guerra... Os seguidores fiéis de Pedro, o Eremita, eram mendigos e camponeses pobres e ignorantes que, por vezes, levavam também as suas famílias.

Partiram no início do Verão, cheios de fé e nenhuma provisão. Quando conseguiam alimentos era através do saque ou da esmola... Atacaram, por exemplo, cidades na Hungria e na Jugoslávia. Além disso, ao passar por Constantinopla, sede do Império (Cristão) Romano do Oriente ou Império Bizantino, saquearam os subúrbios da cidade, levando a todos grande terror. Mas o pior estava por vir: o confronto com o feroz e bem treinado exército Turco.

Resultado? Um verdadeiro MASSACRE! Os “cruzados” maltrapilhos instalaram-se desordenadamente numa fortaleza abandonada. Um pequeno grupo saiu para saquear os arredores mas foi surpreendido e totalmente aniquilado. Quando o exército Turco se aproximou da fortaleza, os cruzados, como era de se esperar, sofreram fragorosa derrota, com milhares de baixas. Alguns foram capturados e vendidos como escravos; outros escaparam e conseguiram ser resgatados para narrar o ocorrido...

A PRIMEIRA CRUZADA – CRUZADA DOS NOBRES:

Os nobres europeus prepararam-se com maior acuidade durante todo o ano de 1096. Partiram no Outono daquele ano e já em Abril de 1097 estavam em Constantinopla prestando a sua solidariedade e solicitando o apoio de “César” o Papa bizantino Aleixo Comneno.

Partiram inicialmente rumo a Antioquia. No caminho sitiaram e tomaram a cidade de Nicéia, até então ocupada pelos turcos.

O Cerco de Antioquia:

Os cruzados continuaram o seu caminho, atravessando a Síria. A jornada foi muito difícil, cheia de conflitos e desentendimentos entre os chefes cristãos e perpassada por duros combates com o exército Turco.

No Outono de 1097 finalmente chegaram a Antioquia, cuja conquista foi longa e penosa. Durante sete meses os cruzados sitiaram a cidade sem conseguir vencer a resistência dos seus defensores. Somente em Julho de 1098 os exércitos cristãos conseguiram ultrapassar as muralhas da cidade, graças a alguns moradores cristãos que ainda ali viviam e que facilitaram a sua entrada.

Poucos dias depois uma nova leva do exército Turco chegou e cercou Antioquia com os cruzados dentro. Depois de muitas batalhas os cruzados lograram romper o cerco, derrotar os turcos e seguir a sua jornada rumo a Jerusalém.

Em Jerusalém:

Os cruzados chegaram às portas de Jerusalém em Julho de 1099. Os seus primeiros ataques foram facilmente repelidos pelos turcos. A 14 de Julho, após jejum e oração, o exército cristão partiu para o seu mais importante ataque. Por volta do meio-dia de 15 de Julho de 1099, os cruzados escalaram as muralhas e abriram um dos seus portões. Os que estavam fora das muralhas correram para dentro da cidade e massacraram impiedosamente sem discriminação de judeus e muçulmanos, habitantes da cidade.

Quando finalmente entraram na Igreja do Santo Sepulcro, os cruzados caíram de joelhos dando graças a Deus pela vitória. Do lado de fora da Igreja os cadáveres das suas vítimas, recobertos de sangue que corria de enxurrada pelas ruas...

Criação de Feudos Europeus na Palestina:

A maioria dos nobres e seus seguidores voltou para a Europa, mas alguns permaneceram na Palestina. Dos líderes, os que ficaram estabeleceram quatro estados cristãos nas regiões conquistadas: o Condado de Edis, o Principado de Antioquia, o Condado de Trípoli e o Reino de Jerusalém que, por ser o mais importante, ficou com Godofredo de Bouillon, um dos líderes da cruzada.

Os soldados receberam terras, nesses novos estados que se estabeleceram entre árabes, turcos, gregos e judeus que ali viviam, começaram gradualmente a adoptar os hábitos e a falar a língua local.

Vale tão-somente ressaltar que aqueles estados cristãos jamais conheceram a paz. Estavam constantemente em guerra com os seus vizinhos muçulmanos e jamais foram capazes de controlar as áreas rurais. Os muçulmanos, via de regra, rondavam as estradas e atacavam peregrinos cristãos com destino a Jerusalém.

Cavaleiros Templários e Hospitalários:

Para defender os Estados cristãos, alguns nobres formaram associações chamadas de ordens militares. As duas mais poderosas foram as dos Cavaleiros do Templo (Os Templários) e a dos Hospitalários de São João de Jerusalém. em 1305, contudo, com vista a apoiar o rei francês Filipe “O Belo” sob o qual vivia em cativeiro, o papa Clemente V (Bertrand de Got) decidiu exterminar a Ordem dos Cavaleiros do Templo, através de torturas e confissões forjadas. Mas os Cavaleiros Templários sobreviveram e até os dias de hoje na Maçonaria, como se sabe...

Os seus membros viviam como monges e lutavam como cavaleiros. Faziam votos religiosos e juravam empreender guerra incessante contra os infiéis. Dedicavam-se a auxiliar os peregrinos, os pobres e os doentes. Dos seus enormes castelos, vigiavam toda a região. Eram os cristãos mais temidos pelos muçulmanos pelo seu destemor, hábeis lutadores de elite e desapego até mesmo da própria vida em defesa do cristianismo.

Apesar de todos os esforços daqueles valorosos cavaleiros, todavia, anos de guerra enfraqueceram enormemente os estados dos cruzados. Em 1144 um desastre: o exército muçulmano capturou o Condado de Edessa! Quando Edessa caiu, os turcos conseguiram reagrupar o seu exército e atacar sem trégua a longa fronteira dos outros três Estados.

A Segunda Cruzada – Cruzada dos Reis:

Depois da queda de Edessa, os Estados cristãos ficaram em perigo. Temerosos, os governadores enviaram embaixadores a Roma, pedindo ao papa que lhes enviasse ajuda para lutar contra os turcos e proteger a Terra Santa.

O papa Eugénio III resolveu atendê-los e convocar uma nova cruzada. Para divulgá-la na Europa, encarregou Bernard de Clairvaux (mais tarde canonizado), o mais erudito e respeitado clérigo da sua época.

Bem-sucedido, Bernard persuadiu o rei francês Luís VII (mais tarde canonizado também) e o Imperador do Sacro Império Romano Germânico, Conrado III que, com os seus relutantes nobres, decidiram-se a participar da expedição.

Os dois reis, inimigos um do outro, não se reuniram para a cruzada. Cada um enfrentou o adversário turco por sua conta e risco, em batalhas separadas, sem qualquer acordo entre eles.

Em 1147, os esplêndidos exércitos, então reunidos pelos dois reis, marcharam através da Europa em direcção a Constantinopla.

Conrado chegou primeiro e, por volta de Outubro daquele ano atravessava o Bósforo e estava a caminho da Terra Santa. Em Dorileu, o exército turco lançou-se contra ele e impôs-lhe fragorosa derrota. Conrado e outros sobreviventes do massacre arrastaram-se de volta a pé para Constantinopla, onde os franceses acabavam de chegar.

O rei Luís ousou atravessar território inimigo em pleno inverno. Os turcos estavam à espera e mataram muitos franceses durante esta insana travessia. Muitos outros morreram ainda de fome e de frio...

Os remanescentes dos dois exércitos encontraram-se em Jerusalém no verão seguinte, quando outros cruzados, recém-chegados da Europa, se juntaram a eles.

Desta vez os dois reis resolveram unir-se. Com inacreditável insensatez, decidiram sitiar Damasco, uma cidade cujo governante sempre se mostrou muito amigável com os cristãos. O fracasso foi total. Depois de cinco dias de ataques infrutíferos e com muitas baixas, os exércitos cruzados desistiram da luta e regressaram à Europa.

SALADINO:

Anos de confusão seguiram-se à desastrosa Segunda Cruzada. Havia desavenças entre os cristãos, mas também os muçulmanos guerreavam entre si por hegemonia. Durante algum tempo os Estados cristãos puderam sobreviver graças às divisões entre os seus inimigos.

Foi então que começou a surgir um reflorescimento muçulmano. Nur ad-Din, governador de Alepo (Síria), derrotou todos os outros governantes muçulmanos. Em 1164 enviou um exército para invadir o Egipto, que era o país muçulmano mais rico da época.

O comandante daquele exército levou consigo o seu sobrinho Saladino. Um notável guerreiro. Em 1169, com a idade de 31 anos, Saladino foi feito governador do Egipto. Depois da morte de Nur ad-Din e de seu filho, tornou-se Sultão de um Império que se estendia do Egipto até à região central da actual Turquia.

Em 1187, à frente de um poderoso exército, Saladino invadiu a Terra Santa.

Uma a uma as fortalezas caíam diante das tropas lideradas por Saladino. Por volta de Setembro, os seus exércitos já haviam cercado Jerusalém. Os defensores da cidade, muito menos numerosos que os soldados muçulmanos acabaram por se render.

Em 2 de Outubro de 1187, os muçulmanos entraram em Jerusalém e começaram a destruir todos os altares e cruzes dos Lugares Santos...

Algumas palavras sobre o Sultão Saladino:

Numa época em que era comum os governantes mostrarem-se traiçoeiros e cruéis, Saladino ficou famoso por sua humanidade e honestidade. Tendo dado a sua palavra, fosse a um amigo ou a um inimigo, ele sempre a mantinha. Tinha grande amor pelas crianças e as histórias de seu carinho para com elas e a sua gentileza para com os desprotegidos fizeram dele uma lenda.

Saladino era implacável na luta, mas generoso na vitória; ao contrário do que acontecia com os exércitos cristãos, os seus homens nunca macularam os seus triunfos com o massacre de prisioneiros indefesos...

A Terceira Cruzada – Nova cruzada de Reis:

A perda de Jerusalém revoltou todos os cristãos. Incitados pelo Papa, os principais monarcas da Europa decidiram-se em participar numa nova cruzada. Em Maio de 1189 iniciou-se a partida para o Oriente. Foi o maior exército jamais reunido para uma expedição à Terra Santa, e a notícia da sua chegada alarmou os muçulmanos da Palestina.

Mas o desastre mudou completamente o rumo dos acontecimentos: ao atravessar um rio, o Imperador Frederico I (o “Barba Ruiva”), então com 70 anos de idade, morreu afogado. Sem a sua liderança, o gigantesco exército alemão rapidamente se desintegrou. A maior parte dos soldados voltou para a Alemanha; apenas uns poucos se decidiram a seguir para a Terra Santa.

No ano seguinte, Filipe Augusto, da França, e Ricardo I (o “Ricardo Coração de Leão”), da Grã-Bretanha partiram numa cruzada conjunta. Os seus exércitos encontraram-se na Sicília, onde passaram o Inverno. Na Primavera de 1191, zarparam em direcção ao porto de São João D’Arce, no Reino de Jerusalém, para socorrer um exército cristão atacado pelas tropas de Saladino. Ricardo desviou-se da rota para capturar a ilha de Chipre e só chegou a Arce em Junho.

Os extenuados cristãos que sitiavam São João D’Arce estavam sendo dizimados pelo exército de Saladino, mas a chegada dos ingleses e franceses trouxe-lhes novo ânimo. Os recém-chegados construíram poderosas catapultas e altas torres de assalto para, com a ajuda destas armas de guerra, empreenderem uma série de ataques contra as bem protegidas muralhas de Arce. Os homens de Saladino não conseguiram repeli-los e o ânimo dos que defendiam a cidade abateu-se.

Em 8 de Julho, os muçulmanos acabaram por se render, e os cristãos penetraram na cidade. Saladino bateu em retirada e Filipe Augusto voltou para a França, deixando o comando dos exércitos cristãos ao Rei Ricardo Coração de Leão. O rei inglês perseguiu Saladino na sua retirada para o sul, em direcção a Jerusalém.

A Batalha de Arsuf e o Tratado de Paz:

Muitos cristãos morreram de calor durante a marcha, e muitos outros foram mortos nas batalhas que diariamente eram travadas. Em Arsuf, os muçulmanos interceptaram a marcha do exército de Ricardo. Os soldados da infantaria de Saladino atacaram em ondas, mas as suas flechas e lanças leves não conseguiram perfurar a espessa armadura dos cruzados. Os muçulmanos foram varridos dos campos de batalha e perseguidos na sua marcha em direcção a Jerusalém.

Em Arsuf, os muçulmanos foram vencidos, mas não destruídos. Saladino conduziu-os ordenadamente a Jerusalém, enquanto Ricardo estabelecia o seu quartel-general no porto vizinho de Jafa.

Saladino e Ricardo nutriam grande respeito um pelo outro e começaram a perceber ser improvável uma vitória definitiva de um dos lados. Saladino adoeceu e Ricardo estava ansioso por voltar à Inglaterra, onde o seu irmão, João Sem Terra conspirava contra ele (são dessa época as narrativas de Robin Hood, por exemplo...).

Em Outubro de 1191, representantes dos dois monarcas começaram a discutir a paz. Mas a luta prosseguia e Saladino aproveitou-se da ausência de Ricardo para capturar Jafa. O monarca inglês apressou-se em voltar para reconquistar a cidade, no que foi bem-sucedido. Ambos os lados já estavam fatigados da luta e as conversações de paz foram retomadas. Em Setembro de 1192, os dois soberanos assinaram um Tratado de Paz e Ricardo pode final e definitivamente regressar à sua pátria.

A Quarta Cruzada – Saque de Constantinopla:

Em 1198, o papa Inocêncio III, convocou uma outra cruzada para conquistar Jerusalém. Os nobres que planearam a campanha estabeleceram como primeiro objectivo o Egipto, o mais rico e paradoxalmente o menos protegido dos Estados muçulmanos.

Para atacar o Egipto era necessário o acesso marítimo e apenas a cidade de Veneza podia fornecer uma esquadra capaz de transportar o exército de cruzados e seus suprimentos. Os venezianos concordaram em alugar os seus navios, mas exigiram uma importante mudança de rumos. Já não seria o Egipto o primeiro objectivo, mas Constantinopla. Isso aconteceu porque o príncipe Aleixo, herdeiro do trono bizantino, propôs um vantajoso negócio ao governante de Veneza: os cruzados o ajudariam a recuperar o trono que havia perdido nas disputas da família real e os mercadores de Veneza receberiam em troca o monopólio do comércio de Constantinopla, que era o mais importante centro comercial da época. Além disso, os cruzados teriam pagas as despesas de transporte até ao Egipto.

De empreendimento de cunho religioso, esta cruzada revestiu-se de um aspecto de negócio ou “negociata”. Já o comércio começava a imperar sobre a Fé; caem as máscaras que motivaram, no fundo, a realização das cruzadas.

A frota veneziana chegou a Constantinopla em Julho de 1203 e os cruzados reconduziram Aleixo ao trono. Mas a população reagiu obrigando os cruzados a acamparem fora das muralhas da cidade, enquanto a frota ficava ancorada no porto.

O príncipe, agora Imperador, Aleixo não pode pagar as despesas da expedição conforme havia prometido e os cruzados decidiram-se em atacar e saquear a rica cidade, massacrando boa parte de sua população. Foi o maior acto de pilhagem de toda a Idade Média: roubaram-se relíquias, objectos de arte, tesouros de imenso valor, etc.

Os cruzados formaram então o Império Latino de Constantinopla, sob a tutela de Veneza e os venezianos finalmente obtiveram o cobiçado monopólio do comércio da cidade. Com isso, os objectivos da Quarta Cruzada desapareceram, já que seus integrantes nem chegaram a enfrentar os infiéis...

A Cruzada das Crianças:

O pequeno pastor francês Estêvão estava persuadido de que somente os puros de coração e mente poderiam reconquistar a Terra Santa. Conseguiu fazer centenas de prosélitos em toda a Europa Ocidental.

No verão de 1212, milhares de crianças, principalmente francesas e alemãs, deixaram as suas casas para se juntar a uma cruzada. Nenhuma delas conseguiu chegar à Terra Santa.

O grupo francês dirigiu-se a Marselha, onde mercadores inescrupulosos lhe ofereceram transporte gratuito até à Palestina. Algumas das crianças afogaram-se numa tempestade; as restantes foram vendidas como escravas...

As crianças alemãs foram para a Itália, mas não conseguiram seguir adiante. Sem dinheiro e sem comida, tiveram de mendigar para sobreviver. Pouquíssimas conseguiram voltar para casa.

A Quinta Cruzada, outro fracasso:

Por volta do Outono de 1217, cristãos de muitos países europeus reuniram-se em São João D’Arce, para outra tentativa de reconquista da Terra Santa; dentre eles Francisco de Assis. Eles planeavam atacar primeiro o Egipto. Com aquele país em mãos, todo o sul da Palestina, inclusive Jerusalém, cairia sem nenhuma resistência.

O porto de entrada para o Egipto era Damieta, situado na foz do Nilo. Os cruzados levaram um ano para capturar o porto e ainda mais tempo brigando uns com os outros antes de subirem o rio para penetrar no Egipto. Sem perceber o risco que corriam, acamparam nas margens do rio, onde o inimigo só precisou de abrir as comportas para afogá-los. Os cruzados não tiveram outra escolha senão aceitar uma paz humilhante, abandonando o Egipto sem conseguir absolutamente nada!

A Sexta e a Sétima Cruzadas – vitórias diplomáticas e tragédias militares:

A Sexta Cruzada foi comandada por Frederico II, da Alemanha. O monarca chegou ao Oriente em 1228, mas muitos cristãos locais não quiseram juntar-se a ele. Para sua sorte os muçulmanos mostravam-se igualmente divididos. Ambos os lados preferiam parlamentar ao invés de lutar.

As negociações estenderam-se por todo o inverno e, em 29 de Fevereiro de 1229, chegou-se a um acordo de paz, assinado para durar dez anos. Os cristãos foram muito mais favorecidos pelo tratado, pois obtiveram Jerusalém, Belém e Nazaré. A cruzada representou o triunfo de Frederico. Através de negociações inteligentes, ele alcançou o que anos de guerra não tinham conseguido.

O que Frederico conquistou perdeu-se em 1244, quando os muçulmanos expulsaram os cristãos de Jerusalém. Para reconquistar a cidade foi organizada uma cruzada em 1248, sob o comando de Luís IX, da França.

Luís atacou primeiro o Egipto, e Damieta caiu sem oferecer grande resistência. O exército do rei subiu o Nilo cautelosamente, mas os egípcios bloquearam o rio na retaguarda do inimigo, cortando-lhe o fluxo de suprimentos. Os alimentos acabaram e, enfraquecidos pela fome e por doenças diversas, Luís e todo o seu exército foram cercados e feitos prisioneiros.

O rei e os nobres que tinham dinheiro suficiente para tanto foram libertados mediante o pagamento de um enorme resgate. Os demais cruzados foram mortos ou vendidos como escravos.

O Fim da Cruzadas:

A Sétima Cruzada terminou em tragédia, mas o pior ainda estava por vir. Em 1260, dez anos depois da derrota do rei Luís, chegou ao poder no Egipto o sultão Baybars. A ele caberia unir os muçulmanos e expulsar os cristãos do Oriente.

Baybars pertencera à milícia dos mamelucos, guerreiros de elite encarregados da defesa pessoal dos sultões egípcios. Era um muçulmano fanático e tão bom general quanto Saladino havia sido. Uma a uma, as cidades e fortalezas cristãs da região caíram diante dele, até que apenas Trípoli e São João D’Arce continuaram em poder dos cristãos. Baybars morreu em 1277.

Uma trégua entre os dois lados aplacou a luta por um certo tempo, mas em 1289 os muçulmanos recomeçaram os ataques às fortalezas cristãs remanescentes. Rapidamente tomaram o porto de Trípoli e aproximaram-se de Arce.

Os muçulmanos que sitiaram São João D’Arce eram cinco vezes mais numerosos que os defensores da cidade. Os projécteis lançados pelas suas máquinas de assalto abalaram as muralhas.

Em 18 de Maio de 1291, antes do amanhecer, teve início o ataque final. Ao pôr-do-sol, os atacantes já estavam dentro da cidade e quando a noite caiu eram senhores de Arce e de todo o Oriente cristão. Uns poucos defensores conseguiram escapar por mar. Os que sobreviveram foram massacrados ou escravizados.

A ideia das cruzadas, contudo, não morreu depois da catástrofe de São João D’Arce. Os cristãos do Ocidente encontraram outros inimigos contra quem lutar, como os eslavos e os muçulmanos da Espanha. Novas cruzadas se dirigiram à Palestina, mas nenhuma delas conseguiu chegar lá. O sonho de uma Terra Santa segura para os peregrinos e governada por cristãos acabara para sempre.

Um balanço das Cruzadas:

Os cruzados voltavam para as suas terras de origem com um gosto pelos novos luxos e confortos descobertos durante a viagem. As cidades italianas, principalmente Veneza e Génova, ficaram imensamente ricas com o comércio desses produtos na Europa.

O grande desenvolvimento do comércio que as cruzadas propiciaram foi um dos factores das profundas transformações que levaram do Modo de Produção Feudal ao Modo de Produção Capitalista na Europa durante os séculos seguintes; em outras palavras, aquelas grandes expedições de carácter primordialmente ou alegadamente religiosos prepararam o fim da Idade Média e o início da Idade Moderna. Com os descobrimentos portugueses dava-se início ao período renascentista.

Em muitos outros aspectos as cruzadas foram um desastre! Os cruzados não conseguiram expulsar definitivamente os muçulmanos E isso durou por séculos, chegando até os nossos dias.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Cavalaria_medieval#Ordens_militares

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ordem_de_Avis

(a) Os Seljúcidas (ou Seldjúcidas), assim conhecidos devido ao nome do seu chefe, Seljuk, eram originariamente turcos vindos do Turquestão, que se estabeleceram em Bucara. Sob o comando de Trogulbegue (ou Togrul-Beg ou Tughril Beg), neto de Seljuk, conquistaram Nixapur em 1038. Ispahan caiu também em seu poder, passando a ser a capital. A Trogulbegue sucedeu Alp-Arslam que, em 1071, derrotou o imperador bizantino Diógenes, na Batalha de Mantzikert. Málique Xá, que, por sua vez, sucedeu a Alp-Arslam, dominou um império que se estendia desde a Anatólia até à Transoxiana. À sua morte, o Império Seljúcida entrou em decadência, tendo desaparecido por completo em 1194, com Togrul III. Os Seljúcidas da Ásia Menor (Seljúcidas do Rum) começaram a estabelecer-se nesta região depois da Batalha de Manzikert (1071), desaparecendo posteriormente aquando da chegada dos Mongóis.