terça-feira, setembro 14

O GRUPO DE LAOCOONTE


O GRUPO DE LAOCOONTE é uma escultura em mármore, também conhecida como Laocoonte e os seus filhos, hoje em dia exposta no Museu do Vaticano, em Roma. A estátua representa Laocoonte e os seus dois filhos, Antiphantes e Thymbraeus, sendo estrangulados por duas serpentes marinhas, um episódio dramático da Guerra de Tróia relatado na Ilíada de Homero e na Eneida de Virgílio. Laocoonte, um sacerdote de Apolo, foi o único que pressentiu o perigo que o cavalo de Tróia representava para a cidade e que protestou contra a ideia de o levar para dentro das muralhas. Segundo a lenda, Poseidon, um Deus que favorecia os gregos, enviou então duas serpentes para calar a voz da oposição. O cavalo acabou por ser levado para Tróia, com as consequências trágicas que se conhece.
O grupo de Laocoonte é descrito por Plínio o velho, no volume 36 da sua Naturalis Historia, como uma obra de arte superior a qualquer pintura ou bronze conhecido do autor. A escultura encontrava-se então no palácio do Imperador Tito. A autoria da obra é atribuída por Plínio a Hagesander, Athenodorus e Polydorus, três escultores da ilha de Rodes. Através do cruzamento desta informação com o período de vida dos escultores, a estátua fica datada na segunda metade do século I a.C., mais provavelmente entre 42 e 20 a.C. A escultura foi provavelmente encomendada por um cidadão romano rico, mas não se sabe exactamente como foi parar às mãos imperiais. Após esta menção de Plínio, o grupo de Laocoonte desaparece nos 1400 anos seguintes.
No dia 14 de Janeiro de 1506, o romano Felice de Fredi descobriu uma estátua durante uns trabalhos de manutenção da sua vinha, localizada na zona das antigas termas de Tito. A escultura desconhecida estava desfeita em cinco pedaços, mas todos os habitantes da Roma renascentista sabiam reconhecer uma obra clássica quando a viam e de Fredi passou a palavra a Giuliano de Sangallo, arquitecto do papa Júlio II. Sangallo acorreu ao local da descoberta de imediato trazendo consigo Michelangelo Buonarroti, que por coincidência almoçava na sua casa nesse dia. De imediato, os dois reconheceram a estátua desfeita como o grupo de Laocoonte descrito por Plínio e enviaram a notícia da descoberta a Júlio II, que comprou a estátua na hora por 4140 ducados.
A redescoberta do grupo de Laocoonte causou grande sensação em Roma e a sua apresentação à cidade como parte da colecção dos jardins do Vaticano foi um acontecimento social. Felice de Fredi foi recompensado com uma pensão vitalícia de 600 ducados por ano e quando morreu, o seu papel na descoberta da estátua ficou mencionada no seu túmulo.
Apesar de ser considerada já então uma obra impressionante, o grupo de Laocoonte era uma estátua incompleta pois faltava o braço direito da figura do próprio Laocoonte. A omissão provocou o debate da comunidade artística romana, polarizado entre duas opiniões: Michelangelo sugeriu que o braço estivesse dobrado sobre o ombro do personagem, enquanto a maioria defendia que estivesse, pelo contrário, distendido numa posição mais heróica. Júlio II organizou então uma competição informal onde os escultores pudessem propor a solução para o problema. Rafael, como júri do concurso, acabou por escolher uma proposta que representava o braço esticado, e a estátua foi completada desta forma. Em 1957, o verdadeiro braço perdido de Laocoonte foi descoberto num antiquário italiano e, como Michelangelo previra, estava de facto dobrado sobre o ombro.
O grupo de Laocoonte depressa se transformou numa celebridade na Europa e num motivo de cobiça. No âmbito dos tratados assinados com França, o Papa Leão X prometeu oferecer a estátua ao rei Francisco I de França. Mas como este Papa era um amante de arte clássica, e não pretendia separar-se da obra prima, encomendou uma cópia ao escultor Baccio Bandinelli, que acabou por ser o modelo de muitas outras versões menores em bronze. O tratado com os franceses acabou por não ser cumprido e esta cópia encontra-se hoje exposta na galeria Uffizi em Florença.
Em 1799, Napoleão Bonaparte conquistou a Itália e levou o grupo de Laocoonte para o Museu do Louvre, em Paris, como espólio de guerra. A estátua acabou por ser devolvida ao Vaticano por iniciativa britânica, depois da queda de Bonaparte em 1816.

O grupo de Laocoonte foi uma das influências principais nos trabalhos de Michelangelo posteriores à sua descoberta. O escultor italiano ficou bastante impressionado com a monumentalidade da escultura e a estética helenística das personagens, em particular a figura de Laocoonte.
A estátua foi ainda objecto de comentários da autoria de Winckelmann e Goethe, e o mote de Laokoön, um ensaio de Gotthold Lessing escrito no século XIX, que se tornou um clássico de crítica artística.

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