sexta-feira, novembro 19

OS HOMENS NÃO SE MEDEM AOS PALMOS


Estas “coisas” às vezes surgem na memória das recordações.
Vou contar uma história verdadeira e surpreendente porque a mim também me surpreendeu.
No tempo em que os Tribunais funcionavam e eram respeitados: 
Há uns anos quando eu trabalhava na Delegação da Procuradoria, hoje só Procuradoria, tinha dois dias da semana, segundas e quintas de manhã para os exames médicos forenses. O médico contratado ia ao Tribunal avaliar a gravidade dos ferimentos apresentados pelos queixosos, ditava o seu parecer e, a partir daí e doutros exames, se necessário, é que o processo de ofensas corporais era posteriormente classificado para julgamento.
Recuando no tempo é preciso rebuscar a história pare melhor explanação.

Havia sempre aqueles clientes habituais das segundas-feiras devido às zaragatas dos Sábados e Domingos e, quase sempre, quando havia futebol, duplicava a clientela.
Um tal de alcunha Zé Grande, que não sei se já morreu, indivíduo com cerca de dois metros e e mais algum, zaragateiro, forte que nem um boi, lá fazia aparecer habitualmente os seus queixosos, examinandos, vítimas das suas agressões. A posteriori lá ia ele prestar declarações e tentar, zombeteiro, esclarecer o motivo da zaragata que nunca resultava nele qualquer tipo de ferimento devido à sua força e altura.
Estes “l'habitude” iam estabelecendo com o Tribunal uma certa interacção de frequência de tal ordem que, se não apareciam já se estranhava.
Até que um dia, obviamente, a uma segunda-feira de manhã, depois de um Domingo de futebol o Zé Grande aparece com a cara e parte da cabeça ligada e engessada. Sem poder falar porque com um murro alguém lhe tinha fracturado o maxilar inferior. Minha Surpresa, o Zé Grande tinha que escrever à mão para eu poder transcrever nos autos as suas declarações. Escreveu ele: “Levei um murro que parecia um coice dum cavalo e só acordei no hospital”. Espera lá, pensei eu, o agressor deve ser um tipo à tua altura, medida e força para de deixar assim nesse estado. Pensei e disse-lhe porque a confiança já era relativa. 
Esperou pelo médico foi sujeito ao exame que requeria a cura e radiografias e foi embora. Eu é que fiquei com curiosidade de conhecer o “Bulldozer” que tinha “atropelado” e quebrado o queixo do Zé Grande, gigante por certo e, por isso, não perdi tempo em chamar o agressor a declarações.
Pensado e feito.
Passada uma semana após a ocorrência, que era o mínimo de tempo que havia para emitir um aviso de chegar a ser efectivo e o processo do Zé Grande ficou na prateleira em evidência, separado dos restantes, com a data marcada para as declarações do arguido, o tal suposto “gigante”.
Até que chegou o dia. Pelas dez horas deixei a porta aberta para ver entrar o tal que derrubou o Zé Grande e o colocou "KO" no hospital.
Aparecer apareceu só que era um indivíduo magro e com cerca de um metro e meio, mas, pelo já visto eficiente nas circunstancias ocorridas.
Comentava eu depois a um colega: “Como é que aquele gajo conseguiu chegar lá acima?” Vai daí, se calhar com um escadote, retorquia.   
Em declarações posteriores testemunhais e do próprio queixoso foi esclarecido que o agressor dava grandes saltos e tinha uma força fora do comum. Pequenino mas com muita força. O certo é que a partir daí o Zé Grande deixou de brigar e de aparecer. Para grandes males, grandes remédios.
Pode-se daqui concluir algo que justifique esta explanação? Pode! As aparências iludem.
Moral da história: nunca avalies o teu adversário pelo aspecto porque pode surgir daí uma grande surpresa.
 VIDEO:  A LIÇÃO DOS INGLESES.


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