Sebastião José de Carvalho e Melo, Conde de Oeiras e Marquês de Pombal (1699-1782) foi Primeiro-ministro de D. José I, sendo considerado, ainda hoje, uma das figuras mais controversas e carismáticas da História Portuguesa.
Foi um notável estadista, que marcou o séc. XVIII e o absolutismo régio, através de uma política de concentração de poder com o objectivo de restabelecer a economia nacional e resistir à forte dependência desta relativamente à Inglaterra.
Uma série de maus anos agrícolas e o terramoto de Lisboa de 1755 propiciaram a sua crescente afirmação pessoal. Na ausência de modelos inovadores, retomou o programa de industrialização de Colbert, posto em prática em Portugal, no séc. XVII, pelo Conde de Ericeira, com o objectivo de garantir a independência nacional em detrimento do desenvolvimento da riqueza, como suporte económico para a guerra e expansão. Nesse sentido, desenvolveu um projecto de industrialização nacional que individualizou uma vez mais a Covilhã, através da criação da Real Fábrica de Panos.
O Marques tinha como seu ídolo o CARDEAL RICHELIEU e admirava-o por ter elevado a França a grande potência económica, cerca de meio século antes, durante o reinado de Luís XIII.
O DITADOR ESCLARECIDO QUE FEZ RENASCER LISBOA
Subitamente, na primeira metade do século XVIII, a velha Europa estremece até ao âmago das suas fundações: o “Ancien Regime” sofre um rude golpe com a implantação do absolutismo providencialista. Lá está Bossuet para explicar que Deus governa todos os povos, dando-lhes todos os reis. Portugal não escapa à regra, só que, durante quase 22 anos, o rei autêntico não se chama José I, mas sim Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal.
Pombal é o representante português do despotismo iluminista, embora ele próprio tivesse algumas dificuldades nessa iluminação: embaixador durante quatro anos em Londres, nunca conseguiu aprender inglês.
Não é possível, porém, falar de Lisboa ou de Portugal, mesmo hoje em dia, sem recorrer imediatamente à figura de Pombal. Secretário de Estado (o equivalente a primeiro-ministro nos nossos dias) durante quase um quarto de século, o Marquês vai assinalar para sempre nas estruturas nacionais a sua passagem pelo poder. Não foi uma ascensão fácil. Oriundo de uma família nobre, mas entrada em decadência, Pombal forma-se em Direito, em Coimbra, entra para o serviço do Estado apenas aos 40 anos, sendo um representante apagado de Lisboa em Londres e depois em Viena de Áustria.
INTEIRAMENTE SENHOR DO PODER
No entanto, alguém lhe descobre os talentos. O notável D. Luís da Cunha aconselhado a D. João V para um posto no Governo, mas o Magnânimo morre sem ter tido tempo para fazer a nomeação.
Será D. José, já com 36 anos, que lhe vai entregar o País nas mãos, designando-o para superintender a toda a aritmética política. O rei - escreve, em 1751, o embaixador da Áustria -gasta o mais do tempo na caça, em cavalgadas, jogos, concertos e diversões, deixando Carvalho, em quem põe absoluta confiança, inteiramente senhor do poder. Será assim até aos seus últimos dias.
Os primeiros anos não foram fáceis, mal aceite como foi pela nobreza, como um fidalgote de cepa provinciana. Com desprezo, tratam-no apenas pelos nomes próprios, o Sebastião José, como se fazia aos criados.
É de certa maneira, o terramoto de 1 de Novembro de 1755 que lhe vai oferecer a oportunidade de exercer o seu despotismo esclarecido e progressista. A cidade está destruída e há muito quem pense que o melhor era abandonar aquele monte de escombros e transferir a capital para Coimbra.
Tenazmente, com o risco de Eugénio dos Santos, Manuel da Maia, mais tarde Carlos Mardel, nasce a cidade nova, geométrica e rectilínea em que impera do primeiro-ministro, o seu gosto por casas, ruas, compêndios de ensino, etc.
Para não alterar um traço da orientação mesmo é permitido ornamentar com um uma janela ou uma sacada.
Enterram-se os mortos e acode-se aos vivos. Não se permite que alguém faça obras ao acaso reedificando sua casa antes que o plano de conjunto esteja o que levará ainda uns três anos.
Os lisboetas habituam-se a viver em tendas e até o próprio soberano se tem de contentar por longos anos no seu Palácio de Madeira. Mas vai tomando forma a ritmo vivo sob o olhar vigilante do Marquês.
O aglomerado medieval, sujo e desordenado, ruelas estreitas e insalubres, vai dando lugar a uma cidade imaginada para o futuro. Uma Lisboa que no tempo se julgou desmesurada mas que ainda estabelece as suas funções.
UMA AUTÊNTICA REVOLUÇÃO
O êxito do Marquês em responder pronta e seguramente à enorme calamidade, dá-lhe pretexto para a longa luta que vai travar para impor a sua vontade única sobre o País.
Primeiro, a Nobreza com o processo dos Távoras, a pretexto de um hipotético atentado ao Rei, por uma questão de saias. É o decapitar de uma aristocracia inútil e devassa, com uma execução espectacular, rodeada de pormenores barbaramente sangrentos. A nobreza rende -se e não mais levantará cabeça.
Na verdade, Pombal não quereria extinguir a velha aristocracia, mas sim adaptá-la às novas condições. Para isso, vai criar, em 1761, o Colégio dos Nobres destinado a formar os indispensáveis quadros diplomáticos militares, com a aprendizagem de línguas vivas, ciências experimentais, ginástica.
Uma revolução como iria fazer em Coimbra em cuja velha Universidade nunca se ouvira falar de Newton, Descartes, Leibniz ou Locke. A culpa era dos jesuítas, na opinião do Marquês, como explica na Dedução Cronológica, um livro que fez furor na Europa e que, embora não seja de certo inteiramente da sua autoria lhe revela o dedo. Os jesuítas são expulsos em 1759 e uma extraordinária campanha da diplomacia portuguesa leva o Papa Clemente XIV a extinguir a Companhia de Jesus. No início do século XVIII, Portugal assistira ao tímido aparecimento de algumas indústrias (todas iniciativa de estrangeiros): a Fundição do Campo de Santa Clara, a Fábrica das Sedas (onde hoje está instalado o Museu Arpad Sze'ns Vieira da Silva), a Fábrica de Papel da Lousã, a Fábrica de Vidros. No entanto, ao tempo de Pombal todas tinham entrado em falência e exigido a intervenção do Estado.
E o certo é que o Estado podia. Em 1699 chegara o primeiro ouro do Brasil, em 1739 ali se descobriam diamantes. Por outro lado, o País estava próspero com a exportação colonial e vinhateira, pronto a aceitar a nova ideologia reformista de Pombal. O País responde bem e indústrias começam a proliferar aqui e ali.
PRIMEIRA REGIÃO DE VINHO
Quase ao mesmo tempo, Pombal cria a Real Companhia do Vinho do Porto, a primeira região demarcada vinícola de todo o mundo e o primeiro cartaz do País até aos nossos dias. Não sem enfrentar um motim popular que ensanguentou as ruas do Porto. Era vez de também o povo sentir a força do braço de Pombal. Extingue o Tribunal do Santo Ofício (a Inquisição), embora tendo o cuidado de o fazer passar a tribunal político e suprime a descriminação contra os Cristãos Novos, que se identificam com a burguesia mercantil. A burguesia monopolista nobilita-se. Por todo o País se faz sentir o reformismo do Marquês, que chega mesmo a transformar uma aldeola de pescadores, Santo Antônio de Arcuilha, na grande Vila Real de Santo António. Morre o rei em 1777 e o primeiro-ministro é imediatamente afastado. Sobreviverá ainda onze anos, doente, carregado de achaques e irado contra os homens, exilado na vila que lhe dera nome ao título. D. Maria, a rainha que sucede a D. José, não perdoa a Pombal, porque entende que a política do Marquês enviou directamente o seu Soberano pai para as profundas dos infernos. No fim da vida, totalmente louca, jura ver o pai a arder nas diabólicas chamas eternas. No entanto, a chamada Viradeira não trouxe grandes alterações. Os ministros de Pombal continuam nos seus postos e na presidência da Câmara de Lisboa mantém-se o filho do velho ditador. Alívio para 800 presos políticos que são libertados das enxovias. Tarde demais para outros 2 400 que entretanto tinham morrido no cárcere. Pombal, como ele próprio diria, governou de ciência certa e vontade esclarecida. Amado e odiado, abriu caminho para o Portugal que hoje conhecemos e que sem ele seria bem diferente.
OS JESUÍTAS
Um fim repentino.
O surgimento de novas directrizes filosóficas com Descartes, Newton, Locke, juntamente com a valorização de novos autores e suas línguas vernáculas em detrimento dos autores clássicos, vieram conturbar o sistema educacional dos Jesuítas e, já no início do século XVIII, começam a decair, o prestígio e a aceitação quase universais da Companhia de Jesus.
A secularização do pensamento, apoiada no princípio da razão, assim como a moderna concepção do Estado, que negava a intervenção papal e da Igreja nos assuntos temporais valorizando a laicização, foram processos que encontraram fortes resistências entre os Jesuítas, defensores contumazes do poder de tutela da Igreja sobre as actividades do Estado.
Detentores de um fantástico e bem montado sistema operacional distribuído ao redor do mundo, combatiam as novas ideias, nas suas publicações, nas suas pregações, nos bancos das universidades dos seus colégios.
Assim, o envolvimento constante em várias polémicas dá origem a uma imagem negativa dos Iniciandos, que passaram a ser olhados como "conservadores em pedagogia, aferrados à escolástica e à autoridade dos antigos... e rebeldes das ordens do Papa", em favor dos interesses unicamente da própria Companhia.
Com a instalação da Congregação do Oratório de São Filipe Neri em Portugal, em 1668, cujos padres passaram a dedicar-se também a educação da juventude, surge mais um sério problema a enfrentar pelos Companheiros de Jesus: a concorrência.
Os Jesuítas mobilizavam totalmente a educação, em Portugal e nas suas colónias dispondo de uma Universidade em Évora, dois institutos universitários em Coimbra e Lisboa, 19 colégios, mais de 20.000 alunos, 15 colégios no Brasil, um em Angola, um em Goa, dois em Macau, etc., Dedicavam-se à Casa Real e aos aristocratas, e os Oratorianos, atendiam às camadas médias urbanas, de sorte que, o "século XVIII amanheceu em Portugal com uma guerra surda entre Jesuítas e Oratorianos."
Mas, um dos mais sérios conflitos entre Portugal e os Jesuítas, no qual se envolveu ainda a Espanha, relacionou-se com a questão dos índios das Missões dos Sete Povos, que estavam situadas justamente na área fronteiriça entre o Brasil, o Paraguai e o Uruguai.
Para estabelecer definitivamente as suas fronteiras na América do Sul, a Espanha e Portugal haviam assinado o Tratado dos Limites revogando o de Tordesilhas. Este acordo obrigava os Jesuítas a abandonarem algumas das suas mais importantes missões indígenas. Esta ocorrência provocou grande mobilização e resistência militar dos índios aos espanhóis, criando-se na Europa a ideia de que os padres lutavam para manter o seu domínio sobre os nativos, colocando-se em posição de rebeldia à coroa espanhola e até à direcção geral da própria Companhia de Jesus: "A questão dos Sete Povos das Missões tornou claro para as duas monarquias peninsulares que existiam estados autónomos nos seus domínios ultramarinos, orientados por uma lógica própria... este facto, associado à capacidade mobilizadora dos Jesuítas contra as decisões do Estado deu condições a que os governos de Madrid e Lisboa começassem a elaborar estratégias conducentes a eliminar os perigosos focos de autoritarismo surgido nas suas colónias da América do Sul."
É a partir de 1756 que a política portuguesa transforma-se em hostilidade aberta contra os Iniciandos, com a nomeação de Sebastião José de Carvalho e Mello - Marquês de Pombal - pelo rei D. José I, para Secretário de Estado dos Negócios do Reino, então o mais alto cargo da estrutura governamental.
Sucessivas medidas do Marquês de Pombal passam a reduzir gradativamente o poder de acção dos Jesuítas em Portugal e nos domínios ultramarinos, sobretudo no Brasil. Na própria Corte, foram expulsos do Paço todos os membros da Companhia, depois, foram suspensos do exercício de confessar e pregar. No Norte e Nordeste do Brasil, resoluções sucessivas anulavam o poder temporal dos Jesuítas sobre os índios, substituindo-os por padres seculares nas suas paróquias e missões, obrigando-os a recolherem-se aos colégios e a abandonar tudo que possuíam. Esses procedimentos foram-se intensificando, resultando numa perseguição aberta e implacável que, primeiramente confiscou a totalidade dos bens dos iniciandos, submetendo-os depois a um regime de isolamento absoluto, para afinal desterrá-los com destino a Portugal. Por último, essas medidas culminaram com uma Carta Régia, datada de 30 de outubro de 1759, que expulsava, exterminava e desnaturalizava dos reinos e domínios de Portugal a Sociedade denominada de Jesus.
Não obstante toda essa perseguição, foi em 1773 que uma outra ocorrência afectou de forma mais grave ainda aos Iniciados, quando foi supressa a própria Companhia de Jesus, por uma Bula Papal, que entre outros prejuízos destruiu "uma rede de 845 instituições educacionais espalhadas por toda a Europa, as Américas, Ásia e África. Alguns poucos colégios Jesuítas permaneceram em funcionamento em território da Rússia, onde a supressão nunca teve efeito".
Em 1814, porém o Papa Pio VII restaurou a Companhia de Jesus fundamentando nos "benefícios da sua experiência educativa", embora tornassem a ocorrer outras perseguições e expulsões dos iniciados de vários países do mundo, ao longo do século XIX.
Em Portugal, a Igreja Católica renasceu e fortaleceu-se de forma surpreendente no decorrer do período oitocentista. No começo do século XX actuavam no país, mais de trinta congregações ou associações religiosas, distribuídas em cento e sessenta casas, sendo que a mais influente em prestígio, era a Companhia de Jesus que contava com vinte casas e trezentos e oitenta e seis membros, e ainda dispunha de um organização de leigos com fins religiosos, chamada "Apostolado da Oração" que contabilizava 1500 centros e cerca de 2000 sócios.
Aos Jesuítas cabia também a posse ou administração de muitas escolas e dois famosos colégios, o de Campolide, em Lisboa, e o de São Fiel na Beira Baixa. Publicavam uma conceituada revista, a Brotéria, de ciências naturais, mas controlavam, também, "ao que parece, a ordem feminina das Doroteias. E tinham até contribuído decisivamente para organizar um partido político, o Partido Nacionalista, que ganhara alguns lugares na Câmara dos Deputados desde 1904 e onde a sua influência predominava".
Proclamada a República Portuguesa em 1910, todas as ordens religiosas foram expulsas do país em meio de uma série de medidas anticlericais, sendo os Jesuítas particularmente humilhados e tratados como criminosos.
Algum tempo depois, em 1917, é que a paz retorna à Igreja Católica em Portugal e já em 1923 várias congregações e ordens religiosas começaram a voltar, entre as quais a Companhia de Jesus.
A COMPANHIA DE JESUS EM PORTUGAL
1. PRIMEIRO PERÍODO (1540-1759)
A vinda dos jesuítas para Portugal deve-se à iniciativa de D. João III a quem o Doutor Diogo de Gouveia, responsável pelo Colégio de Santa Bárbara em Paris, indicara a existência de um novo grupo de clérigos que considerava "aptos para converter toda a Índia". Sto. Inácio de Loiola acedeu ao convite do rei português e enviou para Portugal, em 1540, dois dos seus primeiros companheiros: o navarro Francisco Xavier e o português Simão Rodrigues. O primeiro partiu no ano seguinte para a Índia, enquanto o segundo ficou na Europa, lançando as bases da Província de Portugal, erecta como primeira província de toda a Ordem em 1546.
Graças a numerosos benfeitores, com destaque para a família real, o crescimento da Companhia de Jesus em Portugal foi extraordinariamente rápido. Em 1542, foi fundado o Colégio de Jesus, em Coimbra, para formação dos membros mais novos da Ordem. Seguiu-se-lhe, em 1551, em Évora, o Colégio do Espírito Santo e, em 1553, a casa professa de S. Roque, centro das actividades apostólicas na capital. O primeiro colégio em que os jesuítas deram aulas públicas foi o de Santo Antão, em Lisboa, inaugurado em 1553. Em 1559, foi fundada a Universidade de Évora e, progressivamente, a actividade pedagógica dos jesuítas foi-se estendendo às principais cidades do País: Braga (1560); Bragança (1561); Funchal (1570); Angra (1570); Ponta Delgada (1591); Faro (1599); Portalegre (1605); Santarém (1621); Porto (1630); Elvas (1644), Faial (1652); Setúbal (1655); Portimão (1660); Beja (1670); Gouveia (1739).
A par da abertura de novas casas, o número de jesuítas em Portugal foi quase sempre aumentando: eram 400, em 1560; 620, em 1603; 662, em 1615; 639, em 1639; 770, em 1709; 861, em 1749; 789, em 1759.
Os jesuítas portugueses foram educadores, confessores e pregadores dos reis e da corte mas dedicaram-se com igual entusiasmo a um vasto leque de outras tarefas. A comprová-lo está o apelativo de "apóstolos" que desde cedo mereceram pela dedicação ao ensino do catecismo e pela abnegação com que se entregaram aos ministérios sacerdotais e a obras caritativas. Ocupavam-se dos encarcerados, visitavam os hospitais, assistiam os condenados à morte e, indiferentes aos perigos, excediam-se em generosidade por ocasião de epidemias e calamidades.
No campo da educação, chegaram a dirigir 30 estabelecimentos de ensino que formavam a única rede escolar orgânica e estável do País. O ensino era gratuito e aberto a todas as classes sociais porque a Companhia só aceitava iniciar uma nova escola quando existisse uma dotação ou fundação que assegurasse os meios necessários para o seu funcionamento. Em meados do século XVIII, o número total de alunos rondava os 20.000, numa população de 3.000.000 de habitantes.
A expansão em Portugal foi acompanhada desde o início por grande empenho missionário. Em 1542, S. Francisco Xavier desembarcou em Goa com dois companheiros e, depois de percorrer vastas regiões da Índia, esteve em Malaca e nas Molucas, chegando ao Japão em 1549. Veio a falecer em 1552, quando se preparava para entrar na China. A evangelização do Oriente continuou, a cargo de sucessivas levas de missionários que diversificaram as regiões alcançadas: Macau (1565); império do Grão Mogol (1579), China (1583), Pegu e Bengala (1598), Cochinchina (1615), Cambodja (1616), Tibete (1624), Tonquim e Sião (1626), Laos (1642).
Em África, os jesuítas estavam no Congo, em 1547, e em Angola, em 1560; em 1557, chegavam à Etiópia e, em 1560, penetraram em Moçambique, na região do Monomotapa. Em 1604, iniciaram a missão de Cabo Verde donde passaram à Guiné e Serra Leoa.
A primeira expedição ao Brasil, em que ia como superior o P. Manuel da Nóbrega, data de 1549 e foi seguida por numerosas levas de missionários.
Contabilizando todas estas expedições, chegamos a 361, distribuídas por 215 anos, sendo 75 no século XVI, 190 no século XVII e 96 no século XVIII, numa média de 16 missionários enviados cada ano. Nas regiões novamente evangelizadas foram-se formando novas províncias ou vice-províncias que, juntamente com a Província de Portugal, formavam a denominada Assistência de Portugal que, em 1759, contava 1698 jesuítas, dos quais 789 estavam na Europa e os restantes espalhados pelo mundo.
Inseridos no Padroado português, os religiosos da Companhia partilharem espontaneamente a mentalidade da época, segundo a qual o apoio das autoridades civis constituía o caminho mais seguro e eficaz para a cristianização. Ao mesmo tempo, contudo, sempre se dispuseram a ultrapassar sem receio as zonas directamente controladas pela administração portuguesa, tornando-se até exploradores de regiões inóspitas e desconhecidas. São quase lendárias as figuras do P. António de Andrade e do Ir. Bento de Góis: o primeiro viajou até ao Tibete, sendo o primeiro europeu a atravessar o Himalaia; o segundo foi o primeiro explorador português do caminho terrestre da Índia para a China através da Ásia Central.
A todas as regiões que missionaram, os jesuítas levaram a preocupação pedagógica que os caracterizava. Principalmente no Brasil, fundaram uma rede de colégios, seminários e escolas primárias e oficinais com ensino gratuito sustentado por explorações agro-pecuárias e outras propriedades legadas para património dos centros de ensino. No campo científico, os missionários da Companhia efectuaram observações que vieram enriquecer o conhecimento das regiões que percorreram. A linguística foi outro campo em que se tornaram beneméritos. A preocupação de aprender as línguas dos povos que evangelizavam levou-os a elaborar gramáticas e dicionários e a publicar obras de catequese e outras nas mais variadas línguas.
Em dois séculos de apostolado missionário, sofreram o martírio mais de 150 jesuítas portugueses. Entre eles, foi canonizado S. João de Brito, mártir no Madure (Índia).
Toda esta actividade foi bruscamente interrompida por decisão de Pombal, em 1759, ao ser decretada a expulsão dos jesuítas de todos os territórios portugueses. As causas desta decisão parecem encontrar-se, sobretudo, em motivos de natureza ideológica e política. A Companhia de Jesus era um obstáculo ao projecto político que se pretendia implementar: um sistema que Carvalho e Melo considerava mais moderno, centralizado no Estado, mais fácil de controlar “ad arbitrium principis”. Era o sistema absolutista e regalista, iluminado, que Pombal queria impor sem escrúpulos quanto aos meios a usar e indiferente face à resistência das forças sociais do País.
Dominando o sistema de ensino, em Portugal e no Ultramar, vinculados por uma ligação especial a Roma e possuidores de um grande influxo cultural, os jesuítas formavam um corpo facilmente visto como ameaça para um sistema absolutista que ambicionava controlar todos os aspectos da vida social, incluindo uma Igreja mais submetida ao Estado. Se a esta moldura ideológica, juntarmos a apetência pelo património considerável na posse dos jesuítas, teremos reunidas as condições para o desencadear da perseguição. A campanha anti-jesuíta montada por Pombal levou à formulação de uma série de acusações publicitadas em toda a Europa em sucessivas edições da obra Dedução cronológica e analítica. Entre essas acusações, encontravam-se: a resistência dos jesuítas à aplicação do Tratado de Madrid, celebrado entre Portugal e a Espanha para a delimitação de fronteiras na América do Sul; a oposição, no Brasil setentrional, às leis que regulavam a administração das aldeias de índios; o exercício de actividades comerciais proibidas a religiosos; a decadência dos jesuítas portugueses; a difamação do rei no estrangeiro; e a participação, pelo menos moral, no atentado contra D. José e na revolta popular do Porto ocorrida em 1757. Apesar deste acervo de acusações, o único jesuíta a ser objecto de julgamento formal foi o Pª. Gabriel Malagrida, italiano, acusado de heresia e condenado à morte, em 1761, num processo que aproveitou a debilidade mental de um ancião enfraquecido e já transtornado.
Os meios usados para a expulsão foram implacáveis. No total, cerca de 1100 jesuítas foram desembarcados nos Estados Pontifícios; morreram nas prisões cerca de 70 e uns 40 durante as viagens; encontravam-se ainda 45 encarcerados em S. Julião da Barra quando, em 1777, foram libertados, após a queda de do marquês de Pombal.
A luta de Pombal contra a Companhia de Jesus não se limitou aos domínios da Coroa portuguesa, prolongou-se, em conjunto com as cortes bubónicas, até alcançar o fim pretendido: a extinção da Companhia de Jesus, em 21 de Julho de 1773, por ordem do Papa regalista Clemente XIV.
2. SEGUNDO PERÍODO (1829-1834)
A 7 de Agosto de 1814, a Companhia de Jesus foi restaurada pelo papa Pio VII. No entanto, só por iniciativa do governo de D. Miguel, é que os jesuítas regressaram de novo a Portugal. Em Agosto de 1829, chegaram a Lisboa oito jesuítas que traziam como superior o P. Filipe José Delvaux, belga. Abriram um noviciado e iniciaram actividades apostólicas entre a população da capital e dos arredores. Em 1832, D. Miguel entregou-lhes o Colégio das Artes, em Coimbra, mas, devido à guerra civil, as aulas só tiveram início em Fevereiro do ano seguinte. A 9 de Maio de 1834, o exército liberal ocupou Coimbra e os jesuítas foram presos e escoltados até Lisboa. Estiveram presos no forte de S. Julião da Barra até serem embarcados para Itália. Igual sorte tinham sofrido os jesuítas de Lisboa quando, em Julho de 1833, D. Pedro IV entrou na capital e os mandou embarcar em navios para Itália e Inglaterra.
Para além do reinício de actividades educativas e pastorais que não tiveram continuidade, este período de regresso efémero, que contou com a presença de 24 jesuítas, ficou também marcado pelo empenho dos religiosos na assistência aos feridos da guerra civil e às vítimas da epidemia de cólera ocorrida em 1833. Sob o ponto de vista legal, é de referir o decreto de 30 de Agosto de 1832 que restabelecia oficialmente a Companhia de Jesus, em termos que, embora não revogassem completamente o conteúdo dos decretos pombalinos, o P. Delvaux não hesitou em classificar de "verdadeiro prodígio".
3º PERÍODO (1848-1910)
O protagonista do segundo regresso dos jesuítas a Portugal foi o português Carlos João Rademaker, entrado na Companhia de Jesus em Itália, em 1846. Tendo vindo para Portugal, foi encarregado de trabalhar em prol da restauração da Província Portuguesa. Nesse sentido, em 1858, deu início ao colégio de Campolide, contando com a colaboração de mais dois jesuítas: o Ir. Martinho Rodrigues, sobrevivente da missão do tempo de D. Miguel e um irmão espanhol. Nos anos seguintes, foram-se juntando novos elementos, vindos principalmente de Itália, e abriu-se o noviciado, no lugar do Barro, perto de Torres Vedras. Em Setembro de 1863, constituiu-se oficialmente a Missão Portuguesa que teve como primeiro superior o P. Francisco Xavier Fulconis, italiano. No Outono desse mesmo ano, os jesuítas encarregaram-se do Orfanato de S. Fiel, na Beira Baixa, que transformaram em colégio de renome.
No início de 1880, a Missão contava nove comunidades com 137 jesuítas. Estavam reunidas as condições para que fosse restaurada a Província Portuguesa da Companhia de Jesus, o que veio a acontecer por decisão do P. Geral Pedro Beckx, em decreto de 25 de Julho desse ano.
Os dois colégios, Campolide e S. Fiel, além de importantes como estabelecimentos de ensino, tornaram-se também centros de intensa actividade científica. Em S. Fiel, foi fundada em 1902 a revista Brotéria, assim denominada em homenagem ao naturalista português Avelar Brotero. Eram os professores dos colégios que dirigiam a revista, publicando nas suas páginas artigos de investigação, com destaque para as áreas da botânica e zoologia. Entre esses sábios, são de recordar Joaquim da Silva Tavares, Cândido Mendes de Azevedo, Carlos Zimmermann, Afonso Luisier, Camilo Torrend e António de Oliveira Pinto. Outros nomes são dignos de referência pela sua acção apostólica: Carlos Rademaker, Bento Schettini, Luís Gonzaga Cabral, António de Menezes e Alexandre Castelo.
No campo missionário, importa lembrar, principalmente, a difícil missão da Zambézia para onde foram enviados, entre 1880 e 1910, 118 jesuítas, dos quais 41 ali morreram. Também a Índia, Macau e Timor foram objecto do zelo missionário dos jesuítas da Província de Portugal.
Toda esta actividade foi interrompida violentamente, em Outubro de 1910, quando, pela terceira vez na sua história em Portugal, a Companhia de Jesus foi de novo expulsa e espoliada dos seus bens. O ambiente de perseguição que já se manifestara nos últimos anos da monarquia teve como corolário a decisão do governo provisório da República que, a 8 de Outubro de 1910, restaurou a lei pombalina de 1759. Depois de algumas semanas na prisão, no dia 4 de Novembro de 1910 estava consumada a expulsão dos jesuítas de Portugal. Os membros da Província Portuguesa eram, então, 360.
4º PERÍODO: DO EXÍLIO À ACTUALIDADE
Consumada a expulsão, a política do P. Luís Gonzaga Cabral, provincial, teve duas vertentes: em primeiro lugar, conservar na Europa o núcleo central da Província, constituído pelas casas de formação e algumas residências; em segundo lugar, reforçar as missões da Índia que, por se encontrarem em território inglês, podiam ser mantidas e, simultaneamente, procurar novos campos de actividade, principalmente no Brasil.
Depois de terem encontrado abrigo temporário na Holanda e na Bélgica, as principais casas estabeleceram-se em Espanha: o noviciado, juniorado e filosofado em Santa Maria de Oya, na Galiza; o colégio para alunos portugueses em La Guardia, no lado espanhol da foz do rio Minho; a Escola Apostólica em S. Martinho de Trebejo (Cáceres); a redacção da Brotéria e do Mensageiro do Coração de Jesus em Pontevedra.
O exílio não foi impedimento para que a Província Portuguesa mantivesse e até aumentasse os seus efectivos: eram 380, em 1925, com 179 sacerdotes, 84 irmãos e 117 estudantes. Passado o ímpeto persecutório, começaram a reabrir-se cautelosamente, a partir de 1923, algumas residências em Portugal. As casas de formação e o colégio de La Guardia regressaram em 1932. A Constituição de 1933, abolindo as leis de excepção por motivos religiosos, e o decreto de 12 de Maio de 1941, reconhecendo a Companhia de Jesus como corporação missionária, normalizou a situação jurídica dos jesuítas em Portugal.
Ao longo dos anos quarenta e cinquenta, os principais centros da presença dos jesuítas adquiriram a localização que, substancialmente, ainda mantêm. Nos anos setenta, apesar da diminuição de efectivos, incrementou-se a presença ao Sul do Tejo com a inserção em zonas operárias ou carenciadas onde os jesuítas se responsabilizaram por várias paróquias: Portimão, Mexilhoeira Grande, Santo André, Corroios, Paio Pires, Pragal e Charneca da Caparica.
Em paralelo com o que acontecera em tempos mais distantes, os últimos decénios viram os jesuítas portugueses ocupados num amplo leque de actividades: educação e ensino, formação espiritual, trabalho paroquial, missões, meios de comunicação social, presença na cultura e na investigação. Como no passado, surgiram figuras de relevo em vários campos do conhecimento: Luís Gonzaga de Azevedo, Francisco Rodrigues, Serafim Leite, Domingos Maurício e Mário Martins, na História; Eugénio Jalhay, na Arqueologia; João Mendes e Manuel Antunes, na Literatura e na Cultura Clássica; António Durão, António de Magalhães, Paulo Durão, Diamantino Martins, Cassiano Abranches e Júlio Fragata, na Filosofia. A Brotéria continuou a ser publicada regularmente, tanto na série científica como na cultural, e surgiram novas revistas de investigação: Revista Portuguesa de Filosofia, Economia e Sociologia e Revista Portuguesa de Humanidades. A publicação da Verbo. Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura resultou da colaboração entre a Editorial Verbo e as instituições culturais da Companhia de Jesus.
No campo missionário, a Índia Portuguesa contou sempre com a presença de jesuítas enviados de Portugal, até à anexação pela União Indiana, em 1961. A Macau, os jesuítas regressaram em 1930; em 1941, estavam de novo em Moçambique e, em 1961, em Timor. Em Angola, teve início o movimento Afris cujos estatutos foram aprovados em 1963. Foi sobretudo em Moçambique que a acção missionária teve maior incremento, ali trabalhando, em 1974, 78 jesuítas.
A descolonização abalou profundamente a missionação, ocasionando perseguições, a destruição e ocupação de muitas estruturas materiais e o regresso à Europa de muitos missionários. Superados os tempos mais difíceis, criaram-se condições para um renascimento missionário baseado numa colaboração mais alargada com jesuítas de diferentes nacionalidades, com outros religiosos e com grupos de leigos.
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