segunda-feira, março 15

O TERRAMOTO DE 1755


Às 09h30 da manhã no dia 1 de Novembro de 1755, Lisboa sentiu um terramoto de grande escala, que continuou por cerca de 10 minutos, em 3 intervalos de um minuto, que se fez sentir em Setúbal e no Algarve. O primeiro terramoto foi acompanhado de um grande barulho que se transmitiu por toda a cidade. O segundo terramoto, foi o mais destruidor porque vitimou quem ainda não tinha sido atingido e procurava auxiliar os acidentados do anterior. O terceiro terramoto destruiu o resto da cidade. Era dia de todos os santos e a hora era de missa, as igrejas estavam cheias o que provocou que na derrocada das estruturas morressem muitas pessoas. Foi estimado que cinco por cento da população de 270.000 pessoas morreu vítima do terramoto. Muita gente morreu queimada, esmagada, ou afogada nas águas do Tejo que por sua vez criou um maremoto que varreu o Terreiro do Paço e na sua fúria afundou muitas embarcações e por um gigantesco incêndio que, durante 6 dias, completou o cenário de destruição de toda a Baixa de Lisboa. Este terramoto foi a catástrofe natural do século XVIII, que mais afectou Portugal e a Europa, acontecimento que foi tema de uma vasta literatura que se desenvolveu um pouco por toda a Europa, e de que é exemplo o poema de Voltaire Le Désastre de Lisbonne (1756). Lisboa já havia sentido, recentemente, alguns terramotos como o de 1724 e o de 1750, este último precisamente no dia da morte de D. João V, mas ambos de consequências menores. Em 1755, ruíram importantes edifícios, como o Teatro da Ópera, o palácio do duque de Cadaval, o palácio real e o Arquivo da Torre do Tombo cujos documentos foram salvos, o mesmo não acontecendo com as bibliotecas dos Dominicanos e dos Franciscanos. Ao todo, terão sido destruídos cerca de 10 000 edifícios e terão morrido entre 12 000 a 15 000 pessoas.

Foi muito relevante a intervenção decidida do Marques de Pombal que, com o ouro do Brasil, logo mandou iniciar as obras de reconstrução das avenidas da baixa de Lisboa que no tempo foram consideradas desproporcionais, são hoje o ex-líbris da cidade, sendo célebre uma sua frase de resposta a quem lhe perguntou: E agora que fazemos?, ao que ele terá respondido: “ agora... enterramos os mortos e tratamos dos feridos “.

Foi neste contexto de tragédia e confusão que Sebastião José de Carvalho e Melo, então secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, revelou as suas grandes capacidades de chefia e organização ao encarregar-se da restituição da ordem; enquanto as pessoas influentes e a própria família real se afastavam de Lisboa, Sebastião José de Carvalho e Melo (Marquês de Pombal) passou à prática a política de enterrar os mortos e cuidar dos vivos.

Impediu a fuga da população ao providenciar socorros e ao distribuir alimentos. Puniu severamente os que se dedicavam ao roubo de habitações e de imediato começou a pensar na reconstrução de Lisboa. Neste mesmo ano, Manuel da Maia, engenheiro-mor do reino, já se encontrava a estudar o problema da reconstrução e levantava a questão de construir uma nova cidade sobre os escombros da antiga ou construir uma nova cidade em Belém, zona menos sujeita a abalos sísmicos.

Escolhida a primeira das soluções, foi adoptado um modelo em que eram proibidas as obras de iniciativa particular; os proprietários dos terrenos foram obrigados a reconstruir segundo o plano geral num espaço de 5 anos, sob pena de serem obrigados a vender os terrenos.

De um total de 6 plantas traçadas pelos colaboradores de Manuel da Maia, a escolhida foi a de Eugénio dos Santos, arquitecto do Senado da cidade, que chefiou os trabalhos até 1760, altura em que faleceu e foi substituído por Carlos Mardel, arquitecto húngaro imigrado em Portugal.

À cidade medieval de ruas estreitas deram lugar a um traçado racional de linhas rectilíneas em que os prédios têm todos a mesma altura. De toda a cidade pombalina, assim designada por ter resultado da iniciativa do marquês de Pombal, destaca-se a praça do Comércio, majestosa "sala de entrada" na cidade, com a estátua equestre de D. José I, monarca da altura, da autoria do escultor Machado de Castro.

Infelizmente, os Terramotos não eram novidade na zona da cidade de Lisboa que é de grande instabilidade sísmica. A DGMEN menciona só para a Sé de Lisboa, destruições causadas por terramotos nos anos de : 1321 - 1337 - 1344 - 1347 - 1356 - 1755 e no sismo já muito recente de 1969. Foram também notáveis os terramotos de 1724 e 1750.

DGMEN - Direcção Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais de Portugal

Sem comentários: